18 outubro 2006

Pesquisa reflete "guinada à esquerda"

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

Os marqueteiros têm uma regra que dizem fundamental em qualquer eleição. Quem dita a agenda da disputa possui mais chances de vencer. O tucano Geraldo Alckmin conseguiu levar a eleição presidencial para o segundo turno porque o dossiegate virou o grande fato da reta final do primeiro turno. O tiro no pé do PT produziu uma tremenda agenda negativa para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Assustado pela derrota política, pois cantou vitória na primeira fase, Lula não teve dúvida em recorrer ao arsenal pesado apontado pelas pesquisas qualitativas. E arrumou um jeito de fazer mais do que ditar a agenda deste segundo turno. Deixou Alckmin na defensiva.

O resultado dessa estratégia está refletido na pesquisa Datafolha divulgada nesta terça-feira. O petista ampliou consideravelmente a sua vantagem sobre o tucano. Em uma semana, subiu de 51% para 57%. Alckmin oscilou negativamente, de 40% para 38% --dentro da margem de erro da pesquisa, de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Lula fez um primeiro turno em posição olímpica. Evitou debates. Levou aos programas de TV apenas propostas. Foi muito econômico nos ataques e nas menções aos escândalos de corrupção. Havia sobrevivido politicamente ao mensalão. Julgava que a parada estava ganha, mas havia (e ainda há) um dossiêgate no meio do caminho.

No segundo turno, Lula desceu do pedestal e entrou no ringue. Articulou alianças políticas com voracidade. Mobilizou a máquina pública a trabalhar a seu favor. E colou em Alckmin dois carimbos colhidos nas suas pesquisas qualitativas e tidos como mortais para o tucano: o de defensor das privatizações e de algoz de recursos da área social.

Esses dois carimbos explicam o salto de Lula no Datafolha. O petista conseguiu pescar votos com alguma coloração ideológica que haviam se afastado dele por conta dos escândalos. A guinada à esquerda no discurso de campanha deu resultado. Seduziu parte substantiva do eleitorado de Heloisa Helena (PSOL) e de Cristóvam Buarque (PDT).

Nesta fase da campanha, Alckmin só faz dar explicações. Dia sim e o outro também, é ele quem diz que não privatizará a Petrobrás, que não vai acabar com o Bolsa Família. E repete a pergunta mais incômoda para o governo: qual a origem do dinheiro do dossiegate?

A menos de duas semanas da eleição, Alckmin retorna ao inferno político. Com a dianteira 20 pontos percentuais em votos válidos no Datafolha, Lula acumulou gordura para queimar até o dia 29, data do segundo turno. Apenas uma intervenção muito forte na agenda eleitoral, como uma revelação bombástica que atinja em cheio o presidente, teria chance de promover uma surpresa eleitoral.


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Rumores

Esta terça-feira foi dia de rumores no mercado financeiro. O mais forte dava conta de que uma revista de circulação nacional havia descoberto a origem do dinheiro do dossiegate.


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Bastidores

O Palácio do Planalto já trabalha com o cenário no qual a origem do dinheiro chegará a setores petistas. Auxiliares e ministros, porém, dizem que não haveria como essa operação atingir o presidente.

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