Ministros do STF são apresentados à lei da selva
O assunto já não é novidade, mas transcrevemos - porque o texto é bom demais - este post do blog de Josias de Souza. Vale a pena.
"Diz-se que o processo é o mundo do juiz. O que não está nos autos não existe no universo, eis a regra do bom julgador. Pois bem, no final da noite desta quinta-feira (7), a presidente e o vice do STF, Ellen Gracie e Gilmar Mendes, descobriram que há mais coisas entre o céu e a página do processo do que pode imaginar a vã filosofia togada.
Gracie e Mendes foram apresentados a um tipo de lei que só conheciam de ouvir dizer: a lei da selva. Deu-se no Rio de Janeiro. Mais precisamente na Linha Vermelha. É via obrigatória dos passageiros que desembarcam em solo carioca.
No caminho que separa a aridez do aeroporto da elegância da zona Sul do Rio, Gracie e Mendes percorreram os quilômetros regulamentares de miséria que margeiam o asfalto. Ao longo de 22 quilômetros, há 17 favelas. Súbito, viram-se no meio de um arrastão.
Ladrões bloquearam a avenida por cinco minutos. Tempo bastante para livrar as vítimas de certos pertences. No caso de Gracie e Mendes, “o limpa”, no dizer próprio da bandidagem, foi “geral”. Incluiu o automóvel.
Presidente e vice do Supremo foram largados ali, noite alta, à beira da estrada. "Foi tudo muito rápido. Eram uns dez bandidos. Cercaram vários carros e roubaram todo mundo. Acho que os ladrões não sabiam quem eles eram", contou uma das vítimas do assalto, que prestou queixa na delegacia.
Gracie e Mendes deram-se conta de quão injusto é o mundo que pulsa fora dos autos. Data vênia, todo cidadão é igual perante a lei da selva. Mas o cidadão abonado, por mais igual, merece tratamento especial.
Por sorte, Gracie e Mendes não tardaram a ser resgatados. Recolheu-os o carro da “segurança”, que vinha mais atrás. Informada de todo o ocorrido -inclusive do nome das vítimas-, a polícia carioca entrou imediatamente em ação. Ainda de madrugada, perseguiu seis suspeitos. Trocou tiros com eles. Dois morreram. Quatro fugiram.
Reza o artigo 1º da lei da selva: Na perseguição à bandidagem pé-de-chinelo, atira-se primeiro; pergunta-se depois. Em meio ao fogo cruzado, safam-se os que têm as melhores pernas, não os melhores advogados, acrescenta um inciso pendurado ao artigo."
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