10 maio 2007

Um padre, a Coca-Cola e Bento 16

Jorge Félix

O padre Antônio Marcos Câmara, da Paróquia São Judas Tadeu, em Pirituba, um bairro pobre de São Paulo fora do trajeto do Papa Bento 16 em sua visita à cidade, tem uma boa história para contar a Sua Santidade.

Enquanto o cardeal Ratzinger passou toda a sua história buscando reaproximar a igreja da vida das pessoas com idéias completamente anacrônicas, como a luta contra a teologia da Libertação, a proibição do uso de preservativo, a condenação ao segundo casamento e agora - nesta visita - o combate ao aborto, padre Antônio vive uma experência muito menos polêmica e muito mais eficiente.

Em busca de recursos para a campanha da Fraternidade (contou a jornalista Angela Klinke, há alguns dias, em sua coluna no jornal Valor), o padre conseguiu tocar a sensibilidade dos jovens pedindo simplesmente para eles doarem à igreja tudo o que gastariam comprando coca-cola e outras guloseimas e fast-food. Foi uma forma de atraí-los para a causa e, ao mesmo tempo, combater um problemão de saúde pública: a obesidade infantil e juvenil.

Muitas meninas adoraram a idéia. Era a desculpa que faltava para fazerem dieta. Algumas emagreceram vários quilos. Na cabeça delas, era preciso para ajudar a Amazônia, tema da campanha da fraternidade deste ano.

É bem provável que Bento 16 deixe o Brasil revoltado porque o presidente Lula fez-se de desentendido quanto a seu pedido de obrigar as escolas a ensinarem o catecismo ou - sobretudo - quanto ao aborto. É provável também que Bento 16 volte para Roma sem conhecer Padre Antônio e ouvir como este religioso simples, de uma paróquia da periferia conseguiu o que o grande intelectual Ratzinger vem tentando há anos: participar da vida da família.

A idéia de Padre Antônio mostra que a igreja católica, embora esteja perdendo fiéis no Brasil a um ritmo razoável, ainda tem uma influência enorme por sua capilaridade. A igreja é um poder anestesiado por sua miopia para enxergar o tempo presente.

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