25 março 2007

Teia de Aranha

Gerônimo de Oxossi *


Comecei a trabalhar em redação aos 18 anos, cobrindo esporte e polícia. Garoto antenado, logo travei contato com gente de todo tipo e descobri como trabalhar em imprensa abre caminhos. Em pouco tempo, já era amigo de uma fauna composta de agentes de polícia, informantes, juízes, delegados e técnicos de futebol.

Não demorou muito e conheci alguns políticos: vereadores, prefeitos dessas cidadezinhas que ficam em volta de Itabuna, sindicalistas e agitadores de toda espécie. Encontrava-os no dia-a-dia e, inevitavelmente, no “noite-a-noite” dos bares, boates, bregas e cafuas.

A rede de amizades e o respeito que o meu trabalho despertava me garantiram alguns empregos extra-redação. Tornei-me, assim, assessor de múltiplos clientes, a maioria antigas fontes que agora me queriam como uma espécie de porta-voz. Alguns gostavam de mim, mas quase todos tinham um medo não-confessado daquele menino ligado e, ainda, independente. Contratar-me era uma forma de me controlar.

Pois é, nem bem deixara de ser foca e logo estava me metendo com assessorias. No jornal, ganhava pouco mais de um salário mínimo, enquanto umas poucas assessorias chegavam a me valer até dez salários. Novo, solteiro e cheio de tesão, não havia como recusar.

Com grana no bolso, nem percebia que ficava cada vez mais difícil fazer jornalismo. Quem eu poderia criticar, se eram quase todos meus clientes ou amigos? Havia sido derrotado pelo vício.

O que veio em seguida foi uma quase total degradação pessoal e profissional, que me deixaram de herança uma separação, poucos amigos verdadeiros e apagaram quase por completo aquela chama do foca talentoso.

A verdade é que eu, que só fazia análise na “barmácia”, passei a fazer terapia. A bela e gostosíssima psicóloga deduziu que, se eu não saísse da teia, seria devorado pela aranha. À primeira vista, a idéia não me pareceu ruim, mas a aranha de que ela falava era outra. Saí do meu transe sexual e comecei a pensar seriamente na necessidade de passar por um recall, diminuir o ritmo.

É o que venho tentando fazer nesses dias. Voltei a escrever somente em jornal, larguei as assessorias e passei a guardar uma distância saudável das minhas fontes. O orçamento tá apertado, mas a sensação de paz e dignidade compensa de sobra.

* Gerônimo de Oxossi escreve para o Blog aos domingos

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