12 abril 2008

Vergonha alheia

Karol Vital

A primeira vez que ouvi a expressão “vergonha alheia” foi num programa da MTV, apresentado por Marcos Mion. Ele usou o termo ao descrever o constrangimento que sentiu ao ver Ivete Sangalo e Rogério Flausino imitando o personagem Barbosa, de Ney Latorraca, quando apresentaram um dos prêmios do VMB. Foi uma cena tão constrangedora que só eles riram. Daí, o Mion descreveu o sentimento: vergonha alheia.

Sentir vergonha alheia é quando nos envergonhamos ao ver alguém se envergonhar. É mais do que ficar sem graça. É compartilhar o sentimento causado por uma situação embaraçosa. É quando a gente não sabe se ri, chora, esconde a cara ou dá vontade de “cuspir no chão e sair nadando”, só para fugir do constrangimento de assistir alguém fazendo bobagem.

Uma das maiores “vergonhas alheias” que já senti foi na última série do ensino médio. Lembro que tinha um professor todo gaiato. Em todas as aulas, contava uma piada, dava ousadia para os alunos brincarem com ele também.

Só que na minha turma tinha um menino mais saidinho que o professor. Era ele que falava mais alto, puxava os “sambões” no fundo da sala, dançava sempre que tinha algum evento e se considerava amigo de todo mundo. Além disso, ele se achava muito engraçado e gostava de tirar sarro das pessoas. Mas o dia dele ser sacaneado estava chegando.

Numa das aulas do professor “descontraído”, o meu colega irreverente resolveu levantar a mão para fazer uma pergunta. O mestre deu permissão para ele falar:

- Professor, como é que sua irmã dança? – perguntou, com um sorrisão nos lábios.

O professor franziu a testa, apoiou-se sobre a mesa e, muito sentido, respondeu em tom de reprovação:

- Rapaz, que brincadeira sem graça! Minha irmã é deficiente.

O sorriso do garotão foi se desfazendo em câmera lenta. Os olhos, esbugalhados, demonstraram a surpresa da resposta e disse, tentando se corrigir:

- Não, professor. Foram os caras aqui que me mandaram perguntar – explicou, todo desconcertado, e falando bem mais baixo.

A sala inteira ficou boquiaberta diante da cena assistida. No meio do burburinho que se formou, ouvia-se “vixe”, “que situação”, “isso é que dar ser gaiato” e o clássico: “Que mico!”.

Eu fiquei com a cara quente, de tanta vergonha que senti pelo colega. Ele era meio inconveniente, mas aquele foi um dos maiores foras que alguém poderia dar. Só anos mais tarde é que fui aprender o nome para definir o sentimento: vergonha alheia.

Porém, a situação vexatória do colega logo foi aliviada. Após uns cinco minutos de tensão do ocorrido, o professor pára de escrever no quadro, volta-se para o colega envergonhado e diz:

- Ó, eu perdôo sua brincadeira. Eu não tenho irmã, mesmo! – disse, com um sorriso sarcástico.


Karol Vital é comunicóloga.

3 comentários:

Unknown disse...

Sabe já está na hora de vc escrever um livro? Suas crônicas são maravilhosas e vc escreve muito bem.
Muito sucesso na vida....

Anônimo disse...

hahahahahahahahahahahahahahahahaha...
que situação!
beijokas

Anônimo disse...

ayuehauehuaheuhae
isso ja aconteceu comigo
o professor que fez a brincadeira foi de fisica Sergio Ricardo