Ser católico na Suécia
Sandra Paulsen
A gente está tão acostumada, no Brasil, a pensar a vida em termos católicos, que nem pensa nas diferenças entre religiões. Mesmo aqueles que professam outras religiões, estão "acostumados" à vida em um país ainda de maioria católica.
Agora vire tudo de cabeça para baixo! Pois é, a Suécia é um país luterano, se é que se pode dizer isso de uma sociedade tão secularizada. Mas as tradições, os costumes, são protestantes. O que quer dizer que eu sou parte de uma minoria!
Somos cerca de 85.000 fiéis no país todo (compare com os 7 milhões de luteranos), freqüentando 42 paróquias. Temos um bispo. Isto mesmo, unzinho!
Imagino que, dado o pequeno número de fiéis, não deve haver razão para o Papa nomear mais bispos.
O fato é que toda a Suécia é uma só diocese, e isto a partir de 1953! Antes, a partir de 1783, estamos falando apenas de um Vicariato Apostólico, com um vigário, e não um bispo, como líder.
Nosso bispo, Anders Arborelius, é o primeiro bispo sueco na Suécia! Os onze anteriores vinham de outros países, e só os últimos cinco residiam em Estocolmo.
Outra das curiosidades do ser católico aqui é que a participação na igreja é oficial, ou seja, requer uma inscrição individual e formal.
Individual, porque a liberdade de culto na Suécia exige que cada um possa optar por ter ou não uma religião. Ou seja, em princípio, é ilegal "forçar" a adoção de uma religião pelas crianças. A educação religiosa é praticamente proibida nas escolas e, para muitos, batizar os filhos numa igreja é um desrespeito à liberdade da criança. Assim, não há famílias católicas, mas indivíduos católicos...
Formal, porque inscrever-se em uma paróquia implica aceitar o pagamento mensal do dízimo. A inscrição na Igreja Católica local significa que, mensalmente, 1% da sua renda bruta será automaticamente descontado pelas autoridades fiscais, da mesma forma que se coleta o imposto de renda, e destinado à Igreja. Funciona da mesma forma para os inscritos na Igreja Sueca. Só assim, em princípio, uma pessoa tem direito a receber os sacramentos.
Essa foi das coisas mais difíceis para mim. Acostumada à nossa informalidade e a participar da coleta nas missas, ou de contribuir voluntariamente para a Igreja de acordo com minha consciência, o desconto do dízimo no salário foi uma surpresa agora já digerida.
Ocorre que a solidariedade cristã exige a contribuição de todos. Custa caro realizar uma missa aqui, principalmente durante o inverno com a necessidade de aquecimento! E estes custos têm que ser cobertos de alguma forma. Assim, o princípio é que, em benefício dos serviços prestados e das obras da Igreja, todo mundo deve contribuir.
As missas são realizadas em várias línguas e muitos preferem as rezadas em polonês, espanhol, inglês, ou algum outro idioma de origem.
Recentemente, tem-se observado um crescente número de conversões entre os suecos. Muitos se convertem ao islamismo, mas a cada ano são 100 os que se convertem ao catolicismo. É interessante descobrir "novos católicos" entre autoridades e pessoas famosas. O atual Ministro do Meio Ambiente, por exemplo, é católico!
Segundo um recente artigo de jornal, o que leva os suecos a mudarem ou adotarem uma religião é, quase sempre, o amor, o encontro com uma pessoa que professa outra crença. Mas alguns reconhecem que a Igreja Sueca vem perdendo a força e que outras religiões atraem ao oferecer uma imagem mais forte da presença divina.
Parece que, modernos ou não, secularizados ou não, nós seres humanos buscamos sempre algo mais. E alguns, principalmente quando desprovidos da família e dos amigos, da cultura, do clima e das paisagens do país de origem, encontramos consolo no Pai Nosso, mesmo quando rezado em outro idioma...
Leitora do blog (do Noblat), Sandra Paulsen, casada, mãe de dois filhos, é baiana de Itabuna. Fez mestrado em Economia na UnB. Morou em Santiago do Chile nos anos 90. Vive há oito anos em Estocolmo, onde concluiu doutorado em Economia Ambiental.