09 abril 2007

Por uma Concessão Divina

Gerson Menezes
publixcriativo@hotmail.com

Deus, onipresente e onisciente, na sua infinita sabedoria, olhando as misérias deste mundo, bem que poderia fazer uma “concessãozinha” dentro da ordem natural das coisas que ele mesmo estabeleceu. Não seria muito. Apenas e tão somente, que não deixasse morrer as pessoas boas e devolvesse a vida aos que já se foram.


Deus sabe que não estou me referindo as “boazudas”. Refiro-me àquelas pessoas que, independentemente da classe social, poder econômico, espírito caritativo ou outro qualquer atributo que a destaque entre as demais, façam tanta falta ao partirem a chamado do Divino, deixando entre nós uma lacuna tão imensa que nos parece que nunca será preenchida. Na minha santa ignorância sobre os desígnios divino, penso que não mudaria muito o equilíbrio das coisas. Continuariam sendo maioria esmagadora os que não fazem falta quando vivos e muito menos depois de mortos.

Mas, se Deus pudesse fazer essa concessão, ficaria o exemplo maior de que vale a pena ser honesto e justo nessa vida. Seria a premiação aqui mesmo na terra, pelas inúmeras virtudes que alguém pudesse cultivar. Deixaria a critério de Deus o julgamento dos méritos de cada um. Claro que não poderia ser de outra forma, sendo Deus o concessionário da vida e da morte, só a ele caberá também a escolha dos premiados.

Porém, já que sou o ousado portador desta insolente solicitação, me arvoro a fazer algumas modestas sugestões a respeito: Que tal se fosse devolvida a vida aos pais, que, por seus exemplos de vida, fossem nosso oráculo permanente de consultas; a Juscelino Kubstchek e a Carlos Lacerda, para a política brasileira (porque Lacerda era a consciência crítica de Juscelino); e Frank Sinatra, Elvis Presley e Elis Regina, para a música.


Para a poesia, Castro Alves e Firmino Rocha (nosso poeta maior, esquecido por nós, seus conterrâneos, e lembrado pelo mundo no painel da entrada da sede da ONU, com a sua “Ode à inocência”, com o título “Deram Um Fuzil ao Menino”). Devo parar por aqui, para não cometer mais injustiças. No entanto, com a permissão divina, ouso acrescentar a esta lista de seletos, José Correia da Silva - o nosso conhecido Juca Alfaiate.

Deus, eu não consigo antever, quando e quem, poderá suprir entre nós a falta que “seo Juca” fará? De onde surgirá alguém com tamanha sensibilidade e perfeccionismo de detalhes ao costurar um terno masculino? Quem, como ele, fará o grito de gol em um estádio lotado, ficar gravado em nossas mentes por anos a fio?


Quem dentre nós dançará com a sua inseparável Isabel, esposa e companheira pela vida inteira, um tango à brasileira? Quem beberá por toda uma noite sem tropeçar nas próprias pernas, sem alterar a voz mansa e sem perder jamais a “fleuma de lorde inglês” que era a sua principal característica mulata?

Senhor Deus, sei que o Senhor perdoa a minha impertinência. Já que o Senhor me deu o livre arbítrio, suponho que não tomará como ofensa da minha parte essa presunção de que serei pelo Senhor ouvido. E, se possível atender, que assim seja...Amém!

Gerson Menezes é publicitário

Um comentário:

Anônimo disse...

Sr. articulista,

acompanho os seus artigos e diria que, a cada dia, você vem superando a minha expectativa.

Parabéns por ter essa grande sensibilidade e criar tão lúcido e, ao mesmo tempo, emocionante texto.

Realmente, as criaturas boas fazem falta neste mundo onde a lei de Gérson (nada a ver com o sr.) é o que impera.

Parabéns, e nos brinde sempre com essa 'pena' que acrescenta a quem lê.