30 novembro 2006

"É grave mesmo"

Daniel Thame*

“Trata-se de um fato da maior gravidade. É o governo que está dando dinheiro para a empresa da qual Lula Filho é sócio”

A afirmação é do senador Antonio Carlos Magalhães, comentando a denúncia publicada pelo jornal Folha de São Paulo, dando conta de que o filho do presidente Lula seria beneficiário, de forma indireta, de verbas publicitárias destinadas pelo Governo Federal para a Rede Bandeirantes, com a qual Lulinha mantém uma parceria na exibição de programas.

O acordo entre a Bandeirantes e Lulinha é público e não fere a lei. Pode até ser questionável do ponto de vista ético, embora o que a Folha venha fazendo mesmo é uma oposição sistemática a Lula, alimentando uma espécie de 3º turno que até o PSDB e o PFL já deixaram de lado.

Mas, a questão que se quer tratar aqui é outra: desde quando o senador ACM tem condições de questionar supostos benefícios de verbas publicitárias do setor público para determinado órgão de imprensa ou mesmo para familiares de quem quer que seja?
O senador deve imaginar que a opinião pública seja composta, em sua maioria, por debilóides. Uma legião de desmemoriados.

Na década de 80, ACM “ganhou” o direito de retransmitir a programação da Rede Globo na Bahia depois de “presentear” Roberto Marinho com a NEC, quando era o poderoso Ministro das Comunicações e um dos homens fortes de Sarney. A TV Aratu, que com a Globo mantinha uma estável e bem sucedida parceria, foi praticamente chutada pela rede carioca.

Ancorada na programação global, a emissora da família do senador gerou outras emissoras e transformou-se numa rede estadual. Com isso, passou a absorver a quase totalidade da publicidade do Governo Estadual, comandado pelo próprio ACM ou por um de seus apadrinhados, como César Borges e Paulo Souto.

Da Rede Bahia ainda se pode alegar a audiência quase monopolista. Mas, o que dizer do jornal Correio da Bahia, também de propriedade da família ACM? Mesmo com tiragem inferior a seu concorrente distante, o jornal A Tarde, sempre carreou quase todas as verbas destinadas à mídia impressa.

A Tarde, desde que passou a fazer oposição ao governo estadual, não recebeu um mísero centavo. Além do Governo do Estado, prefeitos ligados ao carlismo eram “incentivados” a (não) anunciar e manter assinaturas do jornal.

*Jornalista.

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