06 dezembro 2007

Nunca os jovens leram tanto

Odilon Pinto *
(Transcrito do Diário do Sul)

Nas salas dos professores, o que se repete indefinidamente, como uma onda no mar, é o refrão: os alunos não gostam de ler. Em casa e nas ruas, o que se reclama indefinidamente, como uma onda digital, é o slogan: menino, larga esse computador!

Enquanto jovens e adolescentes gastam horas e horas na frente de blogs e sites, lendo-os e escrevendo-os, os professores, presos a seus velhos conteúdos, ficam lamentando a predominância de alunos ágrafos.

O aluno que, diariamente, envia mensagens para dezenas de blogs, opinando sobre diversos temas, fica mudo e deixa o papel em branco, quando se trata de falar e escrever sobre os temas exigidos pela escola.

Enquanto os alunos já nascem navegando pelos sete mares da internet, muitos professores ainda residem, mentalmente, na Idade Média, sem terem notícias das grandes navegações que abalaram e estão abalando o mundo.

Navegar é preciso. Muitos continentes do saber ainda são desconhecidos e atraem o esforço dos jovens. Eles se aventuram por sites nunca dantes navegados, enfrentando monstruosos vírus, sucumbindo ao canto sedutor de sereias pornôs e até aos ataques dos piratas hackers.

Nossos jovens heróis estão ampliando os horizontes do que é conhecido e alargando as fronteiras do que é permitido. Enquanto isso, as professoras e professores, ainda limitadas e limitados aos horizontes da sacristia ou da reforma protestante, denunciam a chegada do apocalipse, o fim dos tempos, uma nova idade das trevas.

Professores e alunos vivem em mundos estanques, separados por séculos.

* Odilon Pinto é doutor e mestre em Lingüística, pela Ufba, e professor da Uesc.

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