César Maia e a "eleição municipal" de 2006
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INFORMAÇÃO e OPINIÃO -IOCM- !
ex-Blog do Cesar Maia 26/10/2006
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ELEIÇÃO PARA PREFEITO DO BRASIL!
1. Uma eleição é sempre muito mais uma questão de oferta do que de demanda, especialmente no Brasil onde os partidos são basicamente inorgânicos. A demanda -ou seja o eleitor- muda muito pouco e assim mesmo a longo prazo. O que muda são as ofertas dos partidos. Por exemplo: um mesmo partido se lançar um candidato com um perfil, atrai um tipo de eleitor; se lançar com outro, o eleitor é outro. Quem mudou? A oferta é claro.
2. No início dos anos 30, na U. Columbia, o grupo de Paul Lazarsfeld (Gallup era seu pesquisador), a tempo que desenvolvia o campo de conhecimento sobre opinião pública política, iniciava uma série de pesquisas. Algumas delas tem hoje 70 anos. Uma hipótese que queriam demonstrar, é que quanto mais crescessem os níveis de renda e de instrução, mais racional e qualificado seria o voto. A renda e o nível de instrução cresceram sistematicamente, mas a taxa de racionalidade não mudou. O eleitor continua usando atalhos informacionais para sua decisão de voto.
3. Quando o personagem que representam os candidatos se assemelha, maior a necessidade de se aprimorar a comunicação para diferenciar -um em relação ao outro. Isso é muito comum nos EUA onde o personagem Kennedy passou a ser um padrão de oferta eleitoral, para presidente, para governador e especialmente para o senado. Um passeio no plenário do senado sugere quase-clones espalhados pelas cadeiras.
4. No caso da eleição presidencial de 2006 no Brasil, de partida, os personagens de cada candidato -Lula e Geraldo- eram diferentes. Esse seria um bom ponto de partida para se elaborar um sistema de comunicação eleitoral que apostasse nas diferenças. Mas diferenciar-se não quer dizer ler um texto no teleprompter e se dizer diferente. Do outro lado existe uma demanda que vai muito além do que muitos políticos pensam, ao escolher o produto, quando entram no supermercado político. Não basta ouvirem que um produto é diferente do outro.
5. Paradoxalmente, o programa de Serra em SP -cuja equipe era a mesma de Geraldo- procurou se diferenciar -por cima- dos demais. Uma das aberturas mais comuns de seu programa era uma espécie de vôo sobre S. Paulo, mostrando sua pujança, sua importância, o estado mais importante do Brasil, mais importante que todos os países da AL e quase um país. Para governar um estado como esse só alguém muito preparado, com muita experiência... Qualquer outro perfil seria um risco. Ou seja: Serra!
6. O programa de Lula jogou tudo na taxa de identificação do eleitor com Lula, cortando o eleitorado regional e socialmente. Toda aquela coreografia de grandes feitos do governo Lula, seu colarinho e nó de gravata estavam ali para compor um cenário e se preparar para o que imaginavam viria do programa do Geraldo. O que de fato o programa comunicava -primeiro e segundo turnos- era Lula como um candidato de proximidade (amigo do povo), fato que se podia comprovar com os projetos que demonstram essa proximidade (bolsa família, o dente do pobre, farmácia popular...).
7. Lula, independente do que dizia, COMUNICAVA: -Sou candidato a PREFEITO DO BRASIL!
8. O que faz a série dos programas de Geraldo? A mesma coisa. Bem, pensavam seus assessores: se Lula é um candidato de proximidade e está tão bem nas pesquisas, nosso Geraldo tem que ser também. E então toca no distinto publico a origem modesta de Geraldo, (ah... que saudades da dona Nhánhá, de seus quitutes... eta menino do interior, bom e trabalhador, que como estudante dava aula...). E não contente em voltar a isso a campanha -1 e 2- toda, ainda resolveu concorrer com Lula como candidato de propostas de proximidade: Dose Certa contra a farmácia popular, renda mínima contra o bolsa família, mutirão da saúde contra o dentista, etc...Etc... Com isso topou o jogo: ser PREFEITO DO BRASIL!
9. Resultado: para Prefeito do Brasil o eleitor prefere Lula que tem muito mais jeito para isso.
10. Ainda há tempo de Geraldo mudar o programa e os comerciais e mostrar que o Brasil é muito grande e importante para ser prefeiturizado e que precisa de um presidente do tamanho do Brasil? Há, mesmo que num grau de probabilidade bem menor que o de Lula.
11. Este Ex-Blog com mais de 30 anos de estudos de pesquisas pode afirmar que no Brasil, 3 dias antes das eleições majoritárias, 35% dos eleitores ainda estão dispostos a mudar de voto se surgir alguma razão de fundo. São os eleitores não engajados. Quanto maior a vantagem de um candidato, menor a probabilidade que estes 35% se descolem dele. Portanto mais contundente terá que ser o argumento. Poucas mensagens fortes e que elevem a importância do voto podem produzir uma leve inversão de tendência. Daí para frente dependerá da aceleração do multiplicador do boca a boca entre eleitores. Mas para isso tem que haver aquela leve inversão para que se conte com um acelerador.
12. Com 20 pontos atrás -que são 15 pela abstenção e pesquisa em meio de semana- trata-se de uma inversão de 7% para se ter um empate. Afinal no segundo turno, um voto a mais para um é um voto a menos para o outro: vale dois. Acompanhemos estes 4 dias.
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