Alta sociedade
Xico Vargas
Geralmente quando aqui se fala da violência que tomou o Rio de Janeiro, da qual está vivo bárbaro exemplo no assassinato do menino João Helio, bom número de leitores localiza nas favelas, nos negros e pobres a origem de todos os males.
Alvo fácil para as propostas de sempre: remover essa gente, passar o trator, dar-lhe casa bem longe, na periferia, mas com ônibus para que possa continuar sendo doméstico, pedreiro, encanador e (por que não?) traficante, desde que suas balas perdidas só sejam achadas por seus iguais.
São opiniões respeitáveis, como todas as que aportam neste blog. Talvez delas se possa extrair destino para os cinco jovens que encheram de pancada Sirley Dias de Carvalho Pinto, 32 anos. Ela esperava um ônibus de madrugada numa das áreas mais abonadas da Barra da Tijuca.
Doméstica, Sirley fez tudo o que esses leitores recomendam: negra e pobre, foi morar em Imbariê, na Baixada Fluminense, e estava na rua às 5 da manhã porque precisava consultar um médico, no posto de saúde perto de sua casa a 60 quilômetros de distância. Enfiaram-lhe a bordoada para tomar os trocados que trazia na bolsa.
Coisa de preto? Traficante? Pobre favelado? Não. Obra de representantes da mais fina classe média alta, leitor. Estudantes de Direito, Gastronomia, Turismo daqueles que param no sinal a seu lado e parecem pessoas normais. Você comeria um prato preparado por um animal desses? Consegue imaginar que noção de Justiça tem o idiota que estuda Direito?
O que deveriam fazer os parentes e vizinhos de Sirley com as famílias dos rapazes que a socaram o rosto (principalmente nos olhos)? Exigir do poder público que sejam desalojadas dos confortáveis apartamentos do condomínio Parque das Rosas e salgar-lhes as casas?
Talvez seja melhor aliviar a barra, não? Afinal, os bravos jovens acreditavam estar baixando o braço numa prostituta. Tudo o que aprenderam até agora os levou à convicção segundo a qual mulher, sozinha, às cinco da matina na rua só pode ser prostituta. E puta, sabe como é, está aí para ser humilhada.
Também podemos buscar uma tangente para concluir que esses bandidos são apenas uma exceção da gente dourada que desejamos ter ao redor. Já os pobres, pretos e favelados são todos criminosos ou coniventes com o crime. Ou será que temos feito tudo errado até aqui e não é a cor, a casa ou a carteira que forjam a bandidagem? Fique à vontade, leitor, ainda temos alguns dias para conversar sobre essa sociedade que estamos construindo.
Clique aqui e leia o site Ponte Aérea/RJ, de Xico Vargas.
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