Adeus ao “painho” da Bahia!
Tem gente que passa pela vida sem deixar marcas. Outras, pelo contrário, são justamente as marcas que delineiam os seus caminhos. Uns até exultam por se fazerem despercebidos. Outros, porém, não sabem viver sem serem vistos.
Aos 79 anos, morreu Antônio Carlos Peixoto de Magalhães. Ninguém como ele soube conciliar amor e ódio, quase em uma simbiose perfeita. Poucos souberam viver tão intensamente pelos caminhos que escolheu. Também, poucos iguais a ele souberam valorizar tão intensamente as suas conquistas e vitórias. Ou amar tão extrapoladamente o povo da Bahia e por ele ser amado, como se fosse um culto místico. Para uns, sacerdote. Para outros, a encarnação do mal.
De um extremo ao outro das virtudes humanas, ACM foi invejado, temido, respeitado e odiado. Combateu com destemor, todos os bons e os maus combates que se interpuseram na sua vida. Forte e dominador para com os amigos, era capaz de gestos de ternura que ninguém poderia supor. Protetor e carrasco, fazia as suas próprias leis, nem sempre justas. Mas, a seu ver, sempre oportunas. Fez-se dono do seu próprio destino e condutor dos destinos de muitos outros.
Hoje, ao morrer, é pranteado nos terreiros do candomblé e nos templos da fé cristã. Por ele, hoje dobram os sinos das igrejas em despedida ao devoto do Senhor do Bonfim, e soam os atabaques que saudosos reverenciam ao – Painho da Bahia, filho de Oxossi.
Cala-se uma voz autoritária e controversa no Senado Federal. Silenciosamente, como se o temessem mesmo depois de morto, os seus adversários políticos e inimigos pessoais se calam em um misto de alívio e temor do amanhã sem a sua presença.
Não teve a paciência de aguardar que após sua morte os historiadores escrevessem a sua história – o fez com as próprias mãos, com as tintas que ele mesmo escolheu. Deixou para a posteridade um legado de atitudes e ações. Nunca, porém, de omissões. Soube sempre escolher os adversários, o terreno e as armas onde e com as quais travou suas batalhas. E mesmo tendo sido vencido em algumas delas, nunca abandonou as armas, nem assinou a rendição.
Partiu ACM para a sua última viagem. Deixou um legado político - sem deixar herdeiros nomeados - cujo destino é incerto. Dificilmente surgirá na Bahia alguém que possua o carisma, a força e a sua determinação, e que seja capaz de conduzir como a um rebanho, os filhos órfãos do estilo que deriva do seu pré-nome: o carlismo. Por quase um século viveu. Por certo, por mais de um século o seu nome será lembrado.
Nunca fui “carlista”. Mas aprendi a admirar, justo pela discordância, o homem político que ACM soube ser para a Bahia e o Brasil. Agora, em um gesto último me despeço, na forma que ele sempre gostou de ser lembrado: - Adeus “Painho da Bahia”!
Gerson Menezes é publicitário
Um comentário:
Foi pro inferno sem escala!!!
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