29 janeiro 2008

E a vidinha continua...

Gustavo Atallah Haun

Depois das comemorações de Natal e reveillon, iniciando o milésimo oitavo ano da era cristã, fomos descansar na Estância Hidromineral de Olivença, que dista 20 km do litoral sul de Ilhéus. Lugar procurado para o veraneio por mineiros, goianos e até mesmo baianos de todos os recantos.

Estar lá, acordando com a vista para o mar verde-escuro, ouvindo o ribombar das ondas incessantes na areia alva, o vento fresco que corre sem barreiras, poderia ser considerado um êxtase, quiçá um deleite apavorantemente belo de um paraíso próximo.

Entretanto, a Olivença da minha infância é outra: menos suja, mais segura e habitável. Aquele pequeno lugarejo onde meus pais passaram lua-de-mel há 34 anos e onde veraneei desde que nasci, se perdeu nos contos perfeitos do mestre Hélio Pólvora, nos poemas de Valmir Nascimento, nas brincadeiras com primos e primas correndo soltos pelas ruas pacatas.

Hoje, o condomínio Água dos Milagres onde ficamos, localizado de frente para a Praia dos Milagres, está entregue às moscas, muriçocas e escorpiões (chegamos a matar uma família inteira dos amarelos!). O carro do lixo não passa todos os dias, o matagal cresce nos terrenos baldios, as estreitas ruas de chão estão esburacadas e os insetos apavoram, isso para não falar dos roubos sucessivos que acontecem no local.

É uma pena, pois com a vista deslumbrante que se tem, ao lado do Morro do Urubu, de onde retiramos água mineral diretamente da bica, conquistaria ainda mais turistas se fosse bem tratado.

Ilhéus peca, e muito, por somente acreditar na sua beleza física (realmente indiscutível!) e desacreditar das prestações de serviço, das administrações públicas voltadas a uma consciência ecológica, das políticas inclusivas, enfim, do cuidado com aqueles que a visitam.

Só para se ter uma idéia clara, em uma quarta-feira comum, sem movimento, fomos abordados por, nada mais, nada menos, que 47 ambulantes, camelôs, vendedores, isso das 10h40min até 15h. É a proliferação do trabalho informal, autônomo, o forte da nossa região. A pobreza se alastra junto à imensidão natural e cultural daqui.

E ficamos nos perguntando: cadê a nona ou décima economia mundial? Onde ficaram os recordes de exportação? O milagre econômico? O crescimento de 5,6% de tudo o que se produziu em 2007?

Parece que tais somas andam longe de nós, periféricos de um país surreal. Talvez esteja bom para os banqueiros, para os industriais, para a classe política, maior bebedora de dinheiro dessas plagas. Mas para o povo, uma banana. Banana desidratada, de preferência numa assadeira coberta com pano de prato alvo, para vender na praia, claro.

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