Para além do contra ou a favor?
Edgard Freitas
Em face da réplica do colega Senildo ao meu pequeno artigo “Porque sou contra as cotas”, publicado aqui neste blog, apresento a minha tréplica.
O colega Senildo começa acertando. Minha concepção é liberal. Acredito que o homem é um único agente concreto da história. Classes, raças, opção sexual, religiões, times de futebol, tudo isso são acidentes, circunstâncias (nos dizeres de Ortega y Gasset), designações impessoais, genéricas e imprecisas para coletivizar os homens a partir de apenas uma de suas características. Tudo isso, ao contrário do que você afirmou, influi sim na vida da pessoa, só não determina a vida da pessoa.
Neste ponto eu gostaria de fazer um reparo à alfinetada elegante, mas alfinetada, do colega quando associa o pensamento liberal ao de aproveitadores de bolsas pagas com o dinheiro público. Quem conhece o pensamento liberal brasileiro sabe que ele é francamente minoritário na Academia, inclusive nas bolsas de pós-graduação. Os liberais brasileiros reúnem-se em verdadeiras catacumbas intra ou extra-muros da Universidade, quase como os antigos cristão. Se dizer liberal clássico, conservador, à moda de Smith ou Tocqueville vale divertidíssimas interjeições de espanto e incredulidade na UESC, por exemplo.
Mas não estou aqui para falar sobre os liberais, mas para “responder à resposta”.
Pois bem. Senildo diz que deveria saber que o cerne da discussão não está na raça, mas na existência ou não de uma dívida histórica. Ora, se a raça não está no centro desta discussão é o caso de informar isso urgentemente à Ministra Matilde Ribeiro, ao Movimento Negro Unificado, ao Bantu-Iê, ao Uniafro, à SECAD e ao Prodape, pois toda a propaganda promovida sobre cotas está umbilicalmente ligada à questão racial, e à dívida histórica racial supostamente existente.
Pois repiso na tecla: Qual dívida histórica, cazzo? A população brasileira é francamente miscigenda, o que joga por terra a tese de uma elite branca perversa que enriqueceu à custas do lombo dos negros, e essa riqueza tem se transmitido ao longo das gerações.
Desfaçamos alguns mitos: Não havia elite branca no Brasil. Mesmo os senhores de engenho tinham eles próprios “o pé na senzala”, fruto da má distribuição demográfica entre os gêneros sexuais no Brasil colônia. Mais, a alforria, aqui, era prática comum, e não era raro que o negro liberto adquirisse, ele próprio, escravos. A chamada elite branca, de sobrenomes italianos, judeus, poloneses, espanhóis, somente chegou aqui muito após a escravidão, sem nenhuma benesse especial: vieram para cá para substituir a mão de obra escrava.
Mais: a riqueza não é estática. Ela se cria e muda de mão. Os ricos de hoje talvez não o fossem no passado, assim como os pobres e a vasta classe média, sempre ignorada nas discussões do “arranca-rabo de classes” marxista.
Estudei dois anos no Galileu e um ano num colégio Estadual
Não é o vestibular aplicado de maneira igualitária quem elimina estudantes de escolas públicas (lato sensu). É a má qualidade da maior parte dessas escolas, hoje palcos para proselitismo, grevismo, coitadismos e outras bobajadas, ao invés do ensino efetivo. Não é a Universidade quem deve mudar, transformando o diploma em prêmio de consolação por um segundo grau ruim. Não há erro ou vício no vestibular. Há na cultura atual da escola pública.
Assim, não há alternativa a não ser ser contra ou a favor das cotas.
Edgard Freitas é bacharel em Direito e blogueiro nas horas vagas
www.caxassafilosofal.blogspot.com
Clique aqui para conferir a monografia de Edgard sobre o assunto
9 comentários:
rapaz, que conversa chata da porra destes dois. o blog fique atento. eu, negro, sem nível superior, posso tirar desta página minha cota de leitura com tanta chatisse acadêmica que não vai dar em absolutamente em nada.
