Puxassaquismo
"Puxar saco de político é degradante. Infelizmente, todo verdadeiro puxa-saco é vidrado em político. Esta condição intransponível dos puxas é que levou o ditador Getúlio Vargas à Academia Brasileira de Letras.
Casos semelhantes pipocam por aqui. Escolas, fundações e avenidas batizadas com o nome de um dos Magalhães representam o mais exato puxa-saquismo. Nelson Rodrigues escreveu sobre o tema. Ele fuzilava o universo dos puxa-sacos. Dramaturgo dos bons, reli dele, dia desses, “Valsa Número 6” (1951), um texto teatral incompreendido e poético, montado em Itabuna por Mateus Saron.
Entusiasmado com o êxito do monólogo “As Mãos de Eurídice”, de Pedro Bloch, no ano anterior, Nelson Rodrigues decidiu fazer uma peça barata e, ao mesmo tempo, atrativa para a estréia de sua irmã caçula, Dulce Rodrigues, como atriz. A peça não teve alcance popular, mas foi considerada pelos críticos um valioso texto.
O solilóquio da menina morta, que fala sozinha e toca no piano sempre a mesma “Valsa nº 6”, de Chopin, funciona como um poema dramático. As frases são repletas de lirismo e ritmo. A imaginação delirante e incansável do autor justifica frases como “quando chove em cima de uma igreja, os anjos escorrem pelas paredes”.
Antônio Júnior, em Diário do Sul (clique aqui e leia a coluna)
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