27 junho 2007

O amanhã que nos amedronta!

Gerson Menezes
publixcriativo@hotmail.com

Vivemos a reclamar das coisas que nos rodeiam e que formam o nosso mundo. Reclamamos de quase tudo. Pouco escapa dos nossos queixumes. Talvez, por isso, nem temos tempo para notar que somos parte desse todo, e como é um todo indivisível, somos parte dos problemas.

Dirigindo no trânsito, com o telefone celular ao ouvido, bradamos quase que mecanicamente contra aquele “imbecil” que acabou de nos ultrapassar. Nem nos preocupamos em lançar um olhar para trás, pelo espelho retrovisor, para observarmos quantos outros ultrapassamos, sobre eles jogando poeira, ao longo da estrada da vida.

Lamentamos a perda daquele amigo de longas datas, sem ao menos nos questionarmos, se fomos nós que o afastamos, sem que nem nós mesmos encontrássemos um justo motivo. Talvez em nome da nossa individualidade que julgávamos invadidas pela amizade. Mais fácil será a ele atribuir toda a culpa.

Maldizemos a sorte que julgamos nos ter abandonado ao vermos aquele “sortudo” ganhar o prêmio acumulado da ‘mega sena’, quando nem ao menos tivemos a paciência de enfrentar a fila da casa lotérica para arriscar a sorte.

Invejamos aquele que passou de mãos dadas com uma bela mulher, para não termos que admitir que estamos mesmo é a desejar estar no lugar dele. Nem nos damos ao trabalho de nos olharmos ao espelho para não termos que comprovar que a vida foi bem mais generosa com ele, dotando-o de atributos físicos que, por não possuirmos, dizemos que são irrelevantes diante dos atributos morais e intelectuais que julgamos sermos os únicos a possuir.

Reclamamos dos políticos que nós mesmos elegemos, muitos dos quais já nem lembramos que elegemos. Esquecemos, para voltarmos a ajudar a elegê-los na próxima disputa e, novamente, voltarmos a condenar. Bom é poder acreditar que nenhuma culpa nos cabe. Tudo se pode atribuir ao sistema corrupto.

Agora me lembro: - Nós fizemos a nossa parte! Acabamos de dar um telefonema que nos foi solicitado pela rede Globo de Televisão como contribuição ao Projeto Criança Esperança. Se amanhã encontramos uma criança drogada, perambulando semi-inconsciente pelas ruas. Culpa algumas nos cabe.

Felizmente, hoje, podemos por a cabeça sobre o travesseiro e dormir tranqüilos. Sonharemos com dias melhores ou teremos pesadelos com os dias atuais. Seguiremos em frente, movidos pelas nossas ambições só nossas, já que cada um possui as suas.


O único medo que nos assusta verdadeiramente é que, perto do fim ao qual inexoravelmente todos nós estamos fadados, a voz incômoda da nossa consciência venha a nos condenar por tudo o que deixamos de fazer, além de reclamarmos contra tudo.

Gérson Menezes é publicitário

Nenhum comentário: