Senhores, façam as suas apostas!
Gerson Menezes
Era assim que os antigos “crupiês” anunciavam o jogo nas mesas dos cassinos. Com a proibição no Brasil, a jogatina migrou. Vieram as loterias oficiais, o jogo do bicho e as “cafuas” para todas as categorias sociais.
Colocado na condição de contravenção penal, o jogo passou a abrigar outras atividades, tão ou mais ilegais. O crime organizado viu no jogo, já que clandestino, um universo de possibilidades de lucros. Como uma verdadeira máfia, distribuiu territórios, onde, para se estabelecer, é necessário que exista uma concessão dos chefões ligados diretamente ao alto comando, que em geral fica no Rio de Janeiro. Quem ousa desobedecer, ou cria “olho grande” e se estabelece por conta própria, muitas vezes acaba pagando pela ousadia com a própria vida.
Para manter prosperos os seus negócios, o submundo do crime, precisava estabelecer contatos com o “mundo legal”. Os seus tentáculos avançaram primeiramente pelas organizações policiais. Expandiram-se através da justiça e, já atingiram a política. Poucos foram os setores da vida pública nacional que não foram alcançados pelos poderosos tentáculos da corrupção advinda do crime organizado que se esconde no jogo.
Os episódios recentes, que vieram à tona através das operações realizadas pela polícia federal, e apontaram o envolvimento de juízes, desembargadores, ministros de tribunais superiores da justiça, policiais, advogados e doleiros. Podem ter a certeza: são apenas a ponta de um gigantesco iceberg, que se desloca nas águas tranqüilas da corrupção no Brasil.
Vez em quando, sempre que um caso rumoroso chega ao conhecimento da população através da mídia, se ouve também falar da legalização do jogo no país. Abre-se, então, o debate entre os que verdadeiramente acreditam que a legalização só trará benefícios à população nacional e, a igreja, que se coloca contrária, bramindo o argumento de que o jogo corrompe a alma e desagrega a família. Mas, salvo as boas intenções, pró e contra, a quem mais interessa a legalização do jogo no país?
Qual seria o interesse do crime organizado em pagar altas taxas de impostos, assinar carteira de trabalho e a declarar ganhos ao imposto de renda? Por outro lado, qual seria o interesse dos que, por polpudas “contribuições recebidas” para acobertar o crime, concordariam em abrir mão da vida nababesca em que vivem?
A mim, parece uma luta “quixotesca” dos que, bem intencionados, acreditam que a legalização daria moralidade ao crime. É o mesmo caso de se pensar que as cadeias brasileiras cumpram a função de ressocialização do criminoso através da pena.
Gerson Menezes é publicitário
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