22 outubro 2006

O coveiro do carlismo, segundo a Istoé


Tido como pacificador, Jaques Wagner vai ganhando ainda mais espaço no PT nacional e desempenha papel importante neste segundo turno da eleição presidencial. A revista Istoé desta semana traz uma entrevista com o petista que derrotou o senador Antônio Carlos Magalhães e o governador Paulo Souto.

Abaixo, parte da entrevista que você confere na íntegra clicando no título desta nota:

ISTOÉ – Como o sr. virou o coveiro do carlismo?
Jaques Wagner – Não trabalhei para ser coveiro de ninguém, mas para afirmar uma nova política para a Bahia. Tenho que admitir, porém, que minha eleição foi, em grande parte, uma rejeição ao modelo de Antônio Carlos Magalhães governar. Ele utiliza métodos ultrapassados, que não correspondem à alma do povo baiano, como os ataques mal-educados que ele fez ao presidente Lula. Ele foi deselegante, e muita gente me disse: “Eu vou votar no senhor para calar a boca dele.” O PFL era uma nuvem cinzenta sobre a Bahia e a expressão máxima desse grupo é ACM.

ISTOÉ – Isso significa que não foi o PT que venceu, mas que foi eleito graças
à rejeição a ACM?

Wagner – Creio que as duas coisas se somam. Atribuo parte da minha vitória ao cansaço e ao declínio do modelo do PFL. Nem o próprio grupo de ACM agüentava mais ACM. Ele era um peso para o próprio governador Paulo Souto. Pesou igualmente o fato de eu ter sido o primeiro candidato da oposição a aparecer para os baianos com um projeto consistente. Outro ponto é que ganhei muito apoio embalado pelos votos que os baianos deram ao presidente Lula, 67% no primeiro turno. Além disso, conseguimos fazer uma boa coligação com todas as forças anticarlistas. Tivemos a humildade de não lançar candidato a senador para apoiar informalmente o candidato de outra coligação, o ex-governador João Durval, que também venceu.

ISTOÉ – As pesquisas apontavam sua derrota. O sr. acredita em pesquisas?
Wagner – Acredito. Tanto que encomendei algumas. As minhas pesquisas para consumo interno davam algo muito próximo às dos institutos que divulgavam publicamente suas sondagens. As minhas erraram também. Das duas uma: ou a metodologia deles está errada, ou a mostra está errada, ou o povo baiano, como eu imagino que possa ter acontecido, por medo desse sistema que constrangia até agora as pessoas, não respondeu com medo daquilo ser uma bisbilhotice.

ISTOÉ – Esta, então, é a principal hipótese?
Wagner – Creio que sim, porque é impossível que os institutos errassem tão grosseiramente em 20% ou manipulasse tão grosseiramente.

ISTOÉ – Foi uma surpresa o segundo turno para o Lula?
Wagner – Eu nunca trabalhei com a idéia de primeiro turno, nem para mim nem para Lula. Eu sempre disse para as pessoas: para a gente vencer dois turnos, a gente tem que se preparar para qualquer hipótese. Infelizmente, o pessoal previu que Lula ganharia no primeiro turno e, apesar de ter ganho como o mais votado no primeiro turno, fica parecendo que não ganhou. Parece uma derrota, mas na minha opinião não é, porque ganhar no primeiro turno significa 50% mais 1. Se você tiver 49,9%, você teve uma bela votação e não ganhou. Aqui na Bahia ele tem 67%. Eu creio que os xingamentos do senador nos ajudaram muito a vencer essa eleição.

ISTOÉ – E os xingamentos do Alckmin contra o Lula?
Wagner – Vão fazer o mesmo efeito. É só você ver as pesquisas. A estratégia
deles mudou, mas o povo não gostou.

ISTOÉ – A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é mais eficiente que o ex-ministro José Dirceu?
Wagner – Eu considero que sim. Ela se dedica exclusivamente às tarefas gerenciais do governo. Neste aspecto, ela se torna mais eficiente. O Zé Dirceu era um político na gestão e, portanto, é inevitável separar essas duas partes do mesmo ser.

ISTOÉ – Quem é mais eficiente, Palocci ou Mantega?
Wagner – Não é um problema de melhor ou pior. O Mantega tem um estilo menos contundente e acabou construindo em torno de si um leque de apoio maior. Mas é inegável o mérito do Palocci. Boa parte do que estamos colhendo hoje se deve a ele. Isso ninguém vai tirar dele. É um mérito que ele teve, de implementar um caminho que resultou nisso aí.

ISTOÉ – Mas crescemos pouco?
Wagner – Nos compararmos à Argentina é uma arrogância. O Alckmin ficou repetindo que a gente cresceu menos que a Argentina. Eu acho que estamos
vivendo um grande momento e acho que vale o crescimento continuado, independentemente do valor. Acho que a gente está consolidando uma cultura
de crescimento sem iniciação.

ISTOÉ – Quais garantias o eleitor terá de que não haverá novos dirigentes petistas envolvidos em corrupção e dossiês?
Wagner – Tenho a crença de que as pessoas aprendem as lições. A democracia não pode depender da bem-vinda honestidade de cada pessoa. Ela tem que ter instituições e estruturas que comprovem e que façam as pessoas temerem a lei. Estamos contribuindo com isso nesse governo. Uma Controladoria Geral da União independente, a Polícia Federal. Não posso garantir a integridade moral de quem quer que seja. Idoneidade independe de qualquer filiação partidária.

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