26 setembro 2006

Acredite: Collor está de volta. E não está só.


Maurício Maron, de Maceió-AL

De punhos cerrados e repetindo a histórica frase “Não me deixem só”, elle está de volta. Sem Roseane, com cabelos pintados, casado outra vez e pai de gêmeas. O que efetivamente mudou foi a forma de se apresentar à população. Abriu mão das grandes produções televisivas que marcaram a sua candidatura à presidência da República. No nanico PRTB, Fernando Collor de Melo usa o seu (restrito) tempo do Guia Eleitoral com um jingle antigo, da época em que foi governador do estado e ganhou notoriedade política como “O Caçador de Marajás”. Para alguns analistas políticos de Alagoas, este “novo” estilo é a forma encontrada pelo candidato, reconhecidamente bom de marketing, para assumir o recomeço da sua carreira política.

Como “o tempo é senhor da razão”, dia primeiro ele pode se eleger senador pelo estado de Alagoas, ironicamente na vaga que será deixada por uma das suas maiores algozes: a senadora Heloísa Helena. Fernando Collor é um fenômeno eleitoral. Enquanto todos os seus adversários começaram a disputar a eleição há pelo menos seis meses, o “Senador do Povo” – slogan de campanha – ficou na moita e em silêncio. Esperou o desenrolar dos acordos políticos, deixou o Guia Eleitoral se iniciar em agosto e há apenas 15 dias, fez a sua primeira aparição na televisão. Daí, as ruas. Até então, o PRTB não tinha candidato e apresentava no Guia Eleitoral o número da sua legenda e Alagoas inteira tinha a convicção de que mais ninguém poderia interferir na eleição do ex-governador Ronaldo Lessa, que chegou a aparecer nas pesquisas com 63 por cento de intenção de voto.

Em duas semanas, Collor mudou o quadro eleitoral. Segundo o Instituto Gape, Collor já é o líder. Teria 44 por cento das intenções de voto, contra 28 do ex-governador Lessa que, além do adversário, luta contra um processo de inegibilidade, imposto por seus adversários. O fenômeno Collor aparece, segundo os analistas, por dois motivos: a popularidade junto ao eleitorado pobre de Alagoas e, sobretudo, pelo discurso que vem apregoando, em cima de um caminhão, desses modelos que transportam trabalhadores de cana-de-açucar. “Fui destituído do poder, por muitos desses que hoje estão aí, envolvidos em denúncias de corrupção. Saí da presidência, porque não paguei propina como estamos vendo todos os dias neste País”, diz o ex-presidente cassado. “Quero que vocês me dêem uma oportunidade de voltar. Chegar ao senado, olhar para estas pessoas e dizer, safados, vocês tentaram me tirar seus ladrões, mas eu estou de volta. Vou dar um pontapé na b.... deles em nome da minha honra”. Neste comício, só foi interrompido por gritos e palmas de eleitores apaixonados.

No palanque improvisado, dança, abre os braços, sorri incansavelmente, fecha as mãos, pega o microfone e canta com a massa que vive em um dos estados mais pobres do Brasil, a “minha (dele) gente”. No encontro com jornalistas, confirma o voto em Luís Inácio Lula da Silva, o metalúrgico que foi o seu maior “calo” enquanto esteve na presidência da República. O certo é que em toda Alagoas, Fernando Collor renasce das cinzas, alicerçado em um carisma inexplicável e no discurso cada vez mais convincente de que “caiu” do poder, anos atrás, vítima de muitos que ainda permanecem nele, em Brasília. Pode até dia 1º de outubro não ganhar nas urnas. Mas, decididamente, pelo que se pode ver nas ruas de Alagoas, Collor está de volta. E não está só.

Nenhum comentário: