"Por que ele venceu" II
Qual é o segredo?
O presidente tem consciência de que ganhou sozinho essa queda-de-braço. Não é que ele tenha vencido "apesar da mídia", como gosta de dizer. Ele ganhou "apesar do PT". E abraçado ao Bolsa-Família, programa que repassa dinheiro mensalmente a 11 milhões de famílias no país. Ele deixou de ser o líder urbano das centrais sindicais - uma elite entre os trabalhadores brasileiros - e adotou os descamisados, os marginalizados, os despossuídos. O mapa da vitória e derrota nos Estados é um retrato sem retoques de uma mudança de olhar, um foco nos "sem nada".
Pragmático, do signo forte de escorpião, Lula explicou, no primeiro pronunciamento após a reeleição, o motivo de sua vitória: "O povo sentiu na mesa, no prato e no bolso a melhora de vida". Somado ao aumento real do salário mínimo, à estabilidade da inflação e à queda no preço dos alimentos, seu programa assistencialista produziu uma sensação de conforto na massa de deserdados no Brasil. Deles, Lula recebeu um "voto de retribuição" pela vida melhor. "A família de Lula cresceu muito.
Agora, são 180 milhões", afirmou o irmão mais velho, Frei Chico, 26 quilos mais magro após o último infarto. Frei Chico, apelido de José Ferreira de Melo, é o irmão que insistia com o Lulinha moleque para que lesse mais, jogasse menos futebol, visse menos novela, namorasse menos. Eis seu alerta para o irmão que não consegue ver há meses: "A gente precisa convencer o Lula de que presidente não pode ter amigos. Os piores são os amigos de última hora, que falam bem na frente dele e por trás tentam sacanear, traem descaradamente. Uma parcela tenta tirar proveito, influenciar. Outros ajudam de uma forma tão torta que acabam passando por burros".
No primeiro mandato, o principal pecado de Lula, apontado pelos companheiros, foi a condescendência com o primeiro time, como os ex-ministros José Dirceu, Antônio Palocci, Luiz Gushiken, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha. "O presidente esteve muito conivente com os mais próximos. Deu crédito infinito", diz um petista do governo. Mais importante interlocutor de Lula com o PSDB, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, sente no amigo mais nervosismo: "Lula ainda tem sonhos, mas já não se ilude".
O presidente terá de se proteger dos aduladores de plantão, que acharam "excelente" quando ele quis punir o jornalista do New York Times Larry Rother por ter mencionado seu gosto especial por bebida alcoólica ou quando Lula decidiu ausentar-se de debates no primeiro turno. Duas decisões infelizes, duas cascas de banana. "Há um séquito de puxa-sacos que não o deixam abrir uma maçaneta, mas que não terão poder algum no segundo governo", diz um ministro otimista.
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Revista Época 06/11/2006
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