03 dezembro 2007

Sem álcool? Mas não é só ao volante!

CARTAS DE ESTOCOLMO


Sandra Paulsen

Na Veja da semana passada saiu um artigo interessante sobre o hábito de beber e dirigir - e suas conseqüências nos Estados Unidos. Daí, é claro, eu fico quase com cócegas nos dedos para sentar ao teclado e contar como funciona a coisa aqui na Suécia.

Só que falar de consumo de álcool nos países nórdicos é assunto para um tratado e não para um post...

Mas vamos lá!

Para começar, aqui a venda de álcool é monopólio estatal. É, é isso mesmo: monopólio estatal!

Isso significa que só quem pode vender álcool, legalmente, é a empresa Systembolaget. O monopólio não inclui a chamada "cerveja leve", com 2,25% de álcool, ou a "cerveja do povo", com até 3,5% de teor alcoólico. Essas, sim, podem ser compradas em supermercados e mercearias. Mas potenciais compradores precisam mostrar carteira de identidade para comprovar que são maiores de 18 anos.

Qualquer outra bebida, como vinho, uísque, licores e cervejas mais fortes, só pode ser comprada no tal Systembolaget, que é como um supermercado de álcool.

A idade mínima para poder comprar bebidas alcoólicas é 20 anos. E a carteira de identidade é requerida para qualquer pessoa com cara de mais jovem. A política da empresa estatal é a de pedir que todos que aparentem ter menos de 25 anos apresentem identificação no caixa, sem esperar que a solicitação - que certamente virá - seja feita.

E não é raro que uma pessoa já "maiorzinha" tenha que mostrar sua documentação. Aconteceu comigo uma vez. Eu passei uma semana em estado de graça, achando-me uma menina de 20 anos!

Além disso, se o comprador já tomou umas e outras, a venda pode ser negada, da mesma forma que é negada a venda em casos de suspeita de futura revenda da mercadoria. Apesar da proibição, é comum pessoas maiores de 20 anos tentarem comprar álcool para repassar a amigos, parentes ou conhecidos menores de idade.

No "systemet", como são conhecidas as lojas, os horários de atendimento são estritos. A maioria só abre de segunda a sexta, entre 10 e 18 horas, e aos sábados, entre 10 e 13 horas. Aos domingos, ficam todas as lojas fechadas e é impossível comprar uma garrafa de vinho ou de aguadente que seja!

Recentemente, e talvez devido ao debate público sobre a conveniência ou não do monopólio, algumas lojas puderam ampliar o horário de atenção ao público até as 19 horas, por exemplo.

Mas o fato é que, sem comprovar a idade e sem planejamento, pode esquecer do jantarzinho em casa regado a vinho na sexta à noite, ou da caipirinha antes do almoço de domingo!

Por falar em caipirinha, a nossa cachaça custa o equivalente a 75 reais. E não é o litro não, são 750 ml! E se você gosta de caipirovska, não adianta nada: a vodka, produto sueco, também custa a mesma coisa!

Lá pelos idos de 1800, os suecos eram dos povos que mais consumiam álcool em toda a Europa.

Hoje em dia, estão entre os que consomem menos.

Argumenta-se por aqui que o aumento do consumo nos últimos anos se deve à entrada da Suécia na União Européia, quando o governo foi obrigado a flexibilizar algumas restrições à comercialização. Hoje em dia, é muito mais fácil viajar ao exterior e trazer bebidas alcoólicas na bagagem, por exemplo.
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O monopólio da venda de bebidas alcoólicas justifica-se por razões de saúde: a dependência do álcool é dos mais graves problemas desta sociedade! Diz-se que 90% dos suecos (homens e mulheres) bebem regularmente. E que cerca de meio milhão de pessoas bebem em quantidades que causam dano sério e imediato à saúde. Estima-se, por exemplo, que 6% das consultas ao sistema de saúde estão relacionadas ao consumo de álcool. Não vou nem falar da quantidade de pessoas aposentadas por antecipação ou com licença para tratamento de alcoolismo!
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O caso é que não é raro subir o elevador do prédio com um vizinho que durante a semana é sério, tímido e comedido, e que no sábado, em plena luz do dia (aqui, no inverno, isso é só modo de dizer, é claro), vai dizendo besteiras e caindo pelas tabelas...
A gente só reza para ele não vomitar logo ali!

Leitora do blog (do noblat), Sandra Paulsen, casada, mãe de dois filhos, é baiana de Itabuna. Fez mestrado em Economia na UnB. Morou em Santiago do Chile nos anos 90. Vive há oito anos em Estocolmo, onde concluiu doutorado em Economia Ambiental.

4 comentários:

Anônimo disse...

Pimenta:

Parabéns pela iniciativa de discutir no blog o problema da venda de bebidas alcoólicas e do alcoolismo.
O alcoolismo é o grande mal da nossa sociedade e precisa ser discutido com responsabilidade e profundidade.
Trata-se de uma doença insidiosa que vem ceifando muitas vidas produtivas e desestrurando famílias, e que precisa ser combatida pelos poderes públicos e pela sociedade como um todo.
Assim como já temos uma legislação restritiva para venda de cigarros, precisamos também ter uma legislação restritiva para a venda de bebidas alcoólicas.

Carlos Mascarenhas

Anônimo disse...

existe bar ou casa de show nesse lugar ???

Anônimo disse...

Farei um pequeno grande comentário depois.

Risomar Lima
deixeopovotrabalharisomar@gmail.com

Anônimo disse...

Itabuna tem mais bares que farmácia