A virada da Bahia
Claudio Leal*
A virada de Jaques Wagner (PT) nas urnas é um desses fenômenos eleitorais que a política baiana deixou de oferecer há duas décadas. Precisamente, desde que Waldir Pires conquistou o governo do Estado. Em 1986, a euforia precedia a eleição, tragava sentimentos românticos de um País que não se concretizaria. Não houve derrota do carlismo. Quatro anos depois, os baianos puseram o retrato do velho outra vez: Antonio Carlos Magalhães (PFL) retornou ao Palácio de Ondina e impôs uma hegemonia que se prolongaria até a noite de ontem, 1° de outubro de 2006.
A batalha da Bahia não anunciava a vitória de Wagner no primeiro turno, com 53% dos votos. Somos todos profetas do acontecido. Haverá quem diga: "Eu não disse?" – e passará por cínico ou louco. Ninguém profetizou. Ninguém acreditou. Havia sinais da derrota de Paulo Souto (PFL), mas nenhum deles foi levado a sério. As sondagens de opinião cometeram erros grotescos. Ponham aí: gritantes. Captaram mal, muito mal, o sentimento que os baianos guardavam em casa. Havia sinais. Repito, porém: hoje, as ruas de Salvador e do interior baiano se enchem de profetas do consumado, que anunciam, com sabor de novidade, a queda da Bastilha de 1789.
Quando o presidente Lula declarou que iria à forra para derrotar o grupo carlista, o ressentimento transparecia. Apoiara o senador ACM no escândalo dos grampos telefônicos e, no auge da crise do mensalão, o aliado estratégico integrou a tropa de choque que queria vê-lo sangrar. Com a recuperação de sua popularidade, Lula assumiu as estrelas de general da batalha da Bahia. O ex-ministro, que a princípio caminhava para o sacrifício em favor do líder, era o ajudante-de-ordens: em filmes de guerra, acenderia a luz sobre o mapa.
A elevação dos ataques contra Wagner, no horário eleitoral, indicava que algo de estranho corria nos subterrâneos. Os comícios de Lula em Feira de Santana e em Salvador reanimaram a disputa. O tiroteio federal cativou o eleitorado anticarlista e o discurso do presidente, no Farol da Barra, demonstrou que a vitória do PT na Bahia se tornara uma questão pessoal. Lembro-me de vê-lo, depois do comício, na esquina da Rua Barão de Itapoã, no carro oficial. Comia biscoitos e dava risinhos perversos.
Em entrevista coletiva, Wagner reconheceu a diligência do companheiro: "50% dos meus votos são do presidente Lula". Na condição de vitorioso ferido, criticou os cochilos e equívocos da imprensa. "Agora, quem tem que se explicar são os institutos de pesquisa". O resultado final soa como rebelião. O candidato do PFL admitia uma segunda batalha, mas nunca a troca de posições. Confirmada a cambalhota, o buzinaço torturou os pefelistas em Salvador. Policiais militares, sem amarras, sorriam e aplaudiam o cortejo dos novos comandantes. De madrugada, na orla, as luzes dos apartamentos anunciavam a noite insone.
O desempenho do PT baiano é o consolo de Lula. Surpreende porque a crise dos dossiês atrapalhou os candidatos petistas em todo o País. Aqui, não. A alta popularidade do presidente no Estado insinua uma transferência de votos expressiva para Wagner. A virada da Bahia pode significar tudo, inclusive o outono de um patriarca. No futuro, esperanças traídas ou página virada. Por ora, o sobressalto. Eu não disse?
Claudio Leal - Jornalista da editoria de Opinião de A TARDE.
e-mail: cleal@grupoatarde.com.br
Um comentário:
Não creio que houve a mudança por causa da força do PT e de Lula, assistindo o Wagner, creio mais na desilusão do povo baiano, principalmente do interior, em ver um grupo politico mandar em um estado e nos moldes do coronelismo.
O triste é que se anuncia um governo nos moldes do que aconteceu com uma prefeita elita pelo povo contra o Carlismo e ela caiu em desgraça, em seis meses o povo baiano estará pedindo a cabeça de Wagner.
Triste Brasil.
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