Cacau
Há pouco mais de 10 anos, quando chegou ao Porto de Ilhéus a primeira carga de cacau importado da Indonésia, uma espécie de ´Exército de Brancaleone´, formado por produtores, empresários e líderes de entidades de classe, se postou em frente ao navio Emenkraft, tentando impedir o desembarque das amêndoas.
A importação dos primeiros grãos de cacau para uma região que se gabava de ser, até pouco tempo atrás, a maior produtora do planeta, foi um golpe não apenas econômico, mas atingiu fundo a auto-estima.
Era mais do que um sinal, mas a maior das evidências do estrago provocado pela vassoura-de-bruxa, doença em que curto período devastou os cacaueiros e mergulhou o Sul da Bahia na pior de suas crises, gerando uma legião de produtores endividados e uma multidão de trabalhadores rurais desempregados.
Invertia-se ali um ciclo, virava-se uma página, embora muitos continuassem acreditando que a queda da safra era uma coisa passageira, que os “anos dourados” voltariam, trazendo consigo todas as riquezas de um fruto que já foi de ouro. Literalmente.
O trem da história, pelo menos no caso (ou no ocaso) do cacau, não andou
De qualquer maneira, a importação de cacau servia apenas para complementar a produção baiana, que no início desta década chegou a dar alguns saltos, realimentar esperanças, embalar sonhos (ou seriam delírios?).
Pois bem: o ano de 2007 está prestes a produzir um cataclisma de simbologia amarga. Se as previsões dos produtores e industriais estiverem corretas -e tudo indica que estão- o Sul da Bahia deverá produzir cerca de 100 mil toneladas de cacau. E importar, pelo menos, 110 mil toneladas.
Os números não mentem. Pela primeira vez na história, a importação vai superar a produção total de cacau da Bahia.
Não é difícil imaginar o impacto da queda na produção na economia regional, especialmente nas pequenas e médias cidades, já que Itabuna e Ilhéus se tornaram pólos comerciais, prestadores de serviços, de saúde e de ensino superior. Ainda assim, não ficarão imunes, pois têm como público-alvo moradores dos municípios totalmente dependentes do cacau.
Não é o apocalipse, nem o final dos tempos.
Também não é o caso, como manda a velha e nem sempre boa tradição grapiúna, de sair promovendo uma caça às bruxas. Destas, já basta a da vassoura.
É o caso, sim, de criar condições para o aumento da produção em patamares realistas, investir em diversificação e explorar potencialidades historicamente desperdiçadas como o turismo, a agroindústria, os biocombustíveis.
Isso passa por mobilização, mudança de mentalidade, políticas públicas eficazes, investimentos. E trabalho, muito trabalho.
Não é, evidentemente, um caminho fácil.
Mas, é melhor do que ficar sentado à beira do caminho, esperando por milagres ou poções mágicas.
Porque, nisso, as bruxas são bem melhores.
Ou, piores.
Daniel Thame
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