02 abril 2007

De fantasmas e bruxas

Gerson Menezes
publixcriativo@hotmail.com

A região cacaueira vive mais uma das suas incontáveis crises. Talvez seja essa a maior já vivenciada. Todos nós estamos sofrendo com ela (cristãos e ateus). Buscando encontrar os motivos e causas das nossas agruras, me veio à lembrança uma conversa do meu pai, com o coronel Oscar Marinho Falcão, presenciada, à época, por uns quatros fazendeiros. Infelizmente, todos já morreram, inclusive o meu pai.

Não lembro bem qual era o assunto principal da conversa. Lembro-me apenas para onde ela derivou, quando o coronel Oscar Marinho disse:

- Mestre (ele chamava meu pai desta forma, porque meu pai tinha sido barbeiro na sua chegada em Itabuna), ainda bem que não vou viver muito para assistir à derrocada do cacau e o fim da arrogância desses ricos.

Todos foram tomados de espanto com aquelas palavras agourentas, principalmente porque o coronel Oscar Marinho era conhecido como o “Rei do Cacau”, por ser o maior produtor individual do produto no mundo. Como meu pai era o interlocutor direto na conversa com o coronel, só ele ousou perguntar o porquê daquela manifestação. A surpresa de todos foi ainda maior quando o coronel Oscar Marinho retrucou:

- Mestre, se existe um Deus no céu, ele é justo e tudo vê. Deus sabe que as fazendas de cacau foram adubadas com o sangue de gente inocente e regadas com as lágrimas das viúvas e dos filhos que ficaram órfãos. E se Deus é justo, tudo o que aqui se faz aqui se paga.

Dito isto, o coronel pegou a sua bengala e saiu coxeante no seu passeio diário, pela ainda avenida Sete de Setembro, hoje Cinqüentenário.

Ao relembrar a dita conversa, sinto calafrios. Será mesmo que Deus está a nos castigar, mandando os fantasmas dos que aqui morreram voltarem para nos assombrarem clamando por justiça? Será então, que os fantasmas buscaram o auxílio das bruxas e elas lançaram sobre nós a sua mais temível praga? Como uma assombração puxa outra, lembrei-me de um provérbio de autor desconhecido que, em tom profético, dizia: “A lavoura cacaueira é uma economia de pais ricos, filhos pobres e netos mendigos”.

Juro que acreditava até então que as atrocidades narradas nos romances de Jorge Amado, praticadas pelos coronéis da época, eram pura ficção nascidas de uma mente brilhante, e, como tal, não trariam de volta os fantasmas.

Porém, por mais incrédulo que sejamos com as coisas do além e até mesmo com os desígnios divinos, seria bom convocarmos uma equipe de padres exorcistas e de pastores evangélicos que expulsam os demônios em frente às câmaras de televisão. Quem sabe eles não conseguem convencer as nossas assombrações de que já fomos, deveras, punidos pelos erros dos nossos avós?

Gerson Menezes é publicitário

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