Iruman e as prévias: “Não temos patrão nem coronel no PT”

Nos quase 30 anos de fundação, o diretório municipal do PT itabunense nunca enfrentou prévias para definir um nome a prefeito. O tabu poderá ser quebrado este ano. A decisão estará nas mãos dos filiados do partido e da direção da legenda.

Após o secretário estadual de agricultura, Geraldo Simões, indicar a esposa como pré-candidata do partido na sucessão municipal, uma voz se levantou contra a forma como Juçara Feitosa foi lançada.

Ex-presidente da Emasa e ex-secretário municipal de Transporte e Trânsito de Itabuna, o advogado e radialista Iruman Contreiras quer provocar o debate e a realização das prévias para que os petistas escolham o concorrente na sucessão.

“Não temos patrão nem coronel no PT”, diz, falando da necessidade de diálogo e ao mostrar sua insatisfação. Para ele, a atitude de Geraldo foi de “imposição” de quem deseja fazer a esposa prefeita de Itabuna. Abaixo, a entrevista na íntegra.

Pimenta na Muqueca - Você provocou as prévias por achar que o PT é diferente dos demais partidos. Não acha que é muita ingenuidade sua acreditar nisso?
Iruman Contreiras - O PT é tão diferente dos demais partidos que, depois da imposição da candidatura da esposa de Geraldo, o diretório admite realizar as prévias. E admite após eu colocar o meu nome como candidato, ainda que haja indicação muito forte de Geraldo a respeito de sua escolha.

Pimenta - Como petista, o que você achou da forma como foi lançado o nome de Juçara?
Iruman - O PT é o partido que respeita a decisão da maioria, estimula o debate e permite que todos tenham direito a voz e voto, seja preto, pobre ou rico. Se não respeitarmos isso na indicação das nossas candidaturas, não estaremos construindo um partido democrático. Por isso, insistimos que o PT é diferente dos demais.

Pimenta - Neste cenário, a candidatura de Juçara destoa...
Iruman - ... (interrompe) destoa da prática petista, completamente. Se houvesse interesse de que fosse uma candidatura única, de unanimidade, haveria um amplo debate antes de lançá-la. Como isso não aconteceu, provocou o nascimento de outras candidaturas (para as prévias).

Pimenta - Essa prática e da forma como a coisa foi posta, confundiria o PT com os demais partidos. Seria isso?
Iruman - É uma prática que faz a população ter um conceito de que todos os partidos são iguais e não há diferenças e, por isso, tanto faz José como João. O PT é um partido que tem estatuto, regimento e é o único que elege os seus dirigentes pelo voto do filiado. Assim deve ser a caminhada de um partido político. Se os demais não atentam para isso, é porque não há interesse, querem continuar sendo legendas que alguém comanda, quer dominar.

Pimenta - Quando devem acontecer as prévias?
Iruman - O regimento interno prevê que o prazo final para apresentação de candidaturas é o dia 16 de abril e o partido tem até o dia 21 de abril para definir a data de realização das prévias.

Pimenta - Há esse desejo das prévias por parte da militância?
Iruman - A minha candidatura tem possibilitado à militância petista uma ampla discussão a respeito da melhor alternativa do partido para Itabuna. Se isso não fosse viável, com certeza eu não seria candidato. Esse impacto positivo que nós criamos no conjunto da militância e no seio da sociedade com uma outra candidatura petista para ser discutida vai oxigenar, tirar essa militância da inércia. Com certeza, vai dar novo gás e colorir Itabuna de vermelho, como sempre fizemos nas campanhas a prefeito, e discutir com a sociedade as novas alternativas para Itabuna.

Pimenta - Você acredita que Geraldo vai continuar como secretário?
Iruman - Essa dúvida já foi dizimada. O secretário já deu entrevistas, já reafirmou que não é candidato. Então, não sou eu que tenho que ficar discutindo se ele vai ser candidato, se amanhã vai retroagir no seu pensamento, na sua decisão. A mídia que acompanha os movimentos do secretário já deixou bem claro que ele não é candidato, vai continuar secretário.

