22 janeiro 2008

Por que sou contra as Cotas

Edgard da Costa Freitas Neto

Acabo de me graduar em Direito pela UESC, tendo apresentado minha monografia sobre a inconstitucionalidade do sistema de cotas recém-implantado naquela Universidade. Pretendo, neste curto artigo, explicar por que, exatamente, sou contra tal política.

A primeira razão é extremamente simples: qualquer política que confira vantagens a determinado grupo com base no critério racial é intrinsecamente racista, por mais bem intencionada que seja. E o racismo, sabemos, é crime.

Ainda, admitindo só por amor ao debate a possibilidade de distinção racial entre os indivíduos, fica a constatação que a idéia de “dívida histórica” é furada. Primeiro, por conta da miscigenação, fato que os neoracistas tentam esconder usando o padrão bicolor norte americano.

Quem é credor histórico e quem é devedor histórico? Sou mais escuro que meu pai e mais claro que minha mãe. Sou credor de um e devedor de outro? E os descendentes de europeus, que aqui chegaram após a escravidão fugindo da fome na Europa para trabalhar miseravelmente devem entrar também nessa “vaquinha” histórica?

Em nossa região essa estória de cotas é ainda mais perversa. Primeiro porque a nossa gente é descendente de pessoas que aqui chegaram sem nada para desbravar a mão nua esta terra, no final do Império. Caboclos, cafuzos, sertanejos, sergipanos, “turcos”. Segundo, por que o corpo discente da UESC possui duas características: É efetivamente miscigenado e popular, mesmo sem cotas (vide, a este respeito, a pesquisa “UESC em preto e branco”, de Elis Fiamegue et al.).

O pensamento coletivista que escora a política de cotas ignora que quem se sentou nos dias 6, 7 e 8 de janeiro para fazer as provas não foram raças e classes, mas indivíduos concretos. Eles é que estudaram, roeram suas unhas e disputaram entre si as vagas.

Estudar em escola boa ou ruim não é, no fim das contas, tão determinante como o esforço individual e a autodisciplina. Aprendi isso não na teoria dos livros, mas na prática do dia a dia, entre meus colegas e amigos, eles próprios não os mais ricos, mas os mais esforçados.

As cotas não representam direitos a uns, mas direitos à custa de um direito líquido e certo de candidatos que são absolutamente inocentes de qualquer dívidas. Os verdadeiros devedores, os políticos, estes agora estarão tranqüilos, pois sabem que, independentemente da porcaria que façam com a escola pública, o “agradinho”, o “cala-boca”, está dado. Por isso, resumidamente, sou contra as cotas.

Edgard Freitas é bacharel em Direito e blogueiro nas horas vagas

www.caxassafilosofal.blogspot.com

Clique aqui para conferir a monografia de Edgard sobre o assunto

29 comentários:

Anônimo disse...

Zelão, ao Senhor Bacharel:

Honorável Jovem Bacharel;

É com com um misto de tristeza e alegria que li a fundamentação da sua tese de bacharelado de direito. Digo de tristeza, por imaginar que; dentro em breve, mister ao excesso de trabalho na nova e promissora profissão, este "blog" perderá um excelente colaborador. A alegria se dá, por sentir pela fundamentação da sua tese, que ganharemos um excelente "profissional do direito", seja qual for a área em que venha atuar.
Conhecimentos jurídicos,destemor e clareza nas peças jurídicas que patrocina, é um dos pré-requisitos para um bom profissional do ramo do direito e isso, logo de início da sua promissora carreira, demonstra sobjamente.
Sinceros e anônimos parabéns, meu jovem bacharel.

Do seu já admirador,

Zelão

Anônimo disse...

Excelente texto! Anotem aí: essa é deixa para mais uma burrada dessa gestão. A política de cotas é incorreto em qualquer parte do mundo, aqui na UESC então, é uma insanidade. Como disse o amigo no artigo e observo com colegas a UESC é miscigenada por natureza, aqui na região nos damos o luxo de fazer a integração racial naturalmente, é só dar tempo ao tempo. Retifico a qualidade do texto, imprimirei e repassareia a colegas.

