20 novembro 2007

Parafraseando o Capitão Nascimento

Marcos Alpoim
marcosalpoim@hotmail.com


“02 tu é um fanfarrão”.

“Põe na conta do Papa!”.

“Pede pra sair, pede pra sair!”.

Tarefa difícil encontrar alguém que nos últimos dois meses não escutou, pelo menos uma vez, alguma das frases mencionadas acima, seja em casa, seja na rua ou até nos mais sofisticados ambientes. Realmente é inegável o sucesso de crítica auferido pelo filme “Tropa de Elite”, dirigido pelo cineasta José Padilha.

É aproveitando a febre em que se tornou tal filme e a impressionante popularidade alcançada pelo seu principal personagem, o temido, respeitado e incorruptível Capitão Nascimento, que resolvi escrever esse artigo.

Nele, procuro remeter os seus bordões a situações vivenciadas no nosso cotidiano, de tal forma que venhamos a imaginar um encontro do famoso Capitão com algumas pessoas que estão atualmente em evidência.

Comecemos:

O senhor acha justo, senhor Pedro Renato Borges, num país como o Brasil, onde existem milhares de crianças desnutridas e morrendo de fome, o senhor utilizar dos seus conhecimentos, adquiridos ao longo de anos de estudo, para criar uma forma de se obter maiores lucros com a venda de leite adicionando soda cáustica e água oxigenada ao produto?

O senhor acha justo, senhor Presidente Luis Inácio Lula da Silva, num país democrático como o Brasil, vossa excelência cogitar alterar a Constituição Federal, com o objetivo de permanecer doze anos no poder, tornando o nosso país numa nova Venezuela, onde os despautérios, cometidos pelo seu presidente Hugo Chavez, são legitimados por um regime autoritário e anti-democrático?

Os senhores acham justo, caros deputados, num país como o Brasil, onde quase a totalidade da população sobrevive com um salário-mínimo vergonhoso, contabilizando um total de míseros R$380,00, os senhores cogitarem insistentemente aumentar os vossos “ínfimos” proventos?

Os senhores acham justo, nobres operadores do direito, permitir que pobres inocentes apodreçam nesse inferno que vocês carinhosamente chamam de presídio, enquanto ladrões de colarinho branco esbanjam descaradamente o fruto do seu roubo, desfilando em carros importados e iates de luxo?

Os senhores acham justo, senhores governantes, manter ativos programas de saúde que mais matam do que salvam e programas de educação que nada ensinam, com o único e exclusivo intuito de enriquecer ilicitamente seus apadrinhados políticos que desviam tais verbas deixando milhões de inocentes no prejuízo?

Pois é, caros leitores, poderia me alongar por diversas linhas listando alvos passíveis de receber tal “corretivo”. Porém, concluindo, fica a imaginação de como seria bom se o Capitão Nascimento pudesse sair das telas de cinema e viesse, pessoalmente, vestido na sua temida farda preta e no tom de voz que lhe é peculiar, dar esse puxão de orelhas em algumas figuras nefastas e desprovidas de vergonha, para não fazer uso de um termo mais popular.

Até quando um herói da ficção irá figurar no imaginário dos brasileiros como o “salvador da pátria”?

Marcos Alpoim é acadêmico do 8º semestre de Direito.

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