Pimenta - O partido realiza as prévias e se, de repente, Geraldo mudar de idéia e resolver entrar na disputa...
Iruman - (interrompe)... Ah, você está falando de uma virada de mesa, depois das prévias e depois de toda uma discussão com a militância? No PT, é impossível. Se o secretário ainda tiver alguma dúvida, tem que decidir isso nos prazos fixados pelo PT. Se até o dia 16 as prévias tiverem somente o meu nome e da companheira Juçara, as prévias serão realizadas somente com esses nomes.

"O que nós queríamos

era ganhar no voto"

Pimenta - Por sinal, a última experiência do PT com “tapetão” foi traumática ao tentar impugnar a candidatura do atual prefeito...
Iruman - Aquilo não foi um equívoco do PT. A mídia pró-Fernando Gomes é que usou muito bem os movimentos judiciais, dizendo que o PT queria tirar a candidatura de Fernando, quando isso não era verdade. O que nós queríamos era ganhar no voto, com a militância. Mas, infelizmente, tivemos dificuldades de manter aquela aliança com Renato Costa, Ubaldo Dantas. No momento em que nós estreitamos a aliança, perdemos a campanha política de 2004.

Pimenta - Você acredita que terá o apoio de Geraldo na campanha a prefeito, caso vença as prévias?
Iruman - Olha, esse é um partido democrático. Toda vez que eu fui vencido no PT, acompanhei o voto vencedor. Esperamos que Geraldo, como um democrata, também acompanhe o voto vencedor. Eu vou me sujeitar à vontade da maioria. Se for o nome da companheira Juçara, estarei na campanha dela. Caso seja o meu nome, espero que Geraldo e a esposa também estejam na minha.

Pimenta - Geraldo tem o controle do PT. Você não acha que as prévias apenas vão confirmar isso?
Iruman - As prévias, além de incentivar o debate, têm um único objetivo: garantir a democracia dentro do PT, dando provas para a sociedade de que nós não temos um patrão nem um coronel dominando o partido. Quem manda nesse partido são seus filiados e sua militância.

Pimenta - Você apenas quer suscitar o debate ou acha que tem potencial para vencer as prévias?
Iruman - Eu sou o melhor candidato do PT na pré-candidatura interna e para vencer as eleições à prefeitura de Itabuna. E disso eu tenho certeza e coloco meu nome porque reúno as condições ideais para administrar Itabuna.

Pimenta - Você diz que é a melhor opção do PT, mas o que aponta para isso?
Iruman - A minha caminhada na cidade, a minha trajetória como gestor público. Como procurador e presidente da Emasa, democratizamos a empresa e chamamos a população para discutir o que queria daquela companhia. A empresa só tinha água para metade da população e a outra metade ficava sem água. Quando assumimos, fizemos uma obra que distribuiu, para todos, o pouco que tínhamos no abastecimento. Como secretário de transporte e trânsito, desenvolvi um amplo processo de melhoria dos transportes e projetos que hoje estão sendo implantados, mas de forma muito lenta.

Pimenta - Hoje, você é suplente de vereador. Caso as prévias não confirmem o seu nome, você disputaria uma vaga à Câmara novamente?
Iruman - Eu sou apenas pré-candidato a prefeito. Seja qual for o resultado das prévias, não serei candidato a vereador. Seria irresponsabilidade minha puxar uma discussão tão séria apenas para alavancar uma candidatura a vereador.

Pimenta - Como está a sua relação com o comando do PT em Itabuna, com o presidente Eduardo Barcellos?
Iruman - Muito boa. Não temos divergências do ponto de vista ideológico, já caminhamos juntos em várias oportunidades. Ele foi candidato a vice-prefeito (em 1996), eu estava na campanha dele. Ele foi candidato a deputado estadual (1994), também estava ao seu lado... Em todas as campanhas do PT, eu sempre estive presente e como peça importante, desde 1990 a 2004 quando, infelizmente, Geraldo não foi reeleito, o que foi uma grande perda para Itabuna.