Anônimo disse...

Essa é para os "pesquisadores Nobelesco" que engordam a conta bancária, vão lá e baixem a monografia do Edgard e aprendam a ser antenado e útil a sociedade.

Anônimo disse...

Camaradas, o sistema de cotas foi uma proposta do nosso partido PcdoB, aceita pelo Magnífico Reitor. É um avanço para os negros e indios, excluidos da Universidade. O Companheiro Wenceslau Junior teve um
papel fundamental nessa aprovação.

Anônimo disse...

Zelão, ao PCdoB de Itabuna: - Menos camaradas... Menos!

na minha ignorância, pensava e até acreditava, que a "lei de cotas nas universidades", era projeto do Governo Federal, aprovado pelo legislativo (não o itabunense). Ratifico, que o "camarada" Wenceslau, tem se destacado aqui na Câmara de Vereadores de Itabuna, pela sua atuação sóbria e sempre bem fundamentada. dai, a querer transformar o "nobre edíl", em um legislador a nível federal, só pode ser vista como uma pretensão futura.

Anônimo disse...

Falar em PCdoB, para corroborar o que disse amigos acima, digitem,no google, Joaquim Bastos Vermelho e veja o que aparece.

Unknown disse...

Excelente texto!!Tb já sou formado pela universidade, em outro curso, e sempre fui contra o sistema de cotas... Parabéns pela iniciativa!!!

Me espanta o meio "acadêmico"(supostamente pensantes) aceitar esse tipo de sistema

Anônimo disse...

Vi também a entrevista na TV Santa Cruz disponibilizada no youtube(diditar na procura: UESC Edgard), esse texto veio a complementar. Também acho a política de cotas o pior caminho, porém uma medida populista rejeitado por nenhum governo que tenha a possibilidade de execita-las. Parabéns colega!

Anônimo disse...

O destemor de Edgard serve de exemplo para os professores e funcionários que aceitaram a pressão dos Quincas elegendo-o. Mesmo que hoje arrependidos e deixando Queincas isolados vocês erraram feio ou compactuaram feio.

Anônimo disse...

Aos comentaristas:
correção e brilhantismo não significam que raciocínio nenhum é justo, significam sim que é lógico. mas a maioria dos que aqui se expressaram não pensaram momento algum em justiça e sim, única e exclusivamente em externar sua visão de classe. achar que naturalmente as coisas se ajeitam na sociedade é não ter a menor noção de política e de história, digo noção científica, nossa região e consequentemente a UESC são bem miscigenadas, mas isso não exclui a necessidade das cotas. Isso não é favor, nem assistencialismo é política compensatória. Mas a elite quer se sentir dando esmolas.
Roger

Anônimo disse...

Vocês não passam de uns play-boy(zinhos) de merda!!! Toda essa tese muito bem elaborada é derrubada se os Srs. observarem as estatísticas. Além do que, as deficiências das escolas públicas não são culpas dos menos favorecidos, no entanto são estes que "pagam o pato".

Anônimo disse...

A tese muito bem fundamentada pelo jovem bacharel Edgar
é de se tirar o chapeu, embasada e respaudada na constuição,
mas não podemos esquecer que na prática e na dura realidade
da política educacional ou melhor na falta da mesma em nosso
país, os menos favorecidos sempre foram marginalizados à sua
inclusão no ensino superior, então existe sim uma necessidade
de uma politica compensatória para minimizar tal situação.
Façam uma analise sócio econômica nos competentes alunos que
cursam Medicina por exemplo.
Precisamos olhar com generosidade e querer que essa sociedade
seja mais igualitaria.

Abraços
Arcanjo

Anônimo disse...

As cotas precisam ser discutidas mesmo, vim aqui para parabenizar o pimenta por formentar discussão no meior acadêmico. Discutir e não gritar como fez alguns meninos do PCdoB hoje pela manhã. Olhe que a aula nem começou e o PCdoB já está fazendo zoada chamando todos de "playboyzinho", mas os alunos nem retornaram, só há pesquisadores na instituição. São eles os "playboyzinhos" ou nós funcionários?
Só contra as cotas e a favor do mérito!
Menos PCdoB, deixe-nos trabalhar, 6 dúzia de alterados nos corredoes fazem muita zoeira. Vão trabalhar!

