24 abril 2007

Será a reedição de um antigo “chavão?”

Gerson Menezes
publixcriativo@hotmail.com

Ao lançar na manhã dessa terça-feira o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), o presidente Lula voltou a pronunciar uma das suas famosas frases emblemáticas – “este é o século da elite do saber, e não apenas da elite do berço e do sobrenome”. O que será que o presidente quis dizer?

Será que o presidente preconizava o fim das elites tradicionais? Estaria afirmando que o nome e sobrenome garante a alguém um lugar na elite? Estaria se referindo à elite econômica? Desconhece o presidente, o fato de que o conhecimento coloca quase que automaticamente a pessoa no cerne de uma elite? Ou, estaria o presidente afirmando que, até então no Brasil, o conhecimento é um privilégio exclusivo dos ricos e que, ao ampliar o acesso à educação para todas as camadas da sociedade, acabaremos com as diferenças de classe?


Não consigo alcançar o verdadeiro sentido das palavras do presidente, quando as confronto com outro pensamento seu, quando diz que sente orgulho das suas origens de retirante nordestino, criança pobre que teve que trabalhar desde cedo, de operário, sindicalista que chegou à presidência da republica, sem ter um diploma universitário. Não serão incongruentes tais pensamentos? Que exemplo maior para um jovem, que o de um operário que, mesmo sem ter estudado, chegou à Presidência da República?


E por não conseguir atingir o que julgo subjetividade nas palavras do presidente, sou levado a especular sob duas linhas de pensamento. A primeira, de que o presidente pronuncia frases de efeito em seus discursos, que nem mesmo ele sabe o que significam. Ou, bem pior, que o presidente Lula queira, com este gesto, vingar-se, objetivamente, das “elites que sempre o rejeitaram”, justamente por ter ascendido de uma “casta” vista por ele mesmo como inferior.


Ao lançar o PDE, o presidente busca cumprir uma das suas promessas de campanha, de dar aos brasileiros, notadamente aos das classes menos favorecidas e os excluídos, uma educação pública de qualidade. O que é uma obrigação do Estado. Ao buscar fazê-lo, o governante cumpre um dos seus deveres constitucionais e nada mais do que isso. E, se outros não fizeram, nem mesmo assim justifica-se a arrogância dos que a posteriori vierem a fazer.


Espero, sem querer emitir um pré-julgamento, que o presidente Lula, não tenha buscado atiçar a luta de classes, para dela tirar proveito próprio, colocando-se como o salvador dos pobres e dos excluídos (à moda Hugo Chavez), justamente, quando se discute a permanência do instituto da reeleição para os cargos do executivo, e quando correntes de dentro do PT especulam pela possibilidade da reeleição por tempo indefinido.


Gerson Menezes é publicitário.


Um comentário:

Álvaro Vinícius de Souza Coêlho "Degas" disse...

Acho equivocada a análise do Gerson. Por quem, aliás, tenho o maior respeito na forma e no conteúdo dos textos.
Há a elite a que o presidente se referiu, e há a elite a que o Gerson se referiu, e elas não podem ser misturadas.
O presidente fala da classe dominante de um país. A elite capitalista.
Quando o Gerson diz "Desconhece o presidente, o fato de que o conhecimento coloca quase que automaticamente a pessoa no cerne de uma elite?" sugere ao leitor menos incauto de que o conhecimento coloca a pessoa na mesma elite a que se referiu o presidente.
E isso não é verdade. Poderia citar vários contra-exemplos à tese do Gérson, mas vou candidamente lembrá-lo que os professores não estão nem mesmo próximos de serem a elite capitalista do país.
Quiçá estivessem.