Pimenta - Como analisa a cidade hoje, com Fernando Gomes?
Iruman - Nós perdemos. Aliás, quem diz isso são os números. O índice de mortalidade infantil voltou a estar na casa dos 50 óbitos (por mil nascidos vivos). Quando nós deixamos a prefeitura, o índice era de 16. Praticamente, hoje se triplicou a quantidade de óbitos. A saúde está em crise e, o que é pior, a crise no setor público está refletindo no setor privado, na Santa Casa, e pode acabar acontecendo o que ocorreu com o Hospital Maria Goretti (que fechou as portas). Quem ganhou a eleição de 2004 adotou práticas vencidas, do passado. E faz uma administração precária, odiosa e de enfrentamento com a sociedade, além de não ter permitido que Itabuna mantivesse as conquistas do período de Geraldo.

Pimenta - O atual presidente da Emasa esteve na Câmara e disse que hoje a empresa enfrenta problemas por conta de erros das gestões anteriores. Como você vê essa crítica?
Iruman - Pegamos uma Emasa falida, deteriorada e a conduzimos ao posto de segunda empresa da cidade em arrecadação, faturamento, pagamento de tributos. Na minha gestão, a Emasa pagava FGTS, INSS, deu aumento salarial, respeitou direito dos trabalhadores, aumentou a quantidade de casas com água encanada e ampliou a rede de esgoto.

Pimenta - E o passivo?
Iruman - O passivo da Emasa é muito grande. Ela foi municipalizada em 1990 já devendo ao governo do estado e à Coelba. Quando chegamos à presidência da Emasa (em 2001), a dívida com a Coelba era de R$ 40 milhões. Conseguimos reduzi-la para menos da metade e negociá-la para um patamar que conseguisse pagar, de R$ 50 mil por mês. Quando saímos, a empresa operava 24 horas. Hoje, é só 16 horas por dia. O Isaías deve estar falando essas bobagens porque não conhece o passado da Emasa, quando o patrão dele, o prefeito Fernando Gomes, governou a cidade em duas gestões. Ele precisa saber qual era o rombo que a empresa tinha por conta das gestões do seu Fernando.

Pimenta - O que você pensa sobre a proposta de concessão da Emasa?
Iruman - Uma irresponsabilidade. Não é a privatização que vai tornar uma empresa saudável. O que a torna saudável é a gestão. Se for competente, profissionalizada e que não roube, ela vai dar certo. Foi o que aconteceu na minha gestão. Eu desafio o senhor Isaías a comparar os números da minha gestão (cobertura de água, esgoto, o faturamento, arrecadação, pagamento de tributos...) com os dele.

Os empreiteiros são sobrinhos

do senhor Fernando Gomes

Pimenta - Hoje tem roubo na Emasa?
Iruman - Tem desvios, descaminhos. Os empreiteiros da Emasa têm contra eles diversas denúncias de que são ligados aos parentes do senhor Fernando Gomes. A lei anti-nepotismo proíbe parentes na administração, mas todo mundo sabe que o genro do prefeito continua dando as cartas na Emasa, que os sobrinhos do senhor Fernando Gomes continuam ganhando as licitações que a Emasa faz. Então, que gestão é essa? É só para inglês ver? Se você passar na Emasa, você vai encontrar o genro de Fernando Gomes (Marcos Araújo) lá dentro. E vai encontrar o sobrinho do prefeito tocando as empreiteiras, dando ordens, recebendo os pagamentos. Você vai na justiça do trabalho e todas as queixas contra as empreiteiras que prestam serviços à Emasa vinculam o nome das empresas ao Dinei Oliveira, que é sobrinho do prefeito. Como as empresas são de fachada e usam testas-de-ferro, as pessoas colocam as ações diretamente no nome do dono.