Zelão, ao "Mestre Edgar"... Com Carinho.
cara, tirante todas as pendengas jurícas e filosoficas em que ocê se meteu por ousar tornar público o seu pensamento, eu continuo te aplaudindo, mesmo que tenha de ser "xingado" com esse nome "pomposo" de neo-liberal.
Em genero, número e grau, concordo com "gran finale" do seu pensamento, quando afirma, que se querem pagar a "pseudo dívida historica", o façam, dando dignidade a escola pública. Mas, não criem uma casta de "desiguais e protegidos" nas universidades.
- Dêem ao homem as ferramentas com as quais ele construirá o seu próprio desenvolvimento, sem que para isso tenha de tirar-lhe a dignidade.
Zelão, Exultante: - Parabéns a este blog, por se colocar como palco democrático das discussões, que deveriam ser promovidas e extimuladas pela UESC, que no entanto se omite do papel social de ser o "centro das discussões dos temas regionais".
Parabéns aos debatedores, com exceção daqueles; que sem nada terem para contribuir, apelam para suas frustações e partem para o ataque, não das idéias, mas às pessoas.
... Dá discussão é que nasce a luz!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
isso é uma piada histórica....
olha, as cotas estão aí!!!!!!
e não é uma monografia que vai mudar!!!!!!!!!!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
e além do mais essa discussão toda tem o objetivo de divulgar o nome do edgard....
o cara é um neo liberal que passou seus tempos de comunista e não encontrou acenssão!!!! agora depois de segurar e rezar por um bom tempo a cartilha do PT ele quer fazer nome como direita!!!!
besta é quem perde o tempo com esse cara!!!!! ele acha que a política de cotas está errada???? f.....
kkkkkkkkkkkkk
Que há erro na escola pública todos nós concordamos. Entra governante, sai governante, e a qualidade do ensino público (fundamental e médio) não muda. A única solução a curto prazo é a adoção das cotas. é um remédio doloroso, difícil de engolir, mas necessário. Quantos pobres se formaram em Medicina na Uesc este ano? Nenhum? um? dois? e quantos pobres se formarão daqui a 5 anos? No mínimo 20.
Concordo com o nobre Bacharel Edgard Freitas, somos uma raça mistificada, de negros, indios, brancos,pardos , cafusos, e por ai vai. Meu avô é Sírio Libanés, minha avó uma indía,minha cor é morena, meus filhos são loiros, puxou a minha esposa que é filha de italianos, meus filhos estudarão em escola particular, e tem o direito de concorrer em gráu de igualdade com negro, e indios, direito a cotas universitárias, más grças a Deus já estão formados, e não precisam mais enfrentar este preconceito de desigualdade social.O governo federal, estadual, municipal, tem é que melhor o ensino público, e isto colocaria os cotistas em pé de igualdade para concorrer a qualquer vaga nas universidades. O que adianta o negro, ou indio entrar para a faculdade pela porta de trás e sair de lá despreparado, para enfrentar um concurso público, ele só vai ter o direito ao diploma de curso superior e mais nada.Em Brasília na UNB, a primeira Universidade Federal a adotar o sistema de cotas em seu primeiro vestibular de cotista, um rapaz branco gaúcho neto de alemão foi o segundo colocado e perdeu o direito de entrar para a faculdade, sua vaga foi destinada a um negro, em resumo entrou com um mandato de segurança no STF e ganhou o direito de entar para a Universidade.Não sou racista más discordo plenamente com este direito de cotista, todos são iguais perante a lei.Esta escrito na Constituição em seu art. 3º, inciso IV- promover o bem de todos, sem preconceitos de origens, raca, sexo, cor, idade, e quaisquer outras formas de discriminação.Não fui eu que escreve a Constituição, e o presidente Lula foi um dos relatores da Constituiçao em 1988,>Se não somos todos iguais perante a lei, vamos rasgar está constituição e fazer uma nova constituição com discriminação racial, a constituição do holocaustro de Hitter!
