02 agosto 2007

O presidente se faz surdo

Gerson Menezes
publixcriativo@hotmail.com

Dia 13 de julho de 2007. Este não foi um dia como outro qualquer.

Na cidade do Rio de Janeiro, no Estádio do Maracanã lotado, abriam-se as cortinas para o início da maior festa esportiva das Américas, o PAN – Rio 2007. Presentes muitos governantes dos países participantes e as delegações numerosas das maiores nações do continente e até as minúsculas. As Américas estavam ali representadas.

O Rio de Janeiro, e porque não dizer o Brasil, no seu conjunto estava ali representado. Presente estava o Presidente Lula, grande benemérito, que generosamente deu ao Rio de Janeiro a estrutura capaz de sediar um evento de tamanha envergadura. Lula foi de tamanha generosidade que nem mesmo as denúncias de superfaturamento das obras fizeram com que diminuísse o fluxo dos recursos dos cofres do governo.

Lula queria mais do que ninguém mostrar às Américas e ao mundo que o Brasil que ele governa está pronto para ser alçado à classificação de país do primeiro mundo. Faltava isto à sua ambição de estadista líder da América do Sul, e quiçá das três Américas.

O palco estava montado para a grande consagração universal. Tudo parecia correr bem: - Até as facções criminosas que se refugiam nos morros cariocas tinham assinado o armistício de trégua. Eis, então, que ao ser anunciada a presença do presidente Lula no estádio, das arquibancadas lotadas irrompe estrepitosa vaia. Os membros do cerimonial da presidência analisaram rápido que algo de errado estava acontecendo e, de imediato, trataram de cancelar a fala do presidente na abertura oficial dos jogos.

Mas, por uma infeliz falta de comunicação, nada foi comunicado ao presidente do Comitê do PAN que, cumprindo à risca o cerimonial, anunciou a fala do presidente – Ai, então, as vaias foram mais estrondosas. O estádio do Maracanã quase veio abaixo. Lula, visivelmente constrangido, ainda tentou balbuciar as primeiras palavras, sob o olhar atônito e incrédulo da sua esposa, Marisa, que não escondia sob a maquiagem as lágrimas que escorriam pelo rosto.

O que afinal aconteceu? Teriam as elites brasileiras de todos os rincões desse imenso país, desejosas de um “terceiro turno”, combinado através da Internet, se reunir naquele local, em dia e hora aprazados, ocuparem estrategicamente os principais pontos das arquibancadas e, unidas pelos mesmos propósitos ditos político, orquestrarem tão estrepitosamente as suas frustrações com o governo do Presidente Lula, aproveitando-se da ausência ali das mais de 11 milhões de famílias pobres que fazem parte do cadastro do Bolsa Família?

Nego-me a acreditar que os mais de dez mil ingressos distribuídos pela Petrobras e Caixa Econômica Federal não tenham sido estrategicamente entregues ao povo de Lula, ou, que eles tenham se deixado contagiar pela “ovação” da elite. Também me nego a acreditar que este gesto nada tenha de democrático, conforme afirmaram os líderes do governo. Também não acredito que Lula e os membros do seu “gabinete de crise” tenham feito uma avaliação tão simplória do fato.

Ao que tudo está a indicar, promovidos ou não pelas elites, as manifestações de desapreço começam a pipocar por todo o país, onde quer que o presidente esteja. Surge em São Paulo um movimento intitulado: - Cansei! Formado por ilustres e desconhecidos membros das elites brasileiras. Por mera coincidência ou não, as elites, que mais têm lucrado ao longo dos governos Lula, não podem estar cometendo a loucura de “matar a galinha dos ovos de ouro”.

Modestamente, acredito que a luz amarela foi acessa. Basta que se retome a história recente da política brasileira e, relendo-a, observe-se que foram essas mesmas elites que patrocinaram e puseram em movimento por todo o país, a máquina esmagadora da opinião pública, que derrubou Collor de Melo.

As ações e manifestações dentro da lei, mesmo que a uns desagradem, não deixam de ser manifestações democráticas. O importante é o governo saber ouvi-las, analisá-las e a todas elas saber dar a devida resposta. Fazer ouvidos de mercador e gritar novamente palavras de ordem não me parece o melhor remédio.

