16 setembro 2006

Advogado de Vedoin alega esquema para prejudicar Serra

MATÉRIA DA AGÊNCIA ESTADO

O advogado do empresário Luiz Antônio Vedoin, Otto Medeiros, contou ao Ministério Público que seu cliente teria feito um acordo para receber R$ 1,75 milhão do empresário Valdebran Padilha, suposto intermediário do PT em Cuiabá. Em troca, Vedoin teria acusado o ex-ministro da Saúde José Serra e seu ex-secretário-executivo Barjas Negri de envolvimento na máfia dos sanguessugas, esquema que consistia na cobrança de propina na liberação de recursos do orçamento para compra de ambulâncias superfaturadas. Valdebran, que é empreiteiro e engenheiro eletricista, foi tesoureiro da campanha do candidato a prefeito pelo PT em Cuiabá, Alexandre César.

Segundo Medeiros, seu cliente também teria sido alvo de escuta telefônica, realizada pela Polícia Federal, por pelo menos 15 dias. O Ministério Público em Mato Grosso não participou da operação que pôs Vedoin de volta na cadeia. Foi uma iniciativa do delegado da PF responsável pelo caso, Denis Calli, que apresentou à Justiça o pedido de prisão preventiva do empresário depois de confirmar as negociações nas escutas telefônicas.

As primeiras informações são de que o conteúdo das conversas registradas pela PF é explosivo. Mais uma vez, Vedoin, já flagrado nos grampos da Operação Sanguessuga, teria falado demais e facilitado o trabalho da polícia. As conversas comprometeriam Valdebran, o PT de Cuiabá e até a revista IstoÉ, segundo fonte que obteve um relato dos grampos.

O empresário e ex-tesoureiro petista, que supostamente funciona como intermediário, é muito ligado ao deputado Carlos Abicalil (PT-MT). O senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), acusado recentemente por Vedoin de também participar do esquema das ambulâncias, disse que após o depoimento dado à CPI dos Sanguessugas, o dono da Planam passou a vender delações falsas ao PT. Ele está comercializando delação e documentos para comprometer políticos do PSDB, afirmou o senador, que disputa a vaga de governador no Estado.

O Ministério Público de Mato Grosso vai examinar a documentação entregue por Vedoin antes de ser preso. O dono da Planam protocolou oficialmente no MP as cópias de cheques e documentos também divulgados à IstoÉ. A papelada envolve o nome do empresário Abel Pereira, apontado por Vedoin em entrevista à revista como suposto intermediário de Barjas Negri, que assumiu a pasta da Saúde depois que Serra deixou o cargo. Com os documentos, Vedoin incluiu um texto por escrito, de sua autoria, no qual afirma que Pereira é ligado a Barjas Negri, mas não cita o nome de Serra.

O MP teme que o comportamento de Vedoin leve a sociedade a questionar o instrumento da delação premiada. O empresário estaria transformando sua colaboração com a Justiça e a CPI em um negócio.

Ainda não há definição sobre uma eventual investigação de Barjas Negri ou de Serra. Os procuradores consideram prematuro falar sobre o assunto. Preferem ser cautelosos, já que as informações foram supostamente vendidas. Caso uma investigação ocorra, no caso de Negri, ela seria conduzida pela Procuradoria Regional da República em São Paulo. O ex-secretário-executivo é hoje prefeito de Piracicaba, o que lhe dá privilégio de foro. Serra, que deixou a Prefeitura de São Paulo para disputar o governo, perdeu esse direito e seria investigado por procuradores de primeira instância.

A direção da revista IstoÉ foi procurada ontem para comentar os grampos da PF. O autor da entrevista, Mário Simas Filho, respondeu que fez o seu trabalho e que, de sua parte, a Polícia Federal não tem nada, negociando nada. Se houve um esquema deles (Vedoin) com o PT, eu não tenho a menor idéia. Eu sei que eu não participei de nenhum esquema, explicou. Eu fiz uma entrevista, ela está gravada. Foi publicada porque é notícia.

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