Caro Edgard
Gostaria de iniciar dizendo que eu não sou a favor de uma cota para estudantes negros, mas sou completamente a favor de um sistema de cotas para estudantes de escolas publicas, pelo simples fato de que por não ter dinheiro uma pessoa não pode ser punida, com a diminuição de suas chances profissionais. É muito facil falar que e escola tem que melhorar, e ao mesmo tempo não se movimentar por esta melhora. E os que necessitam desta melhora o que devem fazer enquanto ano após ano? E enquanto essa melhora não chega o que fazem os estudantes que veem suas chances praticamente se anularem?
Eu venho de escola publica, me graduei e fiz mestrado por uma universidade estadual, mas tenho clara consciência de que eu sou exceção e não regra, obra de mais sorte e algum esforço.
Não estou bem certo de que exista uma divida histórica com os negros, mas de uma coisa estou certo: o negro sofre discriminação, e tem chances profissionais e educacionais inferiores ao branco pela sua cor de pele. Não há como negar isto, que alias vai contra um dos pilares do neoliberalismo, todos os humanos são iguais ao nascer.
Afirma que a universidade não é liberal, sinto ter que discordar de ti aqui tambem. Temos diversos cursos na universidade e maior parte deles é liberal ou segue preceitos liberais, alias quase todos com exeção de historia, geografia (em parte), economia (em parte), direito (em parte) e pedagogia, são liberais. Em resumo a parcela não dominante na universidade (ciencias sociais) tende a não ser liberal (em parte) e o resto a ser liberal, ou pelo menos voltada para o mercado.
Não é crime ser liberal, eu mesmo sou em parte liberal, mas não posso aceitar que seu co-pilar maximo seja destruido: a igualdade. Então sou obrigado a concordar com um sistema que consiga igualar as chances de todos para entrar na universidade. E isto naõ vai fazer cair o nivel do ensino superior no Brasil, pelo contrario os alunos que entram por cotas normalmente se mostram mais aplicados que os que entram por outros meios, e não sou eu quem diz isto, são os numeros. O que faz realmente cair o nivel do ensino superior no Brasil são as universidades particulares (a maioria) que tem um pessimo nivel, e aceitam semi analfabetos com uma carteira cheia, claro que eu como liberal não posso ficar criticando muito a iniciativa privada, sob o risco de ser classificado como marxista...
Anônimo (22:59)
Se eu estivesse a fim de ser carreirista político eu tinha permanecido na esquerda, hipocritamente, fazendo carreira de "intelequitual orgânico". Levaria 10 anos pra terminar minha faculdade fazendo política lá dentro, viraria assessor e terminaria meus dias como burguês do capital alheio, presidindo alguma estatal... Ou faria algum concurso público e viraria sindicalista assim que terminasse o estágio probatório. Perspectiva para isso não falta.
Tudo em nome "dupovu" e do "çóçiáu"
Edgard
Sinto que lhe faltam os argumentos e começam os ataques à esquerda, critique a esquerda por suas falhas ideologicas e não tente coloca-la como se fosse intelectualmente inferior, como fez com "dupovu" çoçiau. A esquerda está cheia de pessoas com baixo nivel de formação (até mesmo pela qualidade de nossa escola liberal), mas na direita tambem coalha pessoas sem nivel de formação algum (veja fernando gomes, valderico reis). Pior do que estas pessoas são as que por ter alguma formação se acham superiores . Imagine se isto começasse, eu com mestrado poderia te desdenhar por ser graduado...
Politica é mais coração, ideologia, e menos foração, pessoas sem formação alguma fazem governos espetaculares, e pos-doutores fazem lixo quando chegam ao poder não sabem para onde ir. Pessoas sem formação mas com muito coração estão mudando este país, claro que ajudados por boas equipes na area de economia, de ciencia e tecnologia, de energia, educação...
Tente ver a esquerda com um pouco menos de preconceito.
E quem pede isto é um liberal
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