Estado letárgico de uma nação
Por Francisco Aleluia *
Passa ano e sai ano e nós, brasileiros, nos acostumamos ao descaso, a não dar muita importância às coisas que nos rodeiam e que, devido a esse nosso desinteresse, passam a fazer parte do nosso fatídico cotidiano.
E assim passamos a agir na vida pessoal, em comunidade, na política, na vida profissional, no nosso lazer, na família, na vida afetiva, nos negócios, com a saúde, dentre outras coisas que, se aqui formos enumerá-las passaremos o dia inteiro.
Tudo nos parece ser coisa banal, dado ao casuísmo, à fatalidade e que, por sermos brasileiros e pensarmos que Deus também comunga da mesma nacionalidade, tudo se ajeitará no final. Tolices.
Já é comum dizermos e aceitarmos que brasileiro deixa tudo pra última hora, prova disso são nos momentos em que somos convocados a fazer um recadastramento, declarar um imposto de renda, votar, estudar para um importante concurso. Parece que quanto maior for o corre-corre melhor será para nós pois, quem nos vir nessa desenfreada agonia – talvez você que me está lendo agora – imagine o quanto somos esforçados na vida.
Mas o que ele, expectador da vida alheia, não sabe é que estamos dando sinal da nossa desorganização pessoal, intelectual, afetiva; prova da nossa grande incúria no trato com as coisas que, bem sabemos, servirão para tornar melhor as nossas vidas e de pessoas próximas a nós.
Somos enganados todos os dias pelas mesmas pessoas que, há anos, ajudamos a permanecer nos gabinetes de prefeituras, do Congresso Nacional, no Senado, nas Câmaras de vereadores e nem sequer nos importamos com o que eles fazem com o mandato que lhes conferimos. A quem, pergunto e me respondo, estamos enganando senão a nós mesmos?
Sou obrigado a pensar nesse momento de tão vastos e incômodos acontecimentos, não vejo outra forma, que estamos acometidos de um estoicismo barato, de uma falta de interesse coletivo pela causa pública. Tudo que é público, na prática, ou não presta ou não nos interessa, não se vale a pena preservar. É do governo! Coisa desse tipo.
Se alguém joga uma ponta de cigarro numa rua que acabara de ser varrida e outra pessoa reclama, ouve-se logo, de imediato, a resposta: e daí, a rua é pública, como se o público não fizesse parte do coletivo e nem fosse fruto de ‘contribuições’ de uma sociedade composta de cidadãos trabalhadores que, às duras penas, mantêm essa estrutura burocratizada de governo que chamamos Brasil.
Parece até engraçado (mas não é risível), se analisarmos os linguajares econômicos veremos que, na verdade , somo voluntários chamados a ajudar o país a manter essa estrutura política, a pagar as grandes contas feitas por esses mesmos inescrupulosos políticos em quem votamos pois eles se acham os todo-poderosos que podem decidir por uma Nação tão grande e com uma cultura tão diversificada como a nossa a partir do Planalto, num centralismo forma do comum.
Nós que somos obrigados a pagar altas taxas – diga-se de passagem, impostos – somos chamados de, dado aos linguajares econômicos, “contribuintes” e, ao meu ver, quem contribui é voluntário, e como tal, tem que aceitar os reversos das decisões políticas nem tanto acertadas. E o pior é que nós brasileiros nos acostumamos a esse estado letárgico da não participação política, do não questionamento das decisões tomadas por nossos governantes.
Tomo como exemplo a minha querida cidade que, ao longo desses vinte anos, devido a essa nossa postura de carneiros, deixamos de produzir lideranças. Hoje não temos uma sequer para fazer frente a essas duas figuras que estão dominando a política local numa alternância de poder que somente a eles e aos integrantes dos dois grupos interessa. É, pelo visto, ainda não nos livramos da figura do coronel que por muito tempo imperou em nossa região. Mesmo assim, vejo dias melhores para nossa cidade.
Não quero aqui fazer apologia ao anarquismo desenfreado e nem conclamar aos cidadãos uma revolução desmedida, não. Entendo que o brasileiro, em especial nós baiano de Itabuna, seja mais participativo, conheça os mecanismos que fazem a sua comunidade, a sua cidade caminhar; que, juntos, quer em associações, em grupos de igreja, ongs e grupos afins, formemos comissões capazes de fiscalizar e questionar as nossas autoridades políticas ao que diz respeito à coisa pública.
Já nos bastam os apagões aéreos, os descontroles dos controladores de vôos e das autoridades superiores; a estupidez de um ministro ao declarar que tudo isso é fruto do desenvolvimento; de Secretaria de Ações de Longo Prazo; do conselho ministerial de que o que se deve fazer é ‘relaxar e gozar’, como se o gôzo fosse uma atividade banal, sem vínculo algum com a felicidade humana; as investidas de um presidente do senado que quer manter-se no cargo a qualquer preço.
Mas, com sinceridade, nós somos responsáveis por tudo isso, quer os do norte, sul, sudeste, centro oeste, nordeste, letrados ou não. Somos, todos, uma só nação, um só país sofrendo os mesmos espasmos agônicos do desemprego, da insegurança, da falta do que comer, do que falar, da falta de vergonha e do descompromisso. Mas como aqui ninguém sabe de nada mesmo, não nos molestaremos em saber.
Francisco Aleluia é sargento da Polícia Militar lotado no 15º BPM, em Itabuna, árbitro de futebol, ex-presidente da AAFI, 1º Vice-presidente da Liga Itabunense de Futebol e é formado em Comunicação, no Curso Técnico de Redator, no Colégio Polivalente de Itabuna.
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