11 março 2007

Altenor Bastão

Gerônimo de Oxossi *

Comecei a trabalhar em jornal no tempo em que as Olivetti ditavam o ritmo nas redações. Para não ser atropelado, aprendi a usar o computador, mas ainda guardo minhas desconfianças desse bicho. Uso a internet timidamente, somente para o essencial mesmo. Esses sites que nos permitem formar redes de contatos e encontrar velhos amigos são “coisas” que eu ainda não me atrevo a desvendar.

Mas hoje senti vontade de deixar a resistência de lado e usar a internet para encontrar um amigo das antigas, que simplesmente sumiu do mapa. O chapa é um gentleman do tipo que não se acha facilmente por aí. Jornalista de texto primoroso, exímio conhecedor de vinhos, solteirão convicto e grande apreciador de belas mulheres.

Fiquei a pensar por onde andaria o velho Altenor Bastão, o único amigo que me fazia substituir a loira gelada por um legítimo merlot chileno. Coisas de gente chique, embora eu sempre tenha me sentido mais à vontade nos botecos do Beco do Fuxico e do Pontalzinho. Mas Altenor é aristocrático sem ser chato e pedante, e a única coisa que sempre lhe incomodou foi a mediocridade.

Há alguns anos, o amigo publicou uma coluna apimentadíssima em um jornal que teve vida curta, porém repleta de furos estrondosos. Altenor, que sempre criticou a leniência dos jornais da terrinha, acreditou no projeto da nova publicação e não se arrependeu. Seus textos, ao mesmo tempo que revelavam o estilo bon vivant do autor, cutucavam os poderosos de plantão.

O problema é que os poderosos não gostam de ser cutucados. Eles revidaram as notas do Altenor e as matérias explosivas do jornal com um boicote ao qual a jovem publicação não resistiu. Desde então, o velho jornalista, que vive bem graças a uma bela herança, passou a emendar uma viagem atrás da outra e nunca mais desembarcou por aqui.

Entrei no tal site para ver se localizava o amigo, mesmo sabendo que Altenor Bastão não é homem de redes de relacionamento virtuais. Obviamente, não o encontrei. Comecei a pensar que talvez fosse verdade aquela história de que o velho companheiro de noites regadas a vinhos e beldades passou recentemente por Ilhéus, a bordo de um desses transatlânticos que viajam pela costa brasileira.

Disseram que ele sequer desceu do navio.

*Gerônimo de Oxossi passa a escrever neste Blog todos os domingos.

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