04 abril 2007

O justo perdão!

Gerson Menezes
publixcriativo@hotmail.com

Nem nós mesmos nos conhecemos o suficiente para sabermos do que seremos ou não capazes de fazer diante de uma situação. Muito menos, ainda, conhecermos do que os outros são capazes. Vai daí, talvez, a expressão “De médico e de louco, cada um tem um pouco!”.

Quais serão os fatores que desencadeiam uma atitude “delituosa” em alguém que, até então, dentro dos conceitos sociais pré-estabelecidos, sempre foi considerado um cidadão acima de qualquer suspeita e, de repente, comete um furto qualificado? Não dá nem para aceitar a conclusão, que, a meu ver, nada tem de sociológica, de que “a oportunidade faz o ladrão”.

Concebível até seria, e exemplo tem aos montes aqui mesmo no Brasil, de figuras impolutas sendo apanhadas “metendo a mão na jaca” de fortunas consideráveis do erário. Nunca, no entanto, soube de alguém do alto status social apanhado e preso por um roubo de pequena monta. E, mesmo supondo que apanhado fosse no ato delituoso, sempre haveria a desculpa de ser um excêntrico ou, na pior das hipóteses, um cleptomaníaco (alguém portador de impulso mórbido para o furto).

A imprensa nacional noticiou fartamente (até diria exageradamente), na última quinta-feira, a prisão do rabino Henry Sobel, nos Estados Unidos. Ninguém menos que o presidente do rabinato paulista, líder, há muito, da maior congregação judaica da América Latina. Homem inteligente e culto, o rabino Henry Sobel sempre foi destaque no cenário nacional, não só na defesa dos temas religiosos - por ter sido um dos responsáveis pelo ecumenismo religioso existente no Brasil - mas, e principalmente, pela defesa das liberdades individuais dos cidadãos, com destaque para as suas intervenções durante o regime militar e nas lutas pela redemocratização do país.

Quais ou quantos diabos teriam açodado a mente deste homem, levando-o a cometer um ato tão tresloucado? Nada nos leva a crer que tenha agido sob estado de necessidade premente (a exemplo do que leva a um pai de família desempregado a roubar um pacote de feijão para dar de comer aos filhos), mesmo porque o objeto do furto, uma gravata de grife, poderia, no máximo, despertar a cobiça em alguém, mas, nunca poderia ser “usada” na defesa do seu estado de necessidade.

Sob todos os aspectos é lamentável o fato, pela representatividade pública do cidadão envolvido. E mais, e principalmente, da figura humana dos mais altos valores morais que esse homem representa. Justiça há de ser feita, conformes às leis dos homens. No entanto, por todo o seu legado de guardião dos mais elevados princípios morais e éticos, Henry Sobel merece o perdão.

Gerson Menezes é publicitário

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