Anônimo disse...

Eita que o Pimenta está bombando na faculdade. E Joaquim está vermelho com(o) PCdoB. Basta digitar no google: Joaquim Bastos Vermelho e clicar no 1º site que aparecer. Confira!

Anônimo disse...

Primeiramente, é de se perguntar onde o bacharel estudou. Escola pública ou particular? Em segundo lugar, não há nada de racista em sistema de cotas, muito pelo contrário. Trata-se de medida compensatória com vistas a possibilitar que a população que não possui condição de estudar em escolas particulares possam desfrutar do ensino superior.
De mais a mais, bom frisar que o sistema de cotas não viola o princípio da igualdade. Qualquer acadêmico de direito aprende isso nos primeiros semestres. Trata-se da máxima que diz que o princípio da igualdade só é atingido quando se confere igualdade àqueles que estão em condições iguais. Não se pode querer aplicar tal princípio a pessoas em condições totalmente antagônicas, caso contrário não se estaria atingindo o referido princípio.
Um abraço a todos e que o sistema de cotas continue. Só a título de exemplo, países desenvolvidos, como os EUA, adotaram esse sistema.

Anônimo disse...

pra quem gosta de direito constitucional: onde fica a dignidade da pessoa humana???? valor maior de uma sociedade, quando falo disso refiro-me a qualidade de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e de sua comunidade, não se trata de mesmos direitos, mas sim de modo a tratar os desiguais de forma desigual! aí entramos no princípio da igualdade: que abrange a igualdade na lei-que não permite distinções não autorizadas pela constituição; e a igualdade perante a lei-em que aplica-se a lei mesmo que crie um desigualdade. é aqui que está o fundamento básico para o regime de cotas! e se assim foi feito, não foi por uma causa populista, o nobre edgard foi bem no tema, mas não vivemos mais no passado... não irei entrar nem no mérito da discussão "populista"... só quem ganha com isso são os candidatos que não teriam a oportunidade de fazer um curso superior! mas valeu a tentativa viu bacharel!!!

Anônimo disse...

Cota é questão de JUSTIÇA, afinal é justo tratar desiguais de forma igual? (ver A República, Platão)Analogamente é por isso que existem divisões diferentes no futebol. Ora, não há cabimento um campeonato em que o Santos joga contra o Limoeiro. Paralelamente, exitem divisões feminina e masculina no esporte. Óbvio, a questão da mulher é biológica, a do negro, social. Nos dois casos não há inferiores, a mulher é simplesmente diferente (relativismo biológico) e o negro é simplesmente desprivilegiado socialmente (injustiça histórica). Assim sendo, nada mais justo do que criar uma "divisão" em que este numeroso grupo possa competir e assim aliviar uma condição que está diretamente ligada à sua classificação racial.
A tese do bacharel de que a política compensatória é racista não procede. Nem do ponto de vista jurídico, nem do sociológico, nem do filosófico (já discutido). Do ponto de vista jurídico nada se faz contra os brancos, mas a favor do negro. A discriminação (não racismo) é, portanto, positiva. Obviamente, já diria Machado de Assis, a expansão de duas formas determinará a supressão de uma delas. Neste caso a criação de cotas diminui o número absoluto de vagas em que os grupos raciais historicamente privilegiados obtêm vantagens, mas não as suprime. Há portanto a validade sociológica na ação na medida em que tal política tenta diminuir desigualdades claramente identificadas.
Sobre a discussão do "débito" e do "crédito" histórico sugiro a leitura do livro premiado com o Pulitzer-Prize: Neither Black Nor White, Carl Degler. Neste livro o autor argumenta que a grande dificuldade em se fazer justiça social racial no Brasil é exatamente a falta de identidade racial do brasileiro. O mulato não é nem negro nem branco e enquanto ele busca a sua identidade morena, o branco, que sabe exatamente o que ele é, continua usufruindo as vantagens históricas criadas por uma sociedade racista em seus primórdios e hipócrita em sua pós-modernidade.

