Pensamentos filosóficos de um homem traído

(Dedicados por Zelão ao sofrido companheiro Ricardo Bacelar)

Nada parece doer mais em nós, homens, seres que nos julgamos superiores, que a dor da traição feminina, seja ela perpetrada ou não por uma mulher. É dor que parece não ter fim. Não fere a carne, mas dilacera a alma e mata o ego.

Na nossa pujança machista, imaginamos que só aos outros possa atingir e que de nós passe ao largo. Mesmo quando nos atinge de forma abrupta e inesperada - condições essenciais a uma traição -, a princípio tentamos negá-la, como se possível fosse apagá-la do nosso momento e da nossa vida.

Nem mesmo nos conforta relermos na história dos povos os grandes casos em que homens tão mais importantes foram traídos por figuras quase que mitológicas.

Como encontrar conforto no doloroso aprendizado de Adão, traído pelo encanto da serpente que seduziu a sua amada Eva, levando-o a dor da perda do paraíso?

Qual seria o alento que encontraríamos na dor sofrida pelo invencível guerreiro Sansão, pela traição da sua amada Dalila?

Como explicar a amargura de Júlio César ao descobrir que a sua encantadora rainha de Sabá, o levara a cometer a mais alta traição contra o Império Romano?

Qual teria sido a dimensão da dor sofrida pelo rei Arthur, ao descobrir que a sua eterna amada o havia traído com um dos seus mais fiéis e amado cavalheiro?

Ficamos imaginando qual teria sido a tamanha dor de João Batista, além da dor física, por ter a cabeça cortada, por causa da “sanha conspurca” de Salomé?

Quais teriam sido o espanto e a dor da vaidade de homens como Bill Clinton e Renan Calheiros, ao verem os seus segredos de alcova mais íntimos revelados de público pelas suas respectivas Mônicas?

Tudo nos leva a imaginar, quão grande foi a dor do companheiro Ricardo Bacelar, por ter sido, ao mesmo tempo, traído por duas figuras femininas: a pré-candidata a prefeita Acácia Pinho e a IURD, sigla representativa da empresa Igreja Universal.

Se isto serve de consolo caro companheiro Ricardo Bacelar, lembre-se que uma outra figura feminina, “as urnas”, poderá redimir e até apagar a sua desdita de hoje.

Vale até apenas lembrar e até cantarolar a canção de Chico Buarque, “Mulheres de Atenas” que diz, em um dos seus trechos, “mirem-se no espelho daquelas mulheres... De Atenas, que sofrem por seus maridos, orgulho e raça... De Atenas”.

Do seu solidário companheiro,

Zelão, cornólogo!