Pimenta - Incomoda o fato de gente do próprio PT chamá-lo de fernandista?
Iruman - Eu fui empregado da rádio Difusora por cinco anos, como locutor e diretor. Era profissional, fiz o meu trabalho e não vejo demérito nenhum nisso. Ao contrário, fiz um bom trabalho. Fui eu quem implantou o sistema de reportagem sem fio no rádio de Itabuna, através da unidade volante, o chamado ‘papagaio’. Ampliei a potência da rádio de meio para dez quilowatts. Fizemos um trabalho que depois foi copiado pelas demais emissoras.

Pimenta - Quais serão os maiores desafios do futuro prefeito de Itabuna?
Iruman - Não adianta mais aventuras, nem reedição de fórmulas testadas no passado. A cidade tem hoje um prefeito cansado, desmotivado e vivendo a agonia de terminar logo o seu mandato. Fernando está esperando o 31 de dezembro para dar um tchau para a cidade. A prova é o comportamento dele, a cidade abandonada, sem gestão. Precisamos celebrar um grande pacto para recuperar a cidade.

Pimenta - Nesse momento de prévias, a discussão sobre sucessão municipal está restrita ao PT ou você já conversa com outros partidos?
Iruman - Nós estamos discutindo com todos os partidos, principalmente aqueles do campo de esquerda, democrático, popular. Já conversamos com o vereador Luís Sena, já tive contatos com Edson Dantas, com os presidentes do PV e do PPS. Estamos criando em Itabuna as condições para reeditar uma grande aliança nesse campo.

Pimenta - Existem limites nessas conversações quanto a ideologias e partidos ou vai todo mundo?
Iruman - A gente não vai conversar com o DEM. Se um partido está governando a Bahia do lado do PT, ele não pode ficar de fora de um possível governo petista em Itabuna.

Pimenta - Você aceita o rótulo de candidato anti-Juçara?
Iruman - Não, de forma alguma. Eu sou candidato do PT e espero também que Juçara não me veja como um desafeto dela. Somos companheiros de partido e estamos colocando a nossa vontade de trabalhar pelo partido à disposição da militância. E isso só acontece quando você privilegia a democracia.

Pimenta - Há diálogo hoje entre Iruman, Juçara e Geraldo? Como estão essas relações?
Iruman - A relação está boa. Se Geraldo me convidar para ir ao aniversário dele, eu irei. E se eu convidar para o do meu filho ou o meu, tenho certeza que ele irá.

Pimenta - O aniversário de Geraldo é só depois das eleições, em novembro...
Iruman - (risos)... Eu fui ao aniversário dele, ano passado.

Pimenta - Muitos dizem que a sua candidatura e a provocação das prévias no PT seria uma estratégia do grupo do ex-deputado federal Josias Gomes. O que há de verdade em tudo isso?
Iruman - Quem tem relação com Josias é Geraldo. Os dois estão no Diretório Estadual, se encontram, estiveram juntos na campanha de Jonas Paulo (ao diretório estadual do PT)...

Pimenta - A quem interessa esse tipo de vinculação?
Iruman - As pessoas ficam procurando rotular. Como dizem que sou fernandista porque trabalhei na rádio de Fernando Gomes, sou Josias porque, talvez, ele esteja contra Geraldo. O que existe aqui é a discussão da melhor candidatura do PT para Itabuna. O meu nome encerra as melhores possibilidades tanto para o partido e para a sociedade.

Pimenta - "Geraldista", "fernandista". Como o candidato Iruman vê esses rótulos em Itabuna?
Iruman - Eu acho que isso é falta de identidade, de respeito a si próprio. Eu sou Iruman, militante e filiado ao PT, tenho projetos, tenho idéias e é isso que me leva a fazer militância. Se em algum momento voto em Geraldo, Josias, João ou José, é porque avalio que a minha escolha seja a que representa os melhores projetos.