03 novembro 2006

Sem trégua

O apelo para deixar o homem descansar não será mesmo atendido pela imprensa. Lula apanha todo dia e está claro que a estratégia é esfolar a boa relação do presidente com o povo. A favor do barbudo, está o fato de ter apanhado durante mais de um ano, sem prejuízos significativos à sua imagem. Pelo contrário, o homem confirmou a fama de bolo ("quanto mais bate, mas cresce").

As férias presidenciais na Base Naval de Aratu são intensamente bombardeadas na imprensa, com direito a aparições de Lula de sunga, andando na praia ou tomando banho de mar. Normalmente, essas imagens são exibidas depois de matérias sobre o caos nos aeroportos, causado pela operação padrão dos controladores de vôo. A intenção é óbvia.

O Jornal Nacional de quarta-feira também bateu na saúde, enfatizando a redução em mais de 5% do número de leitos hospitalares. Lá no meio da matéria, bem disfarçadamente, cita que essa diminuição ocorreu nos hospitais particulares, que obviamente sofrem com os baixos valores pagos pelo SUS. Outro detalhe que os editores deixaram em segundo plano, apesar de sua inequívoca importância: o número de unidades básicas de saúde no Brasil aumentou em mais de 16% entre 2002 e 2005. Colocaram a informação por colocar, sem muito interesse, só para dar um cheiro de isenção à matéria.

Os editores do JN não se preocuparam em dizer que a saúde pública no Brasil tem priorizado o aspecto preventivo, daí o crescimento das unidades básicas de saúde, que ficam nos bairros e servem como uma espécie de filtro. Muitas pessoas resolvem seus problemas nas UBS, sem precisar chegar ao hospital. Programas como o Bolsa-Família também exigem que seus beneficiários tenham acompanhamento de saúde, o que ocorre nas UBS.

Mas o JN preferiu descer o pau no governo, enfatizando o que aparenta ser numericamente negativo e escamoteando a mudança no sistema. Se não é possível dizer que está tudo bem, é desonesto não reconhecer ações positivas, como a própria melhoria da atenção básica e a implantação do Samu e da Farmácia Popular.

Ainda fecharam a matéria com uma mulher revoltada por não ter conseguido vaga em um hospital. Logo depois, matéria sobre Lula e as discussões sobre o futuro ministério. Tudo coladinho, para a cara do presidente aparecer na sala quando o telespectador ainda guardava a revolta, apesar da informação truncada.

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