Como são chiques as vacas do prefeito
Gerônimo de Oxóssi*
Sempre quis ser jornalista, não tanto pela vontade de contar histórias, mas principalmente para saber delas. Fuço em todos os cantos, nas esquinas, cartórios e, principalmente, nos botecos. O que ouço no Pontalzinho em meia hora de copo dá para encher uma página. Nesse reduto da nossa boemia estão as minhas melhores fontes.
Escuto com atenção os anônimos, esses que os medalhões olham com desprezo. Aprendi que todos têm uma história, embora alguns dificultem o nosso serviço. Não tem problema, a pescaria na Ponta do Ramo me ensinou a ter paciência.
Pois foi num dia em que o mar parecia estar desabitado, que levei para casa uns peixinhos interessantes. Estava em uma mesa na Praça do Trabalho, quando veio andando naquele passo de malandro o Tonho Pau de Merda, também conhecido nos pagodes como TPM. O cara tinha esse apelido escatológico por uma safadeza dos tempos de moleque na Rua União Operária, quando inventava uma briga e deixava um porrete todo borrado na mão do primeiro besta que aparecesse.
Tonho foi logo se sentando e pedindo um copo à garçonete, uma morena gostosa e que, pior ainda, sabia que era gostosa. Enquanto ela partia em busca de uma cerva gelada, miramos sincronizadamente aquela bunda provocante e, como sempre, o Tonho foi o primeiro a retornar os olhos para a mesa, enquanto eu permanecia hipnotizado. Relutante, desviei o foco e encarei o pilantra, como eu o chamo sem pretensão de ofender.
Depois de um gole, o amigo começou a falar. Ele é do tipo que economiza palavras, fala pouco e vai direto ao assunto. Mas dessa vez, eu cheguei a pensar que o Tonho Pau de Merda tivesse batido a cabeça em algum lugar. Foi apenas a primeira impressão, desfeita logo em seguida.
Bom ouvinte que sou, escutei a viagem do Tonho. Ele havia sonhado que a fazenda do prefeito Zé da Fivela em Bom Jesus da Lapa tinha sido presente de uma grande indústria que produz meias, camisolas, ceroulas e outras peças íntimas. Interpelei o Tonho, afirmando que o seu devaneio noturno não era sandice coisa nenhuma, era sim uma boa pista, o amigo tinha dom premonitório. Pai Caló, que sabe de todas as coisas, já tinha me falado a respeito da tal fazenda, uma retribuição da empresa às mesuras feitas pelo prefeito, obviamente com o chapéu alheio.
O Tonho não se consulta com o babalorixá, é católico de ir à missa todos os domingos. Agora eu descubro que Pau de Merda tem visões.
- Gerônimo, no sonho eu chegava na fazenda e via as vaquinhas todas de meia-calça. Coisa de doido! – contou o amigo.
E eu, nesse dia de mar aparentemente estéril, juntei os peixinhos no samburá e tive a certeza de que ali estava uma boa pista.
*Jornalista e médium
2 comentários:
Não entendo a fixação de vcs. Larga meu prefeito Fernando Gomes. E se a Trifil deu isso ou aquilo... problema dela!
O comentário acima não tem o menor sentido. Qualquer semelhança dessa história com a realidade é coincidência.
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