21 abril 2007

Porque hoje é sábado!...

Gerson Menezes
publixcriativo@hotmail.com

... E porque hoje é sábado só quero falar de flores. Acordei, hoje, tomado por um lirismo incomum, algo que há muito tempo julgava ter morrido em mim. Uma coisa martelava na minha cabeça. A imagem ímpar de Firmino Rocha, perambulando nas noites itabunense, pelos botecos da vida, tendo sempre nas mãos um ramo de flores e na alma, todo o lirismo de um louco que só os poetas conseguem atingir. A forte lembrança do nosso poeta maior me fez querer lembrar os versos da sua ode à infância, “Deram Um Fuzil ao Menino”*, que compõe o painel instalado no rol de entrada do edifício sede da ONU em Nova Iorque.

Eu a conhecia até a última estrofe, de tanto ouvi-lo recitar ao pé do balcão do Ita Bar. A memória me traiu e não consegui lembrar nem da primeira estrofe. Busquei uma velha edição dos “poetas grapiúnas” e também não encontrei. Mas, a bela lembrança daquela que para mim continua sendo uma das mais belas expressões do amor belo e puro, bastou, como justificativa, para alimentar o meu estado de espírito. Acredito que por vivermos em permanente estado de loucura coletiva, existem momentos em que a poesia nos invade a alma, como se a confirmar que de poeta e loucos, cada um de nós tem um pouco!

Ao abrir o caderno “Banda B” do Jornal Agora, que por deferência dos amigos José Adervan e Walmir Rosário, recebo todos os dias na minha porta, li a informação sobre o concurso literário “Bahia de Todas as Letras”, promovido pelas editoras Via Litterarum e Editus/UESC, coordenado pelo professor Agenor Gasparetto. Foi para mim uma grata surpresa tomar conhecimento da existência de um concurso literário entre nós, e que já alcança uma magnitude que extrapola as fronteiras da região sul e ganha os contornos de todo o Estado da Bahia, ao que se pode comprovar pelo número de inscritos em todas as categorias a serem apreciadas.

A poesia faz bem a alma da gente e, por conseqüência direta, também ao corpo. Confesso que prefiro a poesia lírica à poesia moderna. Gosto de sentir nos versos a dor de um amor não correspondido, ou de uma paixão sufocante. Quero ainda sentir em cada estrofe o perfume e as cores das flores. E da rima eu não abro mão. Ela me soa aos ouvidos, como deve ter inspirado aos compositores que musicaram belos versos e os transformaram em melodias divinas.

...E porque hoje é sábado, não custa nada erguermos um brinde à poesia. Declamarmos, mesmo que silenciosamente, qualquer verso que nos venha à lembrança. Falemos de flores, mesmo que seja para que não digam que não falamos de flores, como cantou Geraldo Vandré, em meio ao turbilhão de ferro e fogo dos tempos da ditadura.

Gerson Menezes é publicitário
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DERAM UM FUZIL AO MENINO
Firmino Rocha

Adeus luares de Maio.
Adeus tranças de Maria.
Nunca mais a inocência,
nunca mais a alegria,
nunca mais a grande música
no coração do menino.
Agora é o tambor da morte
rufando nos campos negros.
Agora são os pés violentos
ferindo a terra bendita.
A cantiga, onde ficou a cantiga?
No caderno de números,
o verso ficou sozinho.
Adeus ribeirinhos dourados.
Adeus estrelas tangíveis.
Adeus tudo que é de Deus.
DERAM UM FUZIL AO MENINO.

Um comentário:

Anônimo disse...

Grande Gérson,

parabéns pelo artigo e pela lembrança do grande poeta, além de nos agraciar com o belo poema de Firmino Rocha.

Parabéns.