29 agosto 2007

Quando o virtual ameaça o real

Celina Santos

No infinito labirinto da Internet, abundância de informação, possibilidade de lançar e receber mensagens dos mais variados conteúdos. Liberdade é a palavra de ordem quando se navega na rede mundial de computadores. Já não estamos mais no tempo em que produzir comunicação era um privilégio de poucos. Hoje, qualquer pessoa pode postar imagens, sons e textos na web. Há quem diga, inclusive, que a antiga máxima “penso, logo existo” agora é traduzida pelo “posto, logo existo”.

Porém, o nível de liberdade proporcionado pela Internet é alvo de preocupação em todo o mundo. Em alguns países é terminantemente proibido acessar a rede e em outros é necessário autorização do governo para navegar na web. Aqui no Brasil, onde não havia empecilhos à navegação, instituições já começam a estabelecer limites através de filtros que bloqueiam o acesso a determinados sites. Assim, universidades, algumas lan houses e até residências vêm buscando providências para conter o mergulho no mundo virtual.

Pais e professores demonstram sentir-se ameaçados, porque na internet há uma ampla oferta de sites que defendem a pedofilia, o racismo, o nazismo, entre tantas outras manifestações pouco aprazíveis. Estes endereços eletrônicos são usados como espaços para articulação de crimes e como meios de seduzir pessoas para caminhos tortuosos. Há famílias que, além dos filtros, já recorrem até a detetives para descobrir por onde os filhos andam navegando.

Um dado curioso até poderia servir como justificativa para tal preocupação. Segundo uma ONG internacional de combate à pedofilia, o Brasil está em quarto lugar em número de páginas consideradas “janelas abertas para crimes, vícios e preconceitos”.

Por todos esses motivos, a net vem sendo estigmatizada como algo ruim. É comum ouvir pessoas dizerem: “A internet é um perigo! Ali se encontra tudo de bom e de ruim!” Ora, mas na vida também não é assim? Será mesmo que a restrição à liberdade de navegar é o melhor caminho para evitar que os internautas se percam nos “maus caminhos” da web?

Fazendo uma comparação com o mundo real. Prendendo os filhos em casa, impedindo-os de sair com os amigos, tolhendo a liberdade, os pais conseguem evitar que eles tenham atitudes que gerem más conseqüências à sua vida? Parece que proibir, tolher, cercear não é a melhor receita para se garantir um caminho saudável, seja no labirinto da internet, seja na estrada da vida.

A preocupação do real com as possíveis ameaças do mundo virtual é para ser pensada sim. Entretanto, talvez não seja o caso dos pais vigiarem 24 horas por dia o acesso dos filhos à internet. Há a necessidade de se trabalhar incessantemente na formação de valores nos filhos. Seja na internet ou na vida, eles encontrarão sempre caminhos bons e caminhos maus a seguir. Não há como evitar isso.

O que faz a diferença é a capacidade de fazer escolhas condizentes com a consciência de cada um. Consciência essa que é fruto também do aprendizado adquirido ao longo da convivência familiar.

Com bom senso e maturidade, não há virtual que ameace o real. Temos – e devemos sempre ter - a liberdade às nossas mãos. Porém, a falta de discernimento é que pode funcionar como um cabresto a impedir que aproveitemos as facetas positivas presentes na internet e também no mundo real.

Celina Santos é formada em Comunicação Social e pós-graduanda em Jornalismo e Mídia pela Facsul

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