Anônimo disse...

Eu não sou do PC do B, mas é engraçado observar que quanto mais intelectual, mais o cabra tem medo do sistema de cotas, os que os Srs. tanto temem?

Anônimo disse...

Muniz, tu fostes magnífico em tua colocação.

Edgard Freitas disse...

Inicialmente eu gostaria de agradecer às manifestações de apoio à minha posição.

Não gosto muito de responder a anônimo, mas excepcionalmente o farei, por partes.

Roger (07:47)
Se a UESC é miscigenada, e a região também, além do caráter popular revelado na pesquisa de Elis Fiamegue, então pra que cotas, porca misera?

Anônimo (08:03)

Playboy de merda é a mãe. Vai estudar estatística pra compreender uma coisa: estatística não prova causa, só demonstra, e ainda assim em parte, um estado de coisas. Leia as estatísticas da pesquisa de Fiamegue e você verá que apesar dos pesares quem estuda na UESC não é a zelite-branca.

Anônimo (10:45)

Fiz dois anos do ensino médio no Galileu e um ano no Colégio Estadual Raphael Serravalle, em Salvador. Em segundo lugar: como pode uma política que se apega ao conceito de raça não ser necessária e intrinsecamente racista, cara? Pode até se pretender compensatória, mas que é racista é, pô!
De mais a mais note uma coisa: Qualquer estudo um pouco mais atento e menos ideológico do princípio da igualdade, que pode ser achado lá no livro V do Ética a Nicômaco do bom e velho Aristóteles mostra que tratar desigualmente aos desiguais é atribuir a cada um na razão direta - e não inversa - dos seus méritos. Classe Social e cor não são méritos acadêmicos, notas são.
E, só a título de exemplo, as cotas nunca foram pacíficas nos EUA, e acabam de ser declaradas inconstitucionais pela Suprema Corte de lá. Quando os civilizados acabam com o sistema, nós em Pindorama resolvemos implementar.....

Anônimo (11:50)

A questão aqui não tem a ver com dignidade da pessoa humana. Se tiver, como fica a dignidade de quem passou no vestibular mas não levou, por que é supostamente credor histórico de outro que não passou mas levou? Sobre a igualdade, eu comentei acima, e dediquei um capítulo inteiro a esse tópico na minha mono.

Muniz (13:03)

Faz o seguinte: Pega Aristóteles e leia o livro V do Ética a Nicômaco. Depois, do mesmo autor, leia a Política. Aí quando você compreender a lógica do "tratar desigualmente aos desiguais na medida em que se desigualam" a gente retoma esse ponto específico.
Do ponto de vista jurídico sua refutação está errada pelo seguinte: Se faz sim, não contra os brancos, mas contra todos os não cotistas (que não são necessariamente brancos e ricos), na medida em que lhes impõe uma restrição de acesso.
Do ponto de vista sociológico também não se sustenta, por duas razões: as eventuais desigualdades nas universidades não são causa de nada, mas conseqüencia direta do regime de concorrência que é inerente à vida acadêmica. E, também, as Universidades são efetivamente miscigenadas, ao contrário do que se propagandeia (e eu deixo isso mastigado na mono). Então, que grupos historicamente privilegiados são esses?
Sobre o livro do Carl Degler, não o li, mas a partir da sua defesa dele eu argumento: Como pode então a sociedade brasileira ser racista, cáspita, se lhe falta precisamente, como vc mesmo disse, identidade racial?
O argumento é um primor de nonsense. Primeiro, porque não existe "justiça racial", justiça é uma categoria que se aplica a indivíduos concretos, não a coletivos; segundo, que reclama o combate ao racismo pela via da afirmação racial.
Como dizia o grande filósofo sabático Luciano Huck: Loucura, Loucura, Loucura!
Recomendo a leitura do livro "Ação Afirmativa ao redor do mundo: estudo empírico", de Thomas Sowell.

No mais, obrigado ao pimenta pela oportunidade.

Anônimo disse...

Há propósito, isso na sua boca, é um charuto?

Anônimo disse...

