O requiém, a história e os ciclotímicos
Luiz Conceição*
Como a provar o que os blogs estão causando nos sistemas de mídia conhecidos, a resposta ao artigo do dono do jornal Agora sobre o suposto fim do ciclo de vida da cinqüentenária Ceplac publicada no Pimenta na Muqueca pelo publicitário Gérson Menezes e um curto comentário de LC me alçaram à posição de personagem deste enredo. Mesmo nada tendo digitado, embora tenha lido os citados textos.
Para situar o eventual leitor, devo dizer que blog é um diário digital na internet, que pode ser visto por seus amigos, desconhecidos e detratores. Como não exige cadastro prévio, assinatura ou qualquer outra identificação, mesmo quem não se põe a comentar nos blogs da vida pode sofrer conseqüências, apenas pela livre associação de duas letrinhas ao próprio nome. Dadas as informações, vamos ao que interessa para não entrar no Credo por omissão, como Pôncio Pilatos.
Considero que José Adervan exagerou ao proclamar o réquiem da Ceplac, nascida Comissão Executiva, com objetivos claros, e talvez por isso não institucionalizada, ao longo de cinco decênios, até por temor, reverência política ou desinformação dos produtores de cacau a quem destinava seus serviços. A fartura de recursos orçamentários, equipamentos e cérebros não foram suficientes para lhe dar a sobrevida jurídica que há poucos anos entrou na mídia estadual por iniciativa de políticos e alguns, como premissa em busca de votos e status quo.
Mas ao ouvir insistentes falatórios sobre o meu suposto comentário neste blog, pela simples associação do LC, outra alternativa não me restou senão a de expor o que penso sobre este e outros temas. Primeiro, devo dizer de minha decepção pela omissão coletiva do Homem sul-baiano quanto à participação na discussão de assuntos que a todos afetem. Poucos emitem opiniões favoráveis ou contrárias ou vice-versa, preferindo sempre “fazer a segunda”, ou seja, dar apoio velado à determinadas posições sem que seja preciso se expor.
Depois, é preciso dizer que, se atualmente não enxergamos o fundo do poço em que nos metemos, tudo é conseqüência dessa inação perversa. Tivéssemos tido a coragem de dizer o que pensávamos, sentíamos e queríamos, a região sul da Bahia seria outra, mesmo contra a vontade dos velhos e novos coronéis da velha Bahia e seus acólitos. Mas, com os dólares americanos gerados para uma minoria pelos caçuás de amêndoas de cacau no tempo das vacas gordas, nos imaginávamos capazes de a tudo comprar - desde a felicidade, o futuro, até o Paraíso.
Acredito que os jornais, as emissoras de rádio e TV devem ser canais naturais para que possamos debater, desde os sistemas de saúde, educação, segurança, condições de vida e trabalho, universidade pública a instituições publicas e privadas, que queremos e somos capazes de construir e manter, visando o futuro. Debater sem censuras abertas ou veladas, vaias ou aplausos, mas com as idéias que cada um de nós tenha e deseja ver criticada, sem má-fé ou oportunismos.
A extinção do Instituto de Cacau da Bahia (ICB), Conselho Consultivo dos Produtores de Cacau (CCPC), Sistema e cooperativas singulares deve ser lamentado, com indignação, pela coletiva omissão. Pouco adianta o réquiem precoce para uma instituição que pode corrigir rumos, mesmo tendo viés político desde sua criação em 1957, ano que nasci. Nem se cultuar a memória em nome de uma história da qual somos incapazes de reflexão ou autocríticas. Sob pena de os próximos 50 anos serem marcados por curtos períodos ciclotímicos, ou seja: euforia e depressão, sucessivamente...
Luiz Conceição é repórter e bacharel em Direito, cujos textos profissionais assina como LC.
2 comentários:
Simplesmente lapidar.
Falou, falou e não disse nada!!!
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