20 junho 2007

É proibido usar chapéu!

Ricardo Ribeiro*

Em um parlamento pródigo em falcatruas de todo gênero, é curioso que um deputado seja condenado a não usar chapéu. Malas suspeitas estão liberadas, relações promíscuas com lobistas são permitidas, mas usar um singelo adereço de couro na cabeça é terminantemente proibido.

O Supremo Tribunal Federal existe há mais de 150 anos e até ontem mantinha um tabu: jamais condenou um deputado ou senador. Até mesmo aqueles defenestrados da vida pública em julgamentos políticos foram posteriormente absolvidos no STF. É surreal que a primeira decisão contrária seja a de proibir um parlamentar de usar chapéu.

Mais interessante ainda que a decisão do ministro Gilmar Mendes chegue em um momento no qual o Congresso passa um recibo de desonestidade e corporativismo jamais visto tão de perto – e ao vivo – pela sociedade brasileira. Senadores como Romeu Tuma e Sibá Machado fazem manobras vergonhosas para livrar a cara do colega Renan Calheiros.

Está determinado: receber dinheiro de fonte suspeita para pagar pensão à amante pode. O que não pode é usar chapéu. Intime-se, Publique-se e Cumpra-se!

Segundo o presidente da Câmara, Arlindo Chináglia, o deputado Edgar Mão Branca feria o decoro ao usar chapéu no plenário. Mas não fere o tal decoro receber uma verba indenizatória flagrantemente inconstitucional para pagar uma série de despesas que o cidadão comum só pode custear com o próprio salário.

Os deputados passaram a receber, cada um, R$ 16.500,00 de salário este mês e têm, além disso, direito a uma verba indenizatória de R$ 15 mil por cabeça. Se forem computados os gastos gerais para a manutenção de um gabinete parlamentar, ultrapassa-se facilmente a cifra de R$ 100 mil. Mas o imoral é usar chapéu no plenário.

Segundo o dicionário Houaiss, decoro significa recato no comportamento, decência, acatamento das normas morais, dignidade, honradez, seriedade nas maneiras, compostura etc. Posturas e atitudes que não se identificam em grande parte dos políticos.

Em determinado momento da crise do chapéu, Edgar Mão Branca afirmou que preferiria renunciar ao mandato a ter que se livrar de seu acessório tão estimado. Duvidamos que ele cumpra a promessa. E, ao não cumpri-la, o deputado começará a descobrir que está menos sertanejo (antes de tudo um forte) e mais político (antes de tudo, uma vantagem).

* Jornalista e bacharel em Direito

2 comentários:

Anônimo disse...

Todo mundo é bom, mas o chapéu de Edgar sumiu...

Unknown disse...

Se roubar o Gilmar manda soltar, se usar chapéu manda prender, só podia ser indicação do FHC...