Caro bacharel,

A tua deselegância na tréplica demonstra a passionalidade com que defendes as tuas crenças, ao contrário de tese. Razão e não paixão deve ser o instrumento da tua pena acadêmica, caso contrário te tornas dogmático como a tua defesa sugere. Dito isto, em protesto ao teu argumento de autoridade, e não de lógica, dou-me ao trabalho de respondê-lo pessoalmente já que a mim dirigistes algumas perguntas.

Faço-o. A tua concepção de justiça é claramente liberal (no sentido estrito). O liberalismo político expresso na idéia do "laissez faire", que empresta os pilares institucionais ocidentais, estabelece o individualismo metodológico que te permite dizer que "a justiça se aplica a indivíduos concretos (cic)". Ora meu caro, este não é um assunto acabado haja vista a própria concepção de contrato social do Rousseau segundo o qual o indivíduo submete a sua própria vontade à vontade geral. Assim sendo a justiça que alcança o indivíduo não lhe é restrita mas é aplicável a outros indivíduos mesmo porque é pelo contrato social que indivíduo alcança a justiça. É isso que confere ao indivíduo a fruição de sua vontade não é a sua própria força mas a força coletiva resultante da abdicação da força pessoal e transferida ao Leviatã, diria Hobbes, ou o Estado se preferir. Portanto o indivíduo só existe se houver a coletividade para lhe garantir o individualismo metodológico. Em outras palvras, a justiça aplicada ao "indivíduo concreto (cic)" é devido à coletividade e tem repercussões coletivas.

Passemos a outro ponto. A universidade não é miscigenada. Alguns curso o são como pedagogia e letras. Medicina, arquiterura e odontologia não o são. O mérito é importante em um sociedade competitiva mas no Brasil ainda não alcançamos este padrão de competitividade que nos permita transferir apenas ao indivíduo a responsabilidade pelo seu próprio sucesso. O Brasil não é uma sociedade de castas mas também ainda não alcançou os padrões que põem o indivíduo, ao contrário do grupo, no centro. Veja DaMatta, A Casa e a Rua, mais precisamente o capítulo A Questão do Cidadania no Universo Relacional. Nele lerás que a importância do grupo, ao contrário do indivíduo, priva o brasileiro da cidadania. Basicamente, no Brasil, se não se pertence a um grupo não se avança na vida. Pode-se até passar no vestibular por mérito, mas não se vai arrumar um emprego depois de concluído o curso. Ora para se ser meritocrático tem-se que respeitar todos os estágios da competição. Felizmente a cultura do concurso público tem mudado isso. São estas pequenas mudanças que fazem o Brasil avançar. Devemos então tentar as cotas em mais uma tentativa de mudança.

Finalmente sobre a identidade racial, é exatamente esta falta de identidade que permite uma discriminação velada. Porque no Brasil o negro rico vira branco é mais fácil se "embranquecer" pela via econômica do que assumir uma postura de raça e reivindicar o respeito na condição de indivíduo/cidadão e não na condição de uma pessoa economicamente estabelecida.

Respeito as tuas posições embora discorde delas. Isso, não obstante, não me dá o direito de ser descortês e deselegante com a vossa pessoa, assim como muitos anônimos o foram para contigo e o senhor o foi para comigo e muitos outros que anonimamente ou não contribuiram para o debate.

Cordialmente,

Muniz

Edgard Freitas disse...

Caro Muniz

Antes de tudo gostaria de pedir desculpas se meu tom lhe pareceu deselegante. Meu estilo é direto e conciso, não estamos num ambiente acadêmico, mas num blog, com dezenas de comments para responder num espaço exíguo (visto que não tenho todo o tempo do mundo no computador). Também, sou de uma escola que crê que o tom não faz as vezes de conteúdo e, guardadas proporções, deselegâncias e tons ríspidos não são suficientes para fazer adultos abandonarem um debate, ou se sentirem pessoalmente ultrajados.

O que você interpretou como apelo à autoridade se deveu a uma razão simples: Quando você invocou a necessidade de tratar desigualmente aos desiguais fez uma chamada ao pensamento aristotélico, mas num sentido que Aristóteles jamais deu nas suas principais obras sobre o tema. Para demonstrar isso eu teria praticamente que escrever um artigo num espaço de um comment. Preferi, como meus amigos me fazem, sugerir-lhe a leitura da fonte primária.