Gerson Menezes é publicitário

3 comentários:

Anônimo disse...

Terra Magazine - Na noite da última sexta-feira, durante o casamento de Sophia - filha do ex-governador Geraldo Alckmin, de quem o sr. foi vice -, o sr. disse ao repórter José Alberto Bombig, da Folha, que o movimento conhecido como "Cansei", nascido em protesto contra a crise no setor aéreo, a violência e a corrupção, é um movimento de "um pequeno segmento da elite branca" e nascido em Campos do Jordão. O que o sr. quer dizer com isso e o que o leva a ter essa convicção?

Cláudio Lembo - O próprio ato de nascimento do movimento. O "Cansei" nasce conduzido por figuras conhecidas que sempre possuíram e possuem uma visão elitista do país e da sociedade.

A quem ou a quê o sr. se refere?

Por exemplo, ao sr. João Doria Jr., que só trata com os grandes empresários do Brasil, e que, até onde sei, só se relaciona com o topo da sociedade. Suas ações e relações estão sempre nesse nível, que representa uma parcela ínfima do Brasil.

Mas a sua convicção se forma apenas através das suas informações, do seu feeling?

Meu ou de qualquer um. Basta ver a forma, a expressão, o verbo utilizado para dar sentido ao movimento. "Cansei" tem um sentido muito próprio.

Que "sentido próprio" é este?

"Cansei" é um termo muito usado por dondocas enfadadas em algum momento das vidas enfadonhas que vivem.

O sr. tem, certamente, a consciência de que nesses movimentos, o "Cansei" ou o "Cria", há a participação de familiares de vítimas dos acidentes aéreos?

Tenho consciência e isso me deixa mais triste ainda.

Por quê?

Porque é a utilização de um movimento natural e de motivos nobres por movimentos e atividades com claro objetivo político ainda que tentem escondê-lo ou apesar de o negarem, e isso não é bom.

Não é bom por quê?

Não é bom porque as vítimas, os familiares, os acidentes comoveram o Brasil e produziram, inclusive na sociedade, uma dor imensa, enquanto o movimento de Campos do Jordão o que quer é ter espaço na mídia etc.

Por que Campos do Jordão?

Pela figura de um dos organizadores centrais, senão o principal, ao menos no início.

O que exatamente o sr. está querendo dizer?

O empresário João Doria Jr., ao que li e acompanhei nas últimas semanas, há pouco dedicava-se a um desfile de cãezinhos de madames em Campos do Jordão (N.R.: Foi o 6º Passeio de Cães de Campos do Jordão, no dia 7 de julho).

Mas o sr. não ignora que há motivos claros e justos para que pessoas protestem, se manifestem...

Claro que não. Mas, antes de qualquer coisa, é preciso deixar claros quais são os motivos, qual é a justeza deles, e não sair propositadamente atacando sem dizer exatamente o que se quer e a favor ou contra quem. Há motivos muito grandes, justos, e creio que há um clima, em várias camadas da sociedade, de colapso dos serviços públicos.

E por que esse clima de colapso? Culpa do governo?

É difícil dizer, assim de passagem. Falo de um clima, mas é claro que o motivo não é só esse. Isso vem de há muito.

Como e por quê?

A reestruturação dos serviços públicos brasileiros partiu de uma cópia servil do modelo norte-americano, ou por eles imposto, e não encontrou raízes no Brasil. Isso nos últimos 20 anos e se agravou nos últimos 10 anos muito profundamente.

Me dê exemplos do que o sr. está dizendo.

Pois não: as agências como a Anac, Anatel, ANP, e ONGs. Nos Estados Unidos as agências tinham e têm uma cultura ambiente favorável e as ONGs, em grande parte, nasceram para fiscalizar o governo. No Brasil as agências apenas servem para abrigar os interesses de empresas privadas, e ONGs, em sua maior parte, são apêndices de governos.

Anônimo disse...

Quanta propriedade do colunista tucano para falar dai do que acontece aqui...
Tsc. tsc. tsc.

Anônimo disse...

LUZ AMARELA!!!!

Que pena, pirou o cabeção.