Só para não dizer que não falei em flores...!

Gerson Menezes
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A imaginação do povo chega a ser divinamente sábia. Quando um simples homem ou mulher do povo repete a expressão “Quem flores planta... flores haverá de colher!” está reproduzindo uma citação bíblica atribuída ao Cristo: “Com o suor do teu rosto colherás os frutos do teu trabalho”.

Nada dignifica mais a alguém do que viver com os frutos colhidos no seu trabalho laborioso. Pena que, no entanto, muitos façam em proveito próprio uma corruptela desse sábio ensinamento e considerem os seus esforços oportunistas e desonestos como laboriosos.

Penoso também é que essa deformidade moral venha se disseminando entre os povos de maneira geométrica, por conta do “sucesso” que muitos desses indivíduos alcançam, fazendo crer que a quase profecia de Ruy Barbosa (“... chegará o dia em que o homem honesto sentirá vergonha em ser honesto...”) está se concretizando.

No entanto, o que mais me incomoda e preocupa é que esses indivíduos, mesmo conquistando os seus objetivos, negam-se a aceitar o “título ou pecha de desonestos ou espertos” que tanto lutaram para conquistar. Fingem-se ofendidos, ameaçam e até destroem a vida dos que ousam erguer a voz e apontar as suas ações ignóbeis.

Sinceramente, não consigo entender porque não se orgulham dos seus feitos, assumem contentes o “status” conquistado e se deliciam prazerosamente com o “odor” que emana da sua colheita, assim como o lavrador exulta com o “perfume” das rosas, que mesmo com espinhos, foram colhidas laboriosamente em seu jardim. Talvez, só talvez, esses indivíduos se envergonhem dos seus feitos em um resquício de dignidade que ainda lhes resta.

Não me incomoda ter que viver com eles e entre eles. No entanto, me reservo ao direito de plantar e colher, mesmo que modestamente, as minhas flores. Repito aqui mais uma expressão da sabedoria do povo: - “Mesmo que seja preciso conviver entre os porcos, nego-me terminantemente a comer com eles a mesma ração e a chafurdar na lama”.

Não quero com isso dar lições de moral a ninguém. Foi só para não dizerem... Que não falei em flores.

Gerson Menezes é publicitário