Pois bem. Minha leitura é, efetivamente, liberal. Me perfilo do lado de Adam Smith, Tocqueville, Ludwig Mises, Friedrich Hayek, Milton Friedman e outros. Por que? Porque o homem, o indivíduo, é, efetivamente, o ente concreto que compõe a sociedade. Não é o Coletivo que forma o homem, mas o inverso. Acaso existiria, por exemplo, um Coletivo livre composto de homens cativos?

A justiça é uma categoria que se destina aos indivíduos. Uma sociedade pode fomentar a justiça ou não, mas não pode em si ser justa ou injusta porque é composta por homens que são justos ou injustos.

Passemos a outro ponto. Nossa universidade é miscigenada. O olhômetro nos diz isso. Mas saiamos do olhômetro. Peguemos o livro UESC em preto e Branco e leiamos a tabela 16 - página 37. Está lá, pelos critérios racialistas: A categoria negro (preto+pardo) é maioria em medicina (66,8%), em direito (66,4%) e Ciências da Computação (68,9%). SEM COTAS.

Sem Cotas, também, os alunos de escolas públicas ocupam 44% das vagas da UESC.

O seu discurso, para mim, permanece nonsense em boa parte. Isto porque você defende que, ao mesmo tempo em que não há consciência de raça no Brasil, esta consciência é necessária para a mobilidade social, e que a sua falta propicia....o racismo velado!!!! Ora, o racismo é fruto de consciência de raça, pombas! Acaso pretende combater o racismo e seus efeitos deletérios com a afirmação de raça?

Daí puxa-se uma necessidade de "consciência coletiva" ainda mais esdrúxula que a consciência de classe: a consciência de raça. A consciência de raça, quando a ciência prova que raças não existem e que 80% dos que se declaram brancos são Afrodescendentes em mais de 10% (Cf. Penna e Bortolini).

Você ficou tão ofendido com minha ironia ou sarcasmo, ou sei lá o que, que continua sem perceber que o cerno do seu argumento, mesmo citando autores, é autocontraditório.

No mais, comment não é espaço para divagações gigantes. Se quiser escreva um artigo que eu publico na íntegra no meu blog. Comment agora, só curtinho.

Anônimo disse...

Caro Freitas,

Desculpas aceitas, reitero dois pontos:
1-O indíviduo é uma instituição e como tal é abstrata, não concreta como afirmas. O homem, do ponto de vista físico, é sim concreto. Sem a sociedade não há indivíduos e sem estes não há aqueles porque seria uma guerra de todos contra todos. Se não houvesse o Estado para garantir que fumes o teu charuto (fruição individual) não poderia fazê-lo porque outro querendo o teu charuto o obrigaria a defendê-lo com a tua própria força. Assim você existiria como homem mas não como indivíduo (embora Locke pense diferente em seu jusnaturalismo - mas até ele mesmo admite o contrato social voluntário).

2-A consciência racial não é o fator responsável pelo racismo. De acordo com Degler o racismo é produto da a)percepção (quem é superior), b)poder (colocado em prática a partir da percepção de superioridade) e c)incentivo (competição por recursos limitados). Assim é a equação: um grupo se percebe superior então usa o seu poder para adquirir o recurso que ele quer mas que está em posse do outro. Isso se aplica à relação de brancos versus negros mas também entre brancos versus brancos e negros versus negros.
A consciência racial não é condição para a mobilidade social, mas é exatamente porque a sociedade brasileira é mais tolerante racialmente, e por isso mesmo permite a mobilidade vertical do elemento negro, mais notadamente o mulato, que o racismo é difícil de ser percebido. A mobilidade, portanto, é uma concessão da elite branca e não um fator normal porque a inclusão não se dá massivamente. Quando um negro é bem sucedido ele vira um "negro de alma branca". A consciência racial pode gerar conflitos e a elite branca morre de medo que isso aconteça por isso a idéia errônea de que consciência racial gera racismo. Não, conciência racial pode gerar conflitos porque o grupo desprovido resolveu competir por recursos escassos, neste caso, vagas na universidade. Mas como os desiguais não podem competir de forma igual e ganhar é necessário dá-lhes incentivos seletivos: cotas. Quando veres negros massivamente dirigindo carros de luxo e jantando em restaurantes elegantes, como acontece nos EUA, verás o benefício da política de cotas.

Anônimo disse...

Primeiro gostaria de dizer que as cotas foram aprovadas na UESC, não por ação de nenhum partido político específico, mas sim pela forte atuação da militancia negra, tampouco joaquim acatou, existe um conselho na Universidade composto por diversas pessoas que votou este tema. Lá tinham professores e estudantes.

Bom, acho que cheguei um pouco atrasado no debate mas ainda assim emitirei a minha opnião pessoal. O que faço para analisar as cotas é tentar ter uma visão ampla do sistema educacional brasileiro e cruzar os resultados com o primeiro criterio de seleção das cotas na uesc, ter estudado em escola publica desde a 5 série do ensino fundamental.

O que eu consigo ver é que o sistema educacional está pelo avesso, para servir "as elites". Sim, basta fazer uma leitura simples de como ele se comporta. No ensino básico, fundamental e médio, as escolas públicas estão sucateadas e são consideradas "piores" à elas são mandados os pobres. As escolas particulares são as "melhores" e a elas vão as elites. Ok. Depois disso vem o ensino superior, bom, aí, as escolas publicas são melhores, então inverte-se a coisa, os ricos nas publicas e os pobres se tivessem condições nas particulares, como não tem, salve-se os que conseguem entrar em algum programa de inclusão do governo, ficam de fora do ensino superior.

Então, a partir disso acho que a política de cotas está completamente equivocada. Pra mim, o lógico e natural, seria que as pessoas que estudaram toda vida ekm escolas publicas, devem continuar em escola publica superior. Sim, isso pq ao longo do tempo foram elas que mostraram precisar do auxilio do estado. Aos ricos que nunca precisaram de escola publica, às escolas superiores particulares. Aí sim, poderiamos fazer uma política de cotas acertada, e destinar uns 25% das vagas nas publicas para os que vieram de escolas particulares. Pronto, seria a perfeita política de cotas.

Mas como tudo foi feito ao contrário, hoje temos que aprovar que a reserva de vagas para quem precisa, pq não sendo assim estes não terão como cursar o nivel superior, "pq não se dedicaram o suficente". A questão racial, já é uma coisa de concepção ideológica mesmo e acho dificil que consiga convergir com Edgard nesse ponto, portanto, passo.

Poderiamos continuar com essa análise durante um longo tempo, mas por ora é só.

Unknown disse...

Que maravilha sua monografia.
Um verdadeiro tapa na cara.
Também sou contra as cotas.
E tento esclarecer os meus alunos de segundo grau.
Eles dizem que sou diferente,porque eu sou a única professora de sociologia que eles já tiveram que não é de esquerda.
Parabéns pela monografia.

Edgard Freitas disse...

Muniz

Pontualmento (conforme havia prometido)

1. O indivíduo não é concreto somente no seu aspecto físico. Ele é por completo concreto. Você vai negar sua própria concretude? Quem está me replicando é Muniz ou um agente de raça/classe/religião?

2. A consciência racial é instrinseca ao racismo, caramba. Porque o grupo, para agir como o grupo tem, primeiro que se enxergar como grupo.

3. Outro problema, quando se fala da inserção: Nossa elite é mulata. Nossa elite realmente branca é aquela que não é descendente de escravagistas. A população preta (usando aqui o termo do IBGE) é minoritária. A discussão aqui está se dando nos termos do one drop rule americano, inaplicável aqui.

4. Sobre o mito das cotas como motor da ascensão social do negro americano, leia a obra do economista (preto) Thomas Sowell: Ação Afirmativa ao redor do mundo: estudo empírico. Rio: UniverCidade Editora, 2004, especialmente o Capítulo 6.

Abraços

Edgard Freitas disse...

Tássio

Faço três pontos sobre o seu post:

1. Você cai no equívoco de analisar a Universidade como se a questão fosse mais de distribuição equitativa de vagas do que propriamente a Universidade em busca dos melhores alunos. Transcrevo aqui Thomas Sowell: "A discussão da política de admissão às faculdades normalmente decorre como se a questão fosse de distribuição de benefícios a vários candidatos, quando é de seleção daqueles que podem melhor dominar a espécie e o nível do trabalho acadêmico em determinada instituição. Os que vêem o problema como distribuição de benefícios fazem objeção aos “critérios de admissão que beneficiam em princípio os brancos de classe média”. Focalizar arbitrariamente os diferentes grupos de candidatos é ignorar aqueles que têm mais em jogo – no caso da medicina, os doentes que necessitam de tratamento médico. Também noutros campos, é ignorar o interesse de terceiros a quem mais importa o que fazem as instituições de ensino superior e a qualidade com que o fazem. Os candidatos às escolas de engenharia não têm tanto em jogo quanto milhões de outras pessoas cuja vida depende da qualidade da engenharia aplicada nas pontes sobre as quais transitam, ou nos aviões em que voam, ou nos equipamentos com que trabalham.

2. Você foi meu colega de sala dois anos no Galileu. Inobstante, ambos passamos para a UESC. Por que? Por que nem todo estudante de escola particular é elite, financeiramente falando. Eu, pessoalmente, só fiz vestibular para a UESC, pois não teria como pagar uma particular e nem como me sustentar fora de Itabuna. Eu não tive um 2º Colegial no nível do Galileu, mas numa escola tecnicamente inferior, estadual, e tive que me desdobrar. Ambos passamos, mas quantos de nossos colegas - talvez mais brancos, mais ricos, estudando a mais tempo no Galileu - perderam?

3. A classe média, essa esquecida, é responsável pela maior parte dos impostos que sustentam a Universidade Pública. Excluí-la da Universidade Pública por que ela - a muito custo - paga escola particular para o filho é sem dúvida uma enorme desproporção e injustiça.

A Universidade não se destina a distribuir diplomas, mas a formar elites intelectuais a partir dos melhores alunos. Nenhum outro mérito que não o acadêmico deve ser levado em consideração.

A la Riba.

Invictus disse...

Edgard

Com certeza eu discordo completamente do conceito usado por Thomas Sowell, prefiro ficar com o da professora xxxx que diz que no Brasil as coisas são difíceis de entender pq "os ricos conseguem a melhor educação de graça e os pobres tem que pagar" se quiserem fazer. Segundo, em relação à qualidade dos formandos aí duas questões merecem observação. Primeiro pq nas universidades onde as cotas foram implantadas o nível dos cursos não diminuiu. Segundo que quanto ao risco de um médico ser mau formado, aí não é um problema das cotas, mas da faculdade, se o medico não tinha condições de formar naturalmente que deveria ser reprovado, até que chegasse ao conhecimento necessário, assim tbm com as demais áreas citadas. Lembrando que esse não é o caso da UNEB e UFBA por exemplo onde o nivel dos cursos melhorou.

A questão de quem entrou ou não na universidade se da ha um problema maior da educação, que é a falta de vaga nas universidades e ineficiencia do processo de seleção, vestibular.


"A Universidade não se destina a distribuir diplomas, mas a formar elites intelectuais a partir dos melhores alunos. Nenhum outro mérito que não o acadêmico deve ser levado em consideração."

Esse é um típico conceito seu que eu você sabe que penso completamente diferente. Pra mim a universidade pública é um local de transformação social, de ascensão das classes populares o que não converge com o seu pensamento meritocrático e mecânico do processo de produção de conhecimento.

A classe média não será esquecida com as cotas, simplesmente disputarão as vagas com as pessoas que tiveram as mesmas condições que ela. Lembrando que as classes C, D e E são maiores que as classes A e B. Portanto existe mais gente do lado dos menos favorecidos economicamente com potencial de disputar as vagas.

no mais continuo afirmando, as cotas deveriam existir pra quem pode pagar pelos estudos, escolas publicas para quem precisa de escolas públicas.

A la Bajo!.