As pesquisas nesta eleição
Marcos Coimbra*
Reação de Geraldo Alckmin é natural, mas não é didática. E deveria ser.
No Roda Viva, o Governador Alckmin fez o que é natural para um candidato que está atrás nas pesquisas, mas que devia deixar de ser considerado assim. Ou seja, já é hora de todos procurarmos fazer o que está ao alcance de cada um para contribuir para a educação do eleitorado, ao invés de insistir em deixá-lo mal informado.
A discussão sobre “erros” nas pesquisas é equivocada em si. Pesquisa é, talvez, a única fonte de informação que, em um processo eleitoral, deixa explícito que não pode ser considerada “verdade absoluta”. Nenhuma é isso, mas só ela revela em quanto não o é. Só faz leitura “aritmética” de uma pesquisa quem quer fazer algum uso de suas contas.
O que seria um “erro” de pesquisa? Uma diferença entre o resultado de pesquisas de intenção de voto e o voto efetivamente depositado (digitado) na urna? A simples separação no tempo entre a intenção e o comportamento, ainda que de apenas um ou dois dias, não pode ser suficiente para explicar essa diferença? Não pode ser diferente, para o respondente, aquilo em que ele ou ela pensavam na véspera e o que decidiram fazer no dia da votação?
Se a pesquisa é de intenção de voto, quem seria capaz de dizer qual era a intenção no momento da pesquisa, a não ser a própria pesquisa, pois o que a urna determina não é mais a intenção e sim o ato? Nas eleições presidenciais deste ano, que “erro”, afinal, houve? No nosso caso, a última pesquisa divulgada, no dia 30 de setembro, realizada entre os dias 28 e 29, mostrava Lula com 46%, Alckmin com 33%, os outros candidatos com 9% , 5% de brancos e nulos e 7% de indecisos.
Na apuração, tivemos Lula com 45% (quase exatamente o estimado pela pesquisa), Alckmin com 38% (cinco pontos a mais que o estimado), os outros com 9% (exatamente igual) e 8% de brancos e nulos (igual na margem). Qual é o “erro”? Dizer que Lula ganharia no 1º turno a pesquisa não dizia mais, fora da margem, apenas que isso poderia ocorrer e que não aconteceu, aliás, por 1,8%. O que uma leitura menos interessada aponta é para a possibilidade de que tenha ocorrido, nas 24 horas finais, uma tomada de posição de indecisos, suficiente para levar o Governador para o 2º turno, e não um “erro”.
Pesquisas sérias não prometem ser “certas”, simplesmente porque ninguém sabe o que é isso, em um processo eleitoral. Quem é que sabe, com “certeza”, qual é a intenção de voto, em um dado momento? O máximo que uma pesquisa pode (e deve) prometer é ser bem feita, com rigor metodológico e operacional. E podem ficar tranqüilos os cidadãos que, no Brasil, isso existe e é a regra, com suas possíveis exceções. Nas eleições, pesquisas são instrumento de informação, mas podem ser, também, instrumento de marketing. São funções diferentes, mas, infelizmente, muitas vezes embaralhadas, para confundir e não para esclarecer o eleitor.
Em sua campanha, aliás, o Governador usa, quase diariamente, um resultado de pesquisa como arma de convencimento, quando mostra, com dados do Datafolha, sua avaliação pela população de São Paulo, quando no cargo. O uso é correto, mas, se isso é verdade, porque não seria o resultado da pergunta sobre intenção de voto? Só serve para confundir as pessoas a conversa sobre “tracking”.
Esta é a terceira eleição presidencial em que esse tipo de acompanhamento é feito no Brasil. Em si, nada mais é que uma pesquisa contínua, em que uma parte da amostra é substituída por outra, renovada diariamente, com medias móveis sendo sempre recalculadas. Pode ser realizada através de entrevistas pessoais e domiciliares (metodologia que adotamos na Vox Populi) ou telefônicas, com amostras de vários tamanhos. Serve para acompanhar tendências, mostrando impactos de fatores conjunturais na evolução da campanha. Nem sempre, porém, é a melhor maneira de estimar em quanto estão as intenções de voto em cada momento.
Talvez o Governador saiba isso e, então, seria melhor para os eleitores que os esclarecesse.
Extraído do site Jornal de Debates. Para acessá-lo, basta clicar no título desta nota.
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