ENTREVISTA: Candidatura própria é questão fechada para o PT em Itabuna

Era dia de lançamento de campanha contra a febre aftosa e o Pimenta foi encontrar o secretário estadual de Agricultura, Geraldo Simões, na fazenda João Paulo II, entre Itabuna e Buerarema. No momento em que nos aproximamos, o entrevistado conversava animadamente com o empresário José Oduque, militante do DEM no município. Não falavam de política, mas sobre o velho Del-Rey que o pão duro mais famoso de Itabuna insiste em usar há mais de 20 anos.

Estávamos gostando e rindo da conversa, mas tivemos que entrar no assunto que realmente interessava: a sucessão municipal.

Geraldo falou sobre indecisões e também sobre pontos firmados, como o de que o PT terá candidato próprio a prefeito de Itabuna. A entrevista aborda também a possibilidade de apoios, como o do PMDB, PCdoB e até do PSDB, apesar de o secretário reconhecer que o pré-candidato tucano no município tem uma “má-vontade histórica” com ele.

Essa é a primeira de uma série de entrevistas que o Pimenta fará com as principais personalidades da sucessão municipal, em Itabuna e Ilhéus. Da conversa com Geraldo Simões, também participou o jornalista Domingos Matos, editor d’O Trombone.

Pimenta – Seu trabalho na Seagri tem boa avaliação e hoje você é também o nome que está na dianteira das pesquisas de intenção de voto para prefeito de Itabuna. O que mais lhe atrai, permanecer na Secretaria ou disputar a eleição?

Geraldo Simões – Eu tenho dúvidas. Entendo ser importante que essa cidade volte a ser administrada pelo PT, para aproveitar a circunstância favorável de ter prefeito, governador e presidente do mesmo partido. Quem ganhar as eleições desse ano e tomar posse no dia 1º de janeiro vai ter que fazer dois governos num só. Vai ter de governar para recuperar e fazer o que não foi feito por esse governo que está aí e trabalhar pela sua própria gestão nos próximos quatro anos. E só se pode fazer isso com o apoio do governador e do presidente da República. Estou muito convencido e muito ciente dessa situação.

Pimenta – Então você será candidato?

GS – Como disse antes, eu ainda tenho dúvidas. Desde Gileno Amado, nunca Itabuna conseguiu ter um secretário de peso no Governo da Bahia, como temos hoje no governo Wagner. Tivemos antes Gileno Amado, que foi nos anos 60. Na minha avaliação, a falta de um secretário aqui da região no Governo do Estado compromete o repasse de recursos.

Pimenta – Por que?

GS – Quando se está discutindo o orçamento do Estado, é uma tendência natural que o secretário de determinada região pense mais onde ele pisa. Eu tenho dúvida sobre onde posso servir melhor a Itabuna e à região, se como prefeito, como secretário de Agricultura ou até mesmo como deputado federal. Daí eu dizer que se a candidatura de Juçara (Feitosa), que é uma coisa que ainda temos comentado apenas em círculos pequenos, demonstrasse uma certa possibilidade, viabilidade, eu acho que a gente poderia ter a cidade governada pelo PT, com uma boa relação com Wagner e com Lula e eu como secretário de Estado ou como deputado federal, tratando dos interesses de Itabuna e da região.

"Já conversei com o PCdoB, embora sem ainda tomar decisão. Não conversei ainda com o PSB e tem o PMDB, com o qual eu também estou conversando".

Pimenta – Mas você falou "se" a candidatura de Juçara demonstrasse viabilidade. Isso significa que esse projeto desandou?

GS – Não, a verdade é que esse tema foi pouco debatido. Foi uma idéia que surgiu em dezembro e, de lá pra cá, veio Natal, Ano Novo e Carnaval, e não se teve debate sobre o assunto. Mas ainda temos um tempo para ver isso.

Pimenta – O importante, na sua opinião, é que o candidato seja do PT?

GS - Eu chamo atenção de vocês do blog e dos seus leitores para que vejam se estou falando alguma bobagem quando avalio que é bom que a cidade seja governada por um quadro do PT, mas é bom também que a região tenha um secretário de Estado ou um deputado federal. Acho que as minhas dúvidas são procedentes.

Pimenta – Existe a possibilidade de o PT abrir mão da candidatura própria?

GS – Não, não há, porque um partido que está dando esse banho de governo em nível federal, que em quatro anos consegue tirar 20 milhões de brasileiros da pobreza... Nunca os filhos das famílias de classe baixa foram tanto para a universidade como estão indo agora. Ninguém jamais imaginou que viéssemos a dizer que hoje nós temos saldo para pagar toda a dívida externa e ainda ficar com dinheiro em caixa. Então, um partido desse tem naturalmente o direito de eleger o prefeito de uma cidade importante como Itabuna. Resumindo, então, não tem a mínima possibilidade de o PT apoiar um outro candidato que não seja do PT.

Pimenta – Como estão as conversas com os outros partidos?

GS – Eu tenho conversado com o PTB, com o PR, o PMN, o PSC, o PHS. Já conversei com o PCdoB, embora sem ainda tomar decisão. Não conversei ainda com o PSB e tem o PMDB, com o qual eu também estou conversando.

Pimenta – A composição com o PMDB seria com o Capitão Fábio na vice?

GS – Pode ser uma vice para o PMDB, o compromisso nosso do PMDB participar do governo e o nosso apoio à reeleição do deputado estadual do partido.

Pimenta – Isso passa por um apoio do PT ao PMDB em Salvador?

GS – Não, eu estou tratando das questões no município. Não estou relacionando Itabuna com Salvador. Lá são outras lideranças, outra frente política, eu estou me referindo a Itabuna. Eu gostaria de fazer esse acordo com o PMDB local e com o deputado estadual Capitão Fábio, e o que definirmos aqui levar para as direções estaduais, tanto do PMDB como do PT.

Pimenta – E o PSDB?

GS – O PSDB, eu soube que tem candidato em Itabuna. O partido é nosso adversário nacionalmente, mas na Bahia ajuda o governo do Estado.

Pimenta – Você acredita na possibilidade de uma ação da executiva estadual do PSDB, que leve os tucanos a se aliarem ao PT em Itabuna?

GS – Acho muito difícil, porque o candidato do PSDB em Itabuna tem uma má-vontade histórica comigo. Mas como a lógica permite que a executiva estadual trate de assunto do município, não é impossível que tenha esse entendimento nosso com o PSDB.

Pimenta – Que avaliação você faz do governo Wagner?

GS – O governador pegou uma barra muito pesada no primeiro ano, quando encontrou R$ 600 milhões de restos a pagar e pagou tudo. Organizou a casa direitinho, e nunca um governo do Estado trouxe tanto dinheiro de Brasília como Wagner está trazendo. Aliás, Wagner dizia na campanha que era bom a casadinha, governo do Estado com governo federal. O PAC trouxe R$ 1,3 bilhão. O Territórios da Cidadania, que a Bahia vai ter quatro, será mais de R$ 1 bilhão. Fora o conjunto de obras importantes, como o aeroporto de Ilhéus, a ferrovia que liga Luís Eduardo Magalhães a Brumado, muitos recursos para a área social, Luz para Todos, enfim, há muito tempo eu não vejo esse Estado em uma situação tão favorável.