14 agosto 2006

Guerra instalada


Quem estava acostumado a assistir aos vídeos da Al-Qaeda, na TV árabe, agora conheceu o poder de fogo do Primeiro Comando da Capital (PCC). Não é mais uma mera organização criminosa. Superou essa condição, para configurar-se como uma estrutura política, com viés terrorista.

Não é motivo para susto, pois é fato conhecido, porém nunca admitido oficialmente, que o Brasil vive em guerra civil. O sistema carcerário é uma panela de pressão, que engrossa o caldo da criminalidade. Prato preparado tendo como principal ingrediente a desigualdade social, com o tempero da desfaçatez com que os políticos conduzem o Estado.

No Brasil, político finge que governa, legislador finge que defende os interesses do povo e este, que não é bobo, finge que não sonega imposto, faz de conta que respeita as leis de trânsito e que não lava o carro com mangueira. É um país feito para não funcionar, onde a leviandade é a regra. Mas, claro, um país desse também só pode fingir que dá certo. Como se esculhambação pudesse gerar algo positivo, ou esperássemos ver belas flores brotando em um lamaçal.

Por esse motivo, somente tolos ou hipócritas podem se espantar com o PCC na Globo, com as invasões do MST, as rebeliões nos presídios. Tudo isso é normal, em um país onde a anormalidade é a regra. Anormal só as novelas, mostrando vidas de mentira em horário nobre, uma anestesia para mentes ensinadas a não pensar.

Ninguém quer refletir porque o País é rico, mas o povo é pobre. Quer dizer, ninguém "vírgula". De uns anos pra cá, nasceu um movimento revolucinário radical, com táticas de guerrilha, com inspirações que vão do hip-hop ao Comandante Marcos, João Pedro Stedille e Bin Laden. Saiu dos présídios para exigir espaço na maior rede de televisão do Brasil. Dois dias antes do Horário Eleitoral Gratuito, o PCC inaugura o seu canal direto com a população e apresenta a sua propaganda política.

Quem se espantou deve preparar o coração para emoções mais fortes. Logo, logo, eles estarão no horário nobre, junto com os ladrões que levam dinheiro na cueca e voltam ao poder nos braços do povo. Esse povo que se acostumou a fingir e, parodiando Pessoa, "finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente".

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