23 janeiro 2008

Um porto na contramão

Rui Barbosa da Rocha

A Secretaria Estadual de Planejamento anunciou, em seu site, a construção de um porto na Praia de Ponta do Ramo, para receber navios de grande porte. O porto seria a outra ponta de uma ferrovia de cerca de 1.100 km de extensão, com investimentos globais de R$ 2,5 bilhões para ligar o Centro-Oeste brasileiro ao litoral sul da Bahia, segundo informa a Seplan.

A Ponta do Ramo, a 27 km da cidade de Ilhéus, em direção a Itacaré, é um dos lugares mais bonitos do litoral brasileiro. Envolta por restingas, florestas e brejos litorâneos, foi preservada até hoje por muitas razões, entre elas a extraordinária vocação para o turismo de natureza, em marcha no sul da Bahia.

Atuando com políticas públicas na região desde 1995, vejo a notícia como um grave equívoco, fruto de estudo incompleto sobre a dinâmica local. Em que pese o significado de ferrovias e portos no Brasil, especialmente para ampliar a malha viária e promover o tão almejado desenvolvimento, o que nos preocupa é o impacto que o sistema ferrovia-porto pode causar sobre a economia de turismo e o desenvolvimento da costa baiana.

Poderia citar, aos consultores da empresa que está fazendo estudos para a construção de ferrovia e porto, que esta costa é citada regularmente na mídia e em artigos científicos, no mundo inteiro, como um dos locais mais ricos em biodiversidade e ecossistemas naturais do planeta, bem como um dos destinos ecoturísticos mais importantes para o Brasil. O governo federal e o Estado da Bahia, pactuados com ambientalistas e empresários, investem com inédita convergência de ações desde a audiência pública da rodovia Ilhéus-Itacaré, em 1996, obra do Prodetur, agora em sua segunda fase.

Os investimentos públicos e privados
têm promovido expressiva oferta de empregos e novos negócios, gerando resultados concretos para a região, compatíveis com a conservação da natureza, em que pese o muito a fazer no futuro, como a consolidação das áreas oficialmente protegidas e a ampliação dos benefícios do turismo para as populações locais.

Estamos diante de duas políticas complementares de longo prazo – turismo e proteção da natureza – que somam recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, do Banco Mundial, do Estado da Bahia e do orçamento federal, além do suor e persistência de técnicos, agricultores, empresários, ambientalistas e moradores, movidos por uma visão local de desenvolvimento sustentável.

Creio que a decisão dos governos estadual e federal quanto ao traçado dessa ferrovia e do porto será pautada em estudos complementares rigorosos, haja vista o impacto dos mesmos sobre uma região que se recupera gradualmente da crise da vassoura-de-bruxa, graças especialmente ao turismo. Que a escolha leve em conta o sonho de nossas vidas: viabilizar, em longo prazo, uma zona ecoturística por excelência no sul da Bahia, uma das mais aptas para isso no mundo.

Rui Barbosa da Rocha é engenheiro agrônomo, mestre em meio ambiente e desenvolvimento, secretário executivo do Instituto Floresta Viva e professor da Uesc.

www.florestaviva.org.br

Artigo extraído de A Tarde, hoje.

3 comentários:

Anônimo disse...

Zelão, Pro Engenheiro Ruy Barbosa:

Tenho medo do naufrágio.


Confesso que está notícia me pegou de surpresa. "Nunca antes nesse país" tive conhecimento de que haveriam estudos no sentido de construir um outro porto em Ilhéus. Em se tratando da construção de um novo porto em área geograficamente paralela ao atual, há de se antever a necessidade da construção de um espigão (semelhante ao que existe no porto do Malhado), cujas consequências danosas ao litoral-norte de Ilhéus são sobjamente conhecidas. Dai as justas preocupações do articulista se fazerem oportunas.

Anônimo disse...

Olá Amigos do Pimenta.
Aqui quem vos fala é João Torres Andrade.
Curiosamente descobrir o fato há alguns meses, investiguei e vi que havia um um fundo de verdade. Descobrir também que há bilhões em jogo e que o porto que será construido entre a ponta do ramo e mamoãn é um dos mais modernos do mundo, com o risco zero de risco ambiental.O porto seco ficrá a 11 quilometros de distancia da praia e todo o produto será conduzido por um duto à base de água. O porto será de 3 km adentro, em forma de ponte e no final uma outra ponte que forma um T. Os navios serão abastecidos por dutos diretamente sem deixar uma gota dominério de ferro cair em mar.Já o Sr Ruy Rocha,ambientalista radical,só é contra a projetos em que o dinheiro não passa pela conta de sua ONG-Floresta Viva,por sinal vivissíma, veja os hoteis em que os membros destas ong"s se hospedam, vejam quanto ganham os membros da mesma e tudo isto como dinheiro que deveria estar melhorando a vida das povos tradicionais, ribeirinhos e quilombolas. Não é atoa que Voney Fernandes e Sinira deixaram a pobnre Uruçuca e se juntaram ao sr Ruy.Está na hora do povo deixar de ser otário e desnudar estes cafajestes travestidos de ambientalistas tirar proveitos.
Abraços

Anônimo disse...

João Torres, isso me deixa menos preocupado (mas não despreocupado).

Se a área de estocagem de minério fosse semelhante ao que temos no Porto de Tubarão (Vitória-ES), teremos sérios problemas.

Mas um porto com cais a base de pilares (sem "espigão) e transporte de minério por mineroduto realmente reduz os impactos.

Ou melhor, esta solução tira da vista da população os pátios de minério. Eles vão continuar existindo em algum local, só que oculto. Mesmo assim, se não me engane o minério fluidizado precisa ser seco antes de ser carregado nos porões dos navios VLCC/ULCC. Para onde irá o descarte desta água?

Entretanto tudo que escutei e li refere-se a uma ferrovia descarregando direto num pátio de minérios a beira mar, através de um virador de vagões ou vala, semelhante ao porto de Tubarão mesmo. Esta é a solução mais barata e com certeza a preferida dos investidores, porém é a mais danosa.

Eu ainda tenho dificuldades de associar este porto na paisagem da Ponta do Ramo, por questões ambientais e econômicas (perda do potencial turístico).