Ciclistas, onde eles estão?
Roger Sarmento
O trânsito nas cidades, em especial nas metrópoles, é caótico. Mesmo sendo veículo dos mais rápidos, os carros têm velocidade média baixa porque há muita perda de tempo nos engarrafamentos que são cada vez maiores, isso sem falar do tempo que se gasta para achar uma vaga de estacionamento. A indústria aumentou a velocidade dos automóveis, mas se esqueceu de em parceria com os governos, investirem em tecnologia rodoviária e de logística.
Muitos motoristas não percebem, mas aquele ciclista que ele acabara de ultrapassar, cem, duzentos metros adiante deixará ele para trás e desaparecerá por entre as filas de carros parados no semáforo. Quase sempre a vantagem da velocidade final dos automóveis esbarra em outro veículo quebrado ou empacado por causa de um acidente e coisas parecidas.
É por essas questões e outras de peso sócio-ecológico que as bicicletas passaram a integrar a política de mobilidade sustentável em nível federal. É um programa do Ministério das Cidades chamado de Bicicleta Brasil. O uso das magrelas complementa as necessidades de deslocamento, civiliza o trânsito e racionaliza o uso de energia.
Em 2001, a Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes (GEIPOT) realizou um levantamento sobre a importância da utilização da bicicleta como modo de transporte em 60 municípios brasileiros, intitulado Planejamento Cicloviário: Diagnóstico Nacional. Esses dados revelam que quase dois terços da frota de bicicletas são utilizados como modo de transporte da classe operária e estudantes.
Além da infra-estrutura, o grande problema em muitas cidades é a falta de educação para o trânsito, que aos poucos está sendo municipalizado. Na semana de 14 a 18 de abril foi realizada em Itabuna a Semana Municipal do Trânsito. Na programação, a referência aos ciclistas não passou de periférica, marginal e incompleta.
Lamentável, porque notamos que o poder público está completamente despreparado para formular um plano diretor de trânsito que contemple a bicicleta como veículo e meio de transporte complementar. Um reflexo da lógica do automóvel que domina a cabeça de quase todas as pessoas, inclusive das autoridades de trânsito.
Isso gera um círculo vicioso de ignorância que contribui para aumentar o grau de insegurança nas vias públicas, onde os ciclistas não são respeitados como usuários e por sua vez não se sentem obrigados a respeitar as leis de trânsito. Também não estão devidamente organizados. As associações que existem, quando atuam, agem como grêmios recreativos e não de forma política.
Os ciclistas são uma classe de usuários da via pública, têm demandas cada vez mais agudas e ainda não dispõe de mecanismos de pressão política e social. Essa é uma realidade que precisa mudar em cidades de médio porte como Itabuna, Ilhéus, Porto Seguro, Eunápolis e Teixeira de Freitas, só para citarmos as mais importantes do sul e extremo sul do Estado.
Roger Sarmento é repórter, ciclista e graduado em filosofia.
2 comentários:
Parabéns Roger! Ótimo texto, realmente precisamos olhar as coisas por esse ponto de vista. Com isso, as cidades só têm a ganhar.
Parabéns pelo olhar de ciclista para o ciclismo as vezes nem mesmo nós que usamos bicicletas como meio de transporte, damos conta de como poderia ser diferente se todos tivessem esta informação e comportamento. É uma pena que as autoridades não atentem para isso.
Abraços !
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