24 setembro 2006

Lulinha conhece o "inferno"

As revistas Época e Veja tratam de Lula em suas capas deste final de semana. A Época ironiza o Lula que "nada sabe, nada viu". Abaixo, reproduzimos parte da matéria principal da revista das Organizações Globo falando sobre o dossiê que pegou os petistas "Tabajaras":

"De todas as crises do governo - e elas foram muitas -, nenhuma chegou tão perto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto a operação de fabricação e compra de um dossiê com denúncias contra o candidato favorito ao governo de São Paulo, José Serra, do PSDB. Dos sete petistas acusados de envolvimento direto ou indireto na operação, quatro são amigos há décadas do presidente. Ninguém contou para ele?

Dois dos acusados - o ex-assessor Freud Godoy e o diretor licenciado do Banco do Estado de Santa Catarina Jorge Lorenzetti - foram encarregados por Lula de cuidar das finanças dos filhos. Freud trabalhava no Palácio do Planalto como secretário particular de Lula e atuava nas campanhas do PT como segurança pessoal do presidente. Lorenzetti era o churrasqueiro predileto dos fins de semana do presidente na Granja do Torto. Ricardo Berzoini, presidente do PT, e Osvaldo Bargas, ex-secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho, foram companheiros de Lula na formação do Partido dos Trabalhadores e da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em comum, todos eles têm também a fidelidade histórica ao presidente.

Em entrevista ao programa Bom Dia Brasil, da TV Globo, na quinta-feira passada, Lula condenou o comportamento de seus assessores. E referiu-se a eles como "os meninos", usando o tom carinhoso de um pai que repreende os filhos. É inevitável perguntar como foi possível que nenhum dos "meninos" tenha contado a Lula sobre a travessura que o grupo estava aprontando. "Não posso achar que o presidente do meu país seja tão ingênuo. É grave ser tão ingênuo", disse Fernando Henrique Cardoso, ocupante anterior da cadeira de Lula.

Eis a primeira questão que o escândalo do dossiê deixou no ar: qual será a influência dos acontecimentos na eleição presidencial? Apesar da proximidade do presidente com o escândalo, boa parte do eleitorado de Lula continua confiando nele. De acordo com uma pesquisa do Ibope divulgada na quinta-feira passada, o presidente teve uma queda de apenas 1 ponto porcentual na preferência do eleitorado. Geraldo Alckmin, do PSDB, subiu 1 ponto. A opinião mais freqüente era que a eleição se resolveria no primeiro turno. "Não vai dar tempo de o escândalo abalar a campanha de Lula", diz o cientista político Amaury de Souza, sócio-diretor da MCM Consultores Associados. "Esta é uma história muito complexa, e as pessoas têm dificuldade para entender o crime que foi cometido." De acordo com a análise do sociólogo Francisco de Oliveira, o episódio tende a impressionar mais a parcela da classe média hoje propensa a votar em Lula que o conjunto de eleitores de baixa renda e escolaridade. "Para a maior parte dos eleitores de Lula, o presidente aparece como vítima dos acontecimentos", diz Oliveira.

O voto desses eleitores pode ser descrito como um voto de "retribuição". Ele é uma espécie de "pagamento", em troca do que a população mais pobre recebeu por meio das políticas sociais de Lula. Durante seu governo, o salário mínimo teve um aumento real de 25%, descontada a inflação. Seu poder de compra subiu ainda mais, cerca de 60%, pois caiu o preço de vários produtos da cesta básica. O alcance s do programa Bolsa-Família triplicou desde outubro de 2003, e hoje há 11,1 milhões de famílias cadastradas. O governo ainda criou programas como o ProUni, que oferece bolsa a estudantes pobres para cursar faculdades particulares. De acordo com um estudo realizado pelo economista Marcelo Néri, da Fundação Getúlio Vargas, entre 2003 e 2005 a miséria recuou 19%.



Mas isso não significa que a blindagem do voto lulista entre os pobres não possa sofrer abalos. Na semana passada, a avaliação positiva do governo caiu de 49% para 43%. Na sexta-feira, pela primeira vez a pesquisa de rastreamento feita pela campanha de Lula apontou uma redução na diferença entre os dois candidatos. Lula afirmou, em reunião com prefeitos, que um eventual segundo turno "não seria nenhum desastre". Certamente contribuiu para essa queda o fato de, ao longo da semana, terem aparecido mais e mais indícios da proximidade entre os "meninos" e Lula. Segundo relato de petistas, Bargas, casado com Mônica Zerbinato, secretária pessoal de Lula, comandava no comitê de reeleição o núcleo de inteligência do PT - ou "núcleo da burrice", segundo disse o presidente Lula em conversas informais. Bargas liderava um serviço de informações do PT, formado ainda por Lorenzetti, pelo ex-diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso e por Hamilton Lacerda, ex-coordenador de comunicação da campanha de Aloizio Mercadante para o governo de São Paulo. Todos são acusados de envolvimento na compra do dossiê."

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