Deputado baiano é dono da construtora?
Artigo do jornalista Luís Nassif
Abusos de quem?
É curiosa a reação dos jornais contra os abusos da “Operação Navalha”. Acho que há abusos, sim, e tenho manifestado aqui minha opinião, como me insurgi no ano passado contra os abusos da cobertura jornalística; como venho me insurgindo, aliás, há 15 anos.
Mas e os jornalões? Após as loucuras do ano passado, em que se atirou primeiro, se perguntou depois, em que toda a mídia embarcou em uma catarse louca e irresponsável, que matou o jornalismo, o contraditório, quem pode falar em abusos? Quando alertei para o “suicídio da mídia”, me referia especificamente a isso, ao fato da mídia ter liquidado com sua legitimidade para a mediação.
Não se comemore essa desmoralização. Foi uma perda para o país, de um poder que poderia ter sido, e se matou. Continua influente, mas se tornou ilegítimo.
Segundo ponto: os abusos atuais só existem porque são publicados pela mídia. Ou não? Sem as matérias, os “vazamentos” sobre gravatas não teriam nenhuma importância. Ficaram relevantes porque a mídia conferiu tratamento escandaloso a eles. Assim como conferiu tratamento escandaloso a nomes que foram meramente citados em conversas.
O fato de se deixar para segundo plano informações relevantes – como o diálogo em que o deputado Paulo Magalhães é apontado como dono da construtora – não é outro abuso? Os mesmos jornais que fuzilam pessoas que receberam gravatas de presente não têm coragem de investigar indícios relevantes envolvendo pessoas influentes.
Há um abuso que independe da mídia: a prisão preventiva de um eventual inocente. Mas todos os demais abusos que os jornais condenam unanimemente, hoje, são abusos da mídia.
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