CARTAS DE ESTOCOLMO
Um encontro com Renata Chlumska
Sandra Paulsen
Não sei se é minha vida, que é no mínimo bastante animada... se é a Suécia... ou se é a combinação da minha baianidade nagô com as circunstâncias. Mas o fato é que todo dia acontece alguma coisa interessante comigo ou no meu entorno.
Alguém disse, num comentário a um dos textos publicados no Blog, que aqui na Suécia as pessoas não vivem mais, mas sim demoram mais... Frente a uma queixa quanto à escuridão do inverno aqui, outro mandou-me fazer terapia...
Mas a verdade é que a vida na Suécia oferece múltiplas oportunidades para os que sabem aproveitá-las. E não estou falando de dinheiro ou conforto material não! Estou falando de crescimento pessoal, de aprender a escalar penhascos, sentir-se despencar, voltar a tentar a subida, achar que já chegou lá, voltar a cair, levantar de novo...
E eu, que no circuito Itabuna-Brasília-Santiago-Estocolmo, pensava haver enfrentado desafios e desbravado terrenos para mim desconhecidos, fiquei hoje de queixo caído ao ouvir uma palestra de Renata Chlumska.
Uma mulher pequena para os padrões locais, magrinha e muito bonita, nos seus 30 e poucos anos. Ela chega e nos conta, em um par de horas, como subiu várias vezes o Monte Everest ou desbravou o Kilimanjaro, como chegou ao topo do mundo aos 26 anos, como pedalou toda a estrada de volta entre o Nepal e a Suécia, como enfrentou a maior queda da sua vida, com a perda trágica do marido e companheiro de aventuras, e como seguiu em frente com o projeto que era dos dois: dar a volta aos Estados Unidos.
A gente se cansa só de contar...
Pois bem, na sua mais recente empreitada, a pequena e poderosa Renata percorreu, ao longo de 14 meses e meio, 18.200 km ao redor de 48 estados norte-americanos (só deixou de fora o Alaska e o Havaí). Ela remou em um caiaque de Seattle a San Diego, na Califórnia. Pedalou ao longo da fronteira americana com o México.
Voltou a remar pelo Rio Grande e pelo Golfo do México. Deu a volta à Flórida e rumou para o norte. Ao chegar quase no Canadá pelo Atlântico, pegou outra vez sua bicicleta e pedalou/remou ao longo da fronteira entre os dois gigantes americanos, até chegar triunfante e voltar a passar pela eclusa que lhe abriu as portas de Seattle novamente.
Pelo caminho, muitos desafios: das altas ondas do Pacífico aos escorpiões e cobras do deserto; do furacão Catarina na Flórida às incessantes chuvas e inundações na área de Boston. Entre julho de 2005 e setembro de 2006, essa jovem mulher sueca percorreu sozinha uma média de 40km diários, em jornadas de 10 a 12 horas de duração, dormindo numa barraca, sem tomar banho e sem lavar o cabelo!
E venceu!
Foram duas horas em que Renata falou de realizar sonhos, de trabalho árduo para chegar ao cume, de enfrentar obstáculos para se desenvolver como pessoa, de aprender a reconhecer suas fraquezas para melhor domá-las, e por aí vai...
E a mensagem final: não importa a dificuldade, há sempre uma maneira de seguir em frente!
Ah! Já ia esquecendo de dizer: não podendo levar sua bicicleta dentro do caiaque nas aventuras aquáticas, na parte terrestre Renata pedalou o tempo todo carregando os 100 quilos do barquinho a reboque.
E eu achando que havia enfrentado desafios...
Sandra Paulsen, casada, mãe de dois filhos, é baiana de Itabuna. Fez mestrado em Economia na UnB. Morou em Santiago do Chile nos anos 90. Vive há oito anos em Estocolmo, onde concluiu doutorado em Economia Ambiental.
Sandra Paulsen, casada, mãe de dois filhos, é baiana de Itabuna. Fez mestrado em Economia na UnB. Morou em Santiago do Chile nos anos 90. Vive há oito anos em Estocolmo, onde concluiu doutorado em Economia Ambiental.
Um comentário:
Que tal escrever alguns gibis?
Ou fazer bonequinhos de neve?
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