22 março 2008

Proteção ao ambiente... de atraso

Ricardo Ribeiro*

Quase 700 mil toneladas de produtos deixam de ser embarcados anualmente em portos baianos, por conta da falta de infra-estrutura. A Bahia perde para Pernambuco, Ceará, Espírito Santo e Rio de Janeiro um volume de cargas equivalente a 39% do que exporta. Prejuízo grande, que o governo do Estado pretende eliminar com investimentos na estruturação das unidades portuárias de Salvador, Aratu e Ilhéus, além da instalação de mais um porto na costa ilheense.

Admira a pesada reação que alguns setores opõem à construção do novo porto na terra de Jorge Amado, cuja população ainda parece acreditar na possibilidade de um progresso que decorra, única e exclusivamente, de suas belezas naturais e do fato de que o célebre escritor viveu a infância nas imediações do Vesúvio.

As críticas ao projeto do governo espantam porque não se revestem de dados concretos sobre o suposto impacto ambiental. Aliás, impacto certamente haverá, mas será tamanho a ponto de condenar o porto?

O interesse pela conservação do local onde será construído o terminal portuário, uma Área de Preservação Ambiental (APA) no litoral norte de Ilhéus, é legítimo, mas ser liminarmente contra o projeto é equivocado. A principal questão a ser respondida é se o impacto ambiental será administrável ou sustentável. Em sendo, faça-se a obra, que pode permitir a Ilhéus reencontrar o caminho do desenvolvimento.

Aliás, não custa lembrar que a cidade já foi um grande centro de distribuição de produtos para todo o sul da Bahia, até que Itabuna passou a ser beneficiada pelas BRs 101 e 415. Começava aí a história de que Itabuna tem um comércio forte, enquanto o da cidade vizinha capenga.

Não há que se buscar explicações em oráculos, pois a única resposta é infra-estrutura. Quem não tem, fica “a ver navios” e até comemora a chegada de transatlânticos que estacionam por 10 horas no porto do Malhado e vão embora, deixando os nativos com os corações orgulhosos e bolsos não muito cheios, mas com uma felicidade inexplicável de quem aprendeu a se contentar com pouco.

O que espanta com relação às críticas ao novo porto é a sua má-vontade escancarada, como se os que são contra a idéia já estivessem certos de que ela é imprestável. Falam com tal convicção, que podem até acabar convencendo o governo a levar os investimentos para outras águas, como as da bacia de Camamu. E um dia os arautos do subdesenvolvimento vão chorar e reclamar porque Ilhéus vive tão desassistida.

Para apimentar essa polêmica, é possível lembrar alguns exemplos de que o meio ambiente em Ilhéus não tem sido assim tão bem protegido como deveria. Aliás, a destruição ambiental é tranquilamente aceita no município em situações que não traduzem a busca pelo desenvolvimento.

Ilhéus permite que seus manguezais, berçário de inúmeras espécies marinhas, sejam invadidos por construções ilegais. A fantástica Mata da Esperança, uma das maiores florestas urbanas do Brasil, tem sido devastada diariamente e não demora a ser ocupada por favelas (é só passar pelo Banco da Vitória para ver que alguns barracos já foram construídos na encosta da mata).

E mais: todo o esgoto do Pontal é despejado na baía sem tratamento, o mesmo acontecendo com os dejetos de praticamente todos os municípios, distritos e povoados cortados pelos rios Cachoeira, Almada, Santana, entre outros. É inaceitável que o xixi e o cocô de oitenta e cinco por cento dos mais de 210 mil habitantes de Itabuna acabem despejados in natura no litoral de Ilhéus, depois de poluir o Rio Cachoeira.

É inaceitável, mas contra esse tipo de destruição ambiental o ilheense não se manifesta. Pensando bem, “inaceitável” não é a melhor palavra. Mais correto seria dizer “inexplicável”.
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*Advogado e jornalista

6 comentários:

Anônimo disse...

Perfeita sua cronica, sintetiza o pensamento do povo ilheense. Obrigado por sua ajuda.
Os contrarios ao desenvolvimento e progresso perene, serão policiados pelos blogs. Nós podemos.

Anônimo disse...

Muito boa asua posição, nós verdadeiros ilheense estamos cansados destes empresarios da área de turismo que prometem mundos e fundos e não acontece nada, emprego so na alta estação,e olhe lá, sem carteira assinada e agora estes ecologista que não fazem nada pelo pontal sem rede de esgoto, rios poluidos, e quando chega uma esperança para o povo de Ilhéus eles são contra. Que venha o porto. Paulo de Tarso

Anônimo disse...

Se o cocô e o xixi de 85% dos itabunenses são despejados em Ilhéus, não podemos esquecer de que 100% do dinheiro reservado ao lazer pelos nossos conterrâneos também são despejados naquela cidade.
P.Jatobá (Castália)

Anônimo disse...

Deixemos de lado essa discussão anacrônica do xixi e do cocô e passemos ao que interessa. Desde a década de 20 que as "forças do atraso" impulsionam Ilhéus. Há referências na literatura de Jorge Amado, principalmente no cinquentão Gabriela...

Portanto, Ilhéus e sua gente deve ficar atenta aos oportunistas vindos não se sabe onde que continuam a impulsioná-la à marcha ré. Os empreendimentos turísticos ganhos da década de 80 para cá em nada mudaram o cenário econômico. Cadê os empregos do Hotel Jardim Atlântico,Jubibá, Cana Brava Resort, Tororomba e outros?

A redenção estaria no Pólo de Informática. Quem está ficando rico com a produção de microcomputadores na cidade? São os ilheenses que têm salários altos? Ou quem investe seu capital e obtém retorno maior do que aplicação financeira em tempo de economica aquecida?

Pobre Ilhéus!!!!

Allah Góes disse...

Parabéns Ricardo,
Seu comentario e as comparação são bastante pertinentes.
O q hoje existe em Ilhéus são uns pseudo-ecochatos, q nào conseguem ver q nossa Regiào precisa é de alternativas para continuar a se desenvolver.
O Porto não irá beneficiar somente Ilhéus, mas toda a nossa Regiào q disporá de um local com infra estrutura para nào ter q ver as riquesas baianas serem exportadas em outros Estados.
De a muito o Porto do Malhado é insuficiente e sem infra estrutura necessária ao escoamento de qualquer tipo de produção, necessitamos, e é para ontem, de um novo Porto e para isto, é possível, dentro do racional, se preservar o meio ambiente, mas sem se esquecer os empregos diretos e indiretos q o novo Porta trará a nossa Região.
Uma vez mais Parabéns pelo artigo

Anônimo disse...

Cap. Nascimento diz:

Um porto não é um ativo que produz algo na região. É apenas passagem de mercadoria e gera pouquíssimos empregos e alguma arrecadação (que o povo não vai ver a cara). Talvez fosse melhor para o município os grandes empreendimentos tuísticos previstos para a região, que pelo visto agora vão